10/08/2022 - 15:05
A inflação desacelerou ligeiramente nos Estados Unidos em julho, de acordo com dados oficiais publicados nesta quarta-feira (10), após aumentos de juros decididos pelo Federal Reserve para esfriar a economia e uma queda nos preços da gasolina.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) caiu para 8,5% em 12 meses até julho, segundo dados do Ministério do Trabalho, abaixo do esperado pelo mercado.
Os dados são um alívio para o presidente Joe Biden, poucos meses antes das eleições legislativas de meio de mandato em novembro, após um aumento de preços que corroeu sua popularidade.
Impulsionado pelo agressivo gasto das poupanças dos consumidores durante a pandemia, escassez de bens por problemas nas cadeias de abastecimento globais, falta de mão de obra e a invasão da Rússia na Ucrânia que disparou o preço dos alimentos e do petróleo, a inflação marcou 9,1% em 12 meses em junho, o registro mais alto em 40 anos.
Na comparação mensal com junho, o IPC manteve-se inalterado, contrariando a forte alta registrada entre maio e junho. Se forem excluídos os preços mais voláteis de alimentos e energia, o chamado “núcleo” da inflação foi de apenas 0,3% no período considerado, o menor aumento em quatro meses.
“Hoje recebemos a notícia de que nossa economia teve zero por cento de inflação em julho. Zero por cento”, disse o presidente Joe Biden em um evento na Casa Branca.
“Vemos sinais de que talvez a inflação esteja começando a moderar”, comemorou, embora reconheça que o jogo não está ganho.
Embora o aumento dos preços tenha se desacelerado, os custos de consumo das famílias nos Estados Unidos continuam subindo, com o consequente impacto na popularidade do presidente.
A oposição republicana culpa o presidente pela escalada da inflação, depois de aprovar gigantescos pacotes de ajuda de US$ 1,9 trilhão durante a pandemia de coronavírus, apenas algumas semanas depois de assumir o cargo em janeiro do ano passado.
Os republicanos também voltaram a criticar a política econômica do presidente e alertaram que a aprovação no Senado de um projeto de lei da Casa Branca sobre clima e saúde, intitulado “Lei de Redução da Inflação”, terá efeito contrário ao anunciado por seu nome.
Após 18 meses de negociações, o Senado dos Estados Unidos aprovou o ambicioso plano de Biden no domingo. Apenas com seus votos, os senadores pró-governo deram o sinal verde para esse programa de investimento de US$ 430 bilhões, que agora retornará à Câmara dos Deputados para uma votação final, antes de ser promulgado por Biden.
– Caminho a percorrer –
Economistas alertam para não comemorar antes da hora a partir de um único relatório e temem que a moderação da inflação ligada à queda nos preços da gasolina possa ser compensada por um aumento nos aluguéis e nos preços dos imóveis.
“O maior problema é o que acontece com os custos de moradia e aluguéis”, escreveu Diane Swonk, economista-chefe da KPMG, em sua conta no Twitter.
A questão para o Federal Reserve e o governo é se será possível levar a inflação a níveis mais baixos sem arrastar a maior economia do mundo para a recessão, após dois trimestres consecutivos de contração econômica este ano.
Na tentativa de conter a alta dos preços, o Fed já elevou suas taxas de juros de referência quatro vezes – até 2,25-2,50% – em suas últimas reuniões de política monetária, com saltos que chegaram a 0,75 ponto percentual em duas ocasiões.
Autoridades do Fed deixaram claro que novos aumentos importantes estão na mesa para a reunião do próximo mês.
“Os dados de um mês são muito voláteis para pensar que o pico da inflação já passou”, disse Joseph Gagnon, do Peterson Institute for International Economics.
Wall Street disparou na abertura e, às 16h30 GMT (13h30 no horário de Brasília), o principal índice Dow Jones subiu 1,7%, enquanto o índice Nasdaq ganhou 2,63%, em uma resposta positiva aos dados do IPC.
O mercado de trabalho robusto, que empurrou a taxa de desemprego para níveis pré-pandemia de 3,5% em julho, tem um lado negativo: ainda há quase duas vagas abertas para cada trabalhador que procura emprego, e os custos trabalhistas para as empresas aumentaram acentuadamente. Isso eleva os salários e, portanto, eleva os preços.
Rubeela Farooqi, da High-Frequency Economics, alertou que os preços continuam altos.
“Além da força do mercado de trabalho e dos rendimentos, os dados apontam para outro aumento agressivo nas taxas (de juros) em setembro”, disse em uma análise.