O segundo semestre é, naturalmente, um período em que o mercado de trabalho se torna um ambiente ainda mais estressante. Nos últimos meses do ano as empresas buscam pressionar os funcionários para baterem metas – ainda mais no setor de vendas, que aproveita as datas sazonais como Black Friday, Natal e Ano Novo –, ou pressionam por resultados em prazos que podem ser ainda mais apertados por conta das festas e férias coletivas, por exemplo.

A incerteza econômica, devido ao cenário político instável em ano de eleições, somada ao medo de demissão também contribuem para que o estresse no trabalho seja ainda mais acentuado, conforme constata a médica e professora da FGV EAESP, especialista em educação corporativa e gestão de pessoas, Laura Maria Cesar Schiesari.

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“Além disso, passamos por um momento difícil, que é a pandemia de Covid-19, que exige uma adaptação muito grande”, explica a especialista, se referindo aos modelos de trabalho home office e híbrido que foram adicionados às rotinas dos trabalhadores.

Um ambiente de trabalho hostil contribui para o adoecimento mental do quadro de funcionários. Uma em cada quatro empresas afastou colaboradores por adoecimento mental nos últimos 12 meses, segundo um estudo feito pela plataforma de recrutamento Empregos.com.br. 

A ansiedade é apontada como o fator que mais impacta a força de trabalho (41%), seguida pelo estresse (31,9%), depressão ou síndrome do pânico (26,7%) e burnout (9,2%).

A pesquisa ainda mostrou que houve um aumento de 49,4% no interesse das empresas em implantar ações de saúde e bem-estar na rotina de seus colaboradores.

“Com o isolamento social e o aumento de empresas aderindo ao modelo de home office, ficou difícil para algumas pessoas separarem os problemas pessoais dos profissionais, pois agora eles ocupam o mesmo espaço”, explica Leonardo Casartelli, diretor-geral do Empregos.com.br.

Quais são os sintomas do estresse no trabalho?

Para Tatiana Pimenta, CEO e cofundadora da Vittude, desenvolvedora de programas de saúde mental para empresas, estresse nem sempre deve ser associado a algo ruim.

“Estresse nada mais é do que uma resposta física do nosso organismo a um estímulo”, começa ela. “O problema surge quando nosso corpo entra em estado de estresse em situações inadequadas e por tempo prolongado. Isso pode acontecer, por exemplo, quando um time está sujeito a metas inalcançáveis, a uma carga horária excessiva de trabalho ou mesmo a sistemas de gestão de desempenho incoerentes”, explica.

Pimenta lista alguns sintomas que podem demonstrar quando o estresse afeta o desenvolvimento do funcionário em uma organização.

Cognitivos

  • Problemas de memória
  • Dificuldade de manter-se concentrado
  • Agitação, inquietação e pensamentos acelerados 
  • Preocupação excessiva e constante
  • Pessimismo, visão distorcida da realidade 

Físicos

  • Dor de cabeça constante, enxaqueca, dores musculares e tensão nos ombros 
  • Alterações no sistema gastrointestinal, diarreia, constipação, mal estar no abdômen, azia, queimação no estômago, etc.
  • Náuseas e/ou tonturas
  • Dores no peito, batimento cardíaco acelerado
  • Queda na imunidade 
  • Estar sempre cansado
  • Perda de libido 

Emocionais

  • Alterações no humor
  • Irritabilidade
  • Dificuldade para relaxar
  • Sensação de sobrecarga
  • Sentimento de solidão/isolamento
  • Infelicidade/choro fácil/depressão

Como evitar o estresse

Ao reconhecer alguns desses sintomas, Schiesari indica que o funcionário faça uma análise sobre quais seriam as possíveis causas desse estresse e encontrar modos de gerenciá-lo. 

“É importante olhar para a equipe que trabalha e ver o que é possível negociar com ela, além de ter clareza sobre o que pode ser pedido e esperado das lideranças”, sugere a médica.

“Ao tomar consciência do que está causando o estresse, é possível agir para se proteger e diminuir a carga de estresse. A gente convive com verdadeiras e falsas urgências, por isso é preciso saber o que é realmente urgente para priorizar”, acrescenta.

Manter hábitos saudáveis como ter uma boa noite de sono, praticar exercícios físicos e/ou meditação, cuidar da alimentação e evitar hábitos como beber e fumar também são algumas atividades que podem fazer com que o indivíduo tenha uma vida mais equilibrada, de acordo com Pimenta e Schiesari.

A CEO da Vittude ainda indica um detox digital para reduzir o estresse. “Ficar horas diante das mídias sociais é um dos comportamentos mais nocivos que vemos hoje em dia. Recomendo deixar o celular, notebooks, Netflix de lado depois das 21h”.

Ela explica que o excesso de rede social e até mesmo a luz emitida pelos equipamentos contribui para um sono pior, “sem contar nos problemas oftalmológicos, como síndrome do olho seco e irritações”.

Estar próximo de círculos sociais como amigos e familiares também ajuda para desabafar e aliviar as cargas de estresse, segundo a professora da FGV, mas a busca por um profissional como um psicólogo ou terapeuta também é indicada. “Até mesmo um médico da família ou um médico mais próximo pode ajudar”, sugere.

“É preciso saber reconhecer limites e entender também se aquela empresa possui valores que o funcionário admira e acredita. Empresas e líderes que estimulam um ambiente mais saudável, que não seja só no discurso, e permitem que o trabalhador tenha vida mais equilibrada percebem o benefício de pessoas mais adaptadas e satisfeitas com o trabalho e como isso impacta na redução dos afastamentos e nas entregas em prazos adequados”, finaliza.