Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira que não deixou de “falar a verdade” ao comentar a decisão do governo chileno de ter convocado o embaixador brasileiro em Santiago após ele ter feito acusações contra o mandatário chileno, Gabriel Boric, no domingo à noite.

“O presidente do Chile agora começou a chamar o seu embaixador, uma maneira que ele tem de mostrar a insatisfação comigo. Se eu exagerei ou não, não deixei de falar a verdade”, disse.

“A Constituinte do Chile vai na contramão do que qualquer país democrático quer. Isso é problema deles? É problema deles, mas o cidadão lá teve o apoio de um cara aqui do Brasil”, emendou ele, referindo-se indiretamente ao apoio que seu adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deu a Boric.

As declarações de Bolsonaro foram dadas em evento promovido pelo Instituto União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs) em Brasília.

Na véspera, o governo chileno havia feito a convocação do representante da chancelaria brasileira para prestar esclarecimentos. Essa medida, nos meios diplomáticos, é uma forma de passar profundo desagrado de um governo com alguma ação de outro país –no caso, com as declarações de Bolsonaro durante debate entre os candidatos à Presidência, quando tentava atacar Lula.

“Lula também apoiou o presidente do Chile, o mesmo que praticava atos de tacar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo nosso Chile?”, disse Bolsonaro, criticando ainda os governos da Venezuela, Argentina e Colômbia, durante o debate realizado pelo pool Band TV, TV Cultura, UOL e Folha de S.Paulo.

Com origem na política estudantil, Boric participou dos protestos de 2011 pela gratuidade do sistema de ensino superior e foi eleito deputado pela primeira vez em 2014. Apesar de apoiar as reivindicações dos protestos de 2019, quando ocorreram os fatos citados por Bolsonaro, o atual presidente do Chile não era parte do movimento, como quis dizer o presidente brasileiro.

“São absolutamente falsas e lamentamos que, em um contexto eleitoral, se fale das relações bilaterais através da desinformação e das notícias falsas”, disse a ministra de Relações Exteriores chilena, Antonia Urrejola, na segunda-feira.

Em uma nota, a chancelaria chilena reforçou que as declarações de Bolsonaro são “inaceitáveis e não condizem com o trato respeitoso que deve haver entre chefes de Estado, e nem com as relações fraternas entre os dois países latino-americanos”.

Durante sua campanha à reeleição, Bolsonaro tem feito seguidas críticas aos governos de esquerda da região, muitas vezes apontando problemas econômicos de Venezuela e Argentina.

O presidente aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno, atrás de Lula.

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