24/08/2022 - 7:00
Sócio do banco de investimento BR Partners, Ricardo Lacerda está “moderadamente otimista” com as perspectivas econômicas. Para ele, independentemente do vencedor das eleições, vários fatores que atravancavam o crescimento começam a se resolver e há grandes chances de haver um ciclo de retomada “modesta”. Para ele, o Brasil é um país “condenado ao baixo crescimento”, entre outros motivos, pelo tamanho do Estado. Ao entender que a iniciativa privada é o que faz o País andar, Lacerda diz que o candidato Lula visto hoje “é o pior dos últimos 40 anos” e que as propostas do programa do PT ao governo desmontam políticas macroeconômicas que ele encara como conquistas. “Inflação baixa e política fiscal responsável não têm a ver com se posicionar à direita ou à esquerda.”
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o sr. está vendo as perspectivas do País?
Estou moderadamente otimista, independentemente do vencedor das eleições. Estamos saindo bem da pandemia, com recuperação econômica, e as empresas têm balanços saudáveis. Há certa deterioração do consumo, mas numa margem ainda aceitável. Também estamos chegando ao fim do ciclo de aperto monetário, com os números de inflação mais benignos. Devemos completar este ano com crescimento próximo de 2%. Mas temos de lembrar que o Brasil é um país fadado a um crescimento macroeconômico baixo.
Por quê?
Seja por conta do tamanho do Estado a outras ineficiências causadas por falta de infraestrutura, qualidade da educação e questões demográficas. Será sempre um país de crescimento baixo, no qual o grande motor da economia é o setor privado.
Como ficam os líderes das pesquisas eleitorais em relação a esse tema?
Num cenário de eleição de Jair Bolsonaro, a despeito de um discurso mais radical e de declarações que chocam na questão ambiental e de instabilidade institucional, não tem sido um mau governo nesse sentido. No lado da infraestrutura, da economia e da agricultura, houve políticas que têm ajudado o setor privado. O programa de redução do tamanho do Estado foi inferior ao que ele havia sinalizado na eleição de 2018, mas ainda assim positivo.
E o Lula?
O Lula tem essa questão como (um aspecto) negativo. Não sou antipetista, já votei no PT e no próprio Lula. Mas o Lula que estou vendo hoje é o pior que já vi ao longo dos últimos 40 anos. Está totalmente defasado sobre Petrobras, Banco do Brasil e sobre o tamanho do Estado. O caminho não é pegar o BNDES e fazer voltar a emprestar a grandes empresas. O Lula tem uma grande capacidade de se adaptar e se reinventar. Temos de torcer para que, se eleito, ele tire a fantasia de campanha e enfrente os problemas do País de forma mais responsável.
Mas é a mesma torcida para o governo Bolsonaro, não? Afinal, ele se elegeu defendendo a responsabilidade fiscal e acabou com o teto de gastos…
Obviamente, há espaço para melhorar. É preciso entender que fundamentos de política econômica são conquistas da sociedade: inflação baixa e política fiscal responsável não têm a ver com se posicionar à direita ou à esquerda.
As conquistas macroeconômicas estão garantidas?
A situação macro não está blindada. Está estabilizada. Deveríamos tomar alguns ganhos como valores da sociedade, como a responsabilidade fiscal. Ter certa disciplina fiscal que aponte para a estabilidade orçamentária, a defesa do poder da moeda, com uma política monetária responsável e uma inflação básica. Nos outros aspectos, haverá nuances e vieses mais à esquerda ou à direita, o que é legítimo.
E nas políticas microeconômicas?
Aí se percebe claramente a diferença da gestão do PT com a da política econômica atual, em relação às estatais, ao Banco Central, ao BNDES. Essas mudanças foram percebidas objetivamente nos resultados das empresas. Quando ouço o Lula no rádio falando que o Banco do Brasil ‘tem de ser bonzinho’, me assusta. Não deveria caber ao presidente da República a gestão de bancos e empresas estatais. O mal que o BNDES fez às finanças públicas brasileiras e para a gestão do mercado de capitais foi enorme. Se voltar, seria muito ruim.
Mas houve novos erros muito graves, como na condução de políticas em relação ao meio ambiente, não?
Esse é o grande lado negativo desse governo: na questão ambiental e de saúde pública. O discurso foi horroroso, e estamos pagando um preço caro.
Atrapalhou os negócios?
Lógico. Hoje, o espectro de investidores que olha para o Brasil é reduzido. Estão assustados com a violência do discurso desse governo nesses temas ambientais, sociais e de costumes.
Como vê as conversas sobre as eleições no Brasil?
Na margem, enxergo que o empresariado brasileiro é ainda majoritariamente bolsonarista. O mercado financeiro brasileiro está dividido entre Bolsonaro e Lula porque busca uma nova narrativa, e o Lula pode dar esse caminho para o mercado andar. Já no internacional, tanto nas grandes corporações quanto entre investidores, a rejeição ao Bolsonaro é muito alta. Isso leva a uma preferência ao Lula, em função do que o Bolsonaro representa.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.