27/08/2022 - 20:13
Confrontos armados entre apoiadores de dois governos rivais na Líbia deixaram neste sábado 23 mortos e 140 feridos em Trípoli e aumentaram o medo de que o caos político no país do norte da África possa se transformar em guerra.
Os combates ocorreram em diversos bairros da capital e se estendiam na noite de hoje para outras regiões. Seis hospitais foram atingidos pelos ataques, segundo o Ministério da Saúde, que divulgou o novo balanço das vítimas.
Dois governos disputam o poder na Líbia desde março: um baseado em Trípoli (oeste), liderado por Abdelhamid Dbeibah desde 2021, e outro liderado por Fathi Bashagha, radicado em Sirte, e que conta com o apoio do marechal Khalifa Haftar, que exerce grande poder no leste.
Dbeibah apareceu em um vídeo cercado de seguranças e cumprimentando combatentes do seu grupo. Ambos os governos se acusaram mutuamente pela explosão de violência mais recente, que causou danos significativos. Dezenas de veículos foram incendiados e prédios foram atingidos por tiros ou alvo de incêndios.
– Acusações –
Na noite de hoje, apenas milicianos circulavam pelas ruas de Trípoli e fumaça era vista em vários pontos da cidade.
Bashagha considera que o Executivo da capital é “ilegítimo” e desde que foi nomeado líder pelo Parlamento em fevereiro, tentou, sem sucesso, entrar em Trípoli. Recentemente, ele ameaçou recorrer à força.
Ele é apoiado pelo poderoso marechal Khalifa Haftar, líder militar do leste da Líbia, cujas forças tentaram conquistar Trípoli em 2019.
Dbeibah disse que só entregará o poder a um governo eleito e acusou Bashagha de “cumprir suas ameaças” de tomar Trípoli à força.
De acordo com seu Governo de União Nacional (GNU), os combates eclodiram após o fracasso de uma série de negociações para evitar um derramamento de sangue na cidade ocidental, conversas que Bashagha teria “abandonado no último momento”.
Bashagha negou que tais conversas tenham ocorrido e acusou a administração “ilegítima” de Dbeibah de “se agarrar ao poder”.
– Preocupação internacional –
Emadeddin Badi, analista do Atlantic Council, alertou que a violência pode aumentar rapidamente. “A guerra urbana tem sua própria lógica. É prejudicial tanto para a infraestrutura civil quanto para as pessoas, então, mesmo que não seja uma guerra longa, será muito destrutiva, como já vimos”, disse à AFP.
Para o especialista, a luta pode fortalecer Haftar e pessoas próximas a ele. “Eles se beneficiarão das divisões no oeste da Líbia e terão uma melhor posição de negociação quando a poeira baixar.”
A missão da ONU na Líbia pediu “o fim imediato das hostilidades”, citando “confrontos armados em andamento, incluindo bombardeios indiscriminados em bairros habitados por civis”. A embaixada dos Estados Unidos no país expressou preocupação com os confrontos. O Catar, por sua vez, pediu “a todas as partes que evitem uma escalada da violência e um banho de sangue e resolvam suas disputas por meio do diálogo”.
A tensão entre grupos armados leais a um ou outro dos líderes rivais aumentou nos últimos meses em Trípoli. Em 22 de julho, os combates causaram 16 mortes e deixaram meia centena de feridos.
A Líbia está há mais de uma década em crise e em repetidos episódios de conflito armado por mais de uma década após a queda do ditador Muammar Khadafi em uma revolta apoiada pela Otan em 2011. Desde então, o país teve uma dezena de governos e não consegue organizar eleições presidenciais, devido às fortes divergências.