26/08/2022 - 12:23
A Polícia Civil prendeu de forma temporária, na última quarta-feira, 24, quatro jovens suspeitos de terem participado da morte de Adolfo Duarte, ambientalista encontrado sem vida às margens da Represa Billings, no Grajaú, zona sul de São Paulo, em 6 de agosto. A decisão foi tomada depois que o Instituto Médico Legal (IML) determinou que a causa da morte de Duarte, também conhecido por Ferrugem, foi por asfixia mecânica e não por afogamento, conforme versão apresentada inicialmente pelos jovens.
Os quatro, identificados como Vithorio Alax Silva Santos, de 23 anos, Mauricius da Silva, de 23, Katielle Souza Santos, de 28, e Mikaelly da Silva Souza Moreno, de 19, estiveram com Duarte na última vez em que o ambientalista foi visto com vida, em 1.º de agosto. Na época, eles alegaram que teriam contratado Ferrugem para um passeio na represa, mas que um acidente com o barco levou o ambientalista para a água e ele teria desaparecido depois disso.
“Tínhamos até então, uma primeira versão apresentada pelos então investigados no sentido de que teria ocorrido um acidente e de que a vítima teria desaparecido e, portanto, morrido afogada. Todavia, o laudo necroscópico excluiu qualquer possibilidade de afogamento. A vítima não morreu afogada”, afirmou a delegada Jakelline Barros, do 101º Distrito Policial (DP) da capital, que está à frente das investigações.
Segundo Jakelline, o laudo necroscópico determinou que a causa da morte de Ferrugem foi por asfixia mecânica. O exame detectou lesões no pescoço, o que indicaria, de acordo com a delegada, que a vítima teria sofrido um golpe antes de morrer.
“Nesse sentido, toda a linha de investigação se alterou porque, outrora, tínhamos um possível homicídio culposo e, agora, diante do laudo necroscópico, temos uma investigação de homicídio qualificado. Qualificado tanto pela impossibilidade de defesa da vítima, como também pela asfixia”, explicou a delegada à reportagem.
Os dois rapazes estão detidos no 8.º DP, e as duas mulheres no 6.º DP, ambos distritos policiais destinados a prisões temporárias.
Na época da ocorrência, os quatro jovens declararam à polícia que eles contrataram Ferrugem para um passeio pela represa, mas durante a travessia o barco sofreu um solavanco e todos caíram na água.
Os suspeitos chegaram a afirmar que a vítima teria ainda ajudado uma das mulheres a voltar para a embarcação e, depois disso, não foi mais visto. Os bombeiros levaram cinco dias para encontrar o corpo de Ferrugem, localizado em 6 de agosto, próximo à primeira balsa da represa, na Avenida Dona Belmira Marin.
Com 41 anos, o ambientalista Adolfo Duarte era presidente da ONG Meninos da Billings, focada na preservação da região da represa por meio do trabalho de educação ambiental, e costumava frequentar a área.
“O próximo passo”, disse a delegada, “é a individualização da conduta e a descoberta dos motivos (do crime). A partir disso, podemos identificar autores, participantes, saber se alguém incorre no crime de falso testemunho ou uma coautoria de um homicídio qualificado. Vai depender do que vamos encontrar nas investigações”, disse.
Defesa alega inocência
À reportagem, o advogado de defesa André Nino afirma que a versão dos detidos é a mesma desde o início: de que são inocentes e a vítima morreu em decorrência de um acidente com a embarcação. “Eu estou convencido de que eles estão falando a verdade. E não será um laudo que vai me demover dessa minha certeza”, afirmou Nino.
O advogado também definiu a prisão temporária dos quatro como “totalmente injusta e injustificável”, uma vez que os suspeitos não apresentaram obstáculos para as investigações. “O requisito da prisão temporária é para que as pessoas investigadas não atrapalhem a investigação. No caso desse processo, todas as vezes que os jovens foram chamados para contribuir, eles foram”, argumentou. “Então, a prisão, em si, não tem uma justa causa.”
André Nino contesta também o laudo pericial que determinou que Ferrugem teria morrido por asfixia e, em paralelo, descartado a possibilidade de afogamento, como alegado pelos detidos. “O laudo pericial não é conclusivo. Fala-se em marca no pescoço, mas não descreve qual marca e como ela foi produzida. São meras conjecturas”, disse o advogado, que afirmou que a defesa vai exigir novos exames necroscópicos.
“Vamos pedir uma complementação do laudo da médica perita. E, se a defesa não estiver convencida, vamos pedir a exumação do corpo e que outros peritos façam o exame necroscópico da vítima, com auxiliares contratados pela defesa”, frisou.