09/09/2022 - 12:34
Se a rotina no trabalho está sendo marcada pela dificuldade de concentração, sonolência, cansaço e lentidão nas tomadas de decisões, mesmo sem nenhum esforço extra aparente nos dias anteriores, talvez o problema possa estar acontecendo enquanto você dorme.
A apneia do sono é uma condição conhecida como uma das principais causas do ronco, aquele ruído que ninguém gosta de admitir que emite durante à noite. Quem sofre com apneia do sono acaba tendo pausas na respiração ao dormir, porque o indivíduo está tendo alguma obstrução nas vias respiratórias e, portanto, dificuldade para respirar.
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No entanto, o chefe da disciplina de Neurologia da Unifesp e chefe do setor de Medicina do Sono do Hospital São Paulo, Gilmar Fernandes do Prado, afirma que, por vergonha ou desconhecimento, muitas pessoas não sabem ou não admitem que roncam.
Além disso, nem todas as pessoas que têm apneia do sono roncam, e o ronco pontual também não quer dizer que a pessoa tenha a condição – o que dificulta ainda mais o diagnóstico.
“Culturalmente se instalou a crença de que pessoas sonolentas têm apneia do sono. Mas só de 20% a 30% das pessoas com essa condição apresentam esse sintoma. O resto da população pode ter, e não ser diagnosticada. E são essas pessoas que vão ter uma série de dificuldades no trabalho sem saber o que causa”, afirma Prado.
O que é apneia do sono?
Um estudo realizado pelo Instituto do Sono, em São Paulo, revela que 42% dos paulistanos roncam três vezes por semana ou mais, e 32,9% dos paulistanos têm apneia do sono.
A apneia do sono se caracteriza por interrupções recorrentes da respiração durante o sono. A médica e pesquisadora do Instituto do Sono Sandra Doria explica que quem tem essa condição acaba apresentando obstruções do ar, que passa desde a entrada pelo nariz até os pulmões, enquanto dorme. Esse processo pode provocar o ronco.
“Com a interrupção recorrente na respiração, o organismo tenta driblar o problema e se usa um mecanismo de descarga adrenérgica, que faz com que a pessoa acelere o coração para despertar e sair do problema”, afirma Doria.
No entanto, esse despertar é, na maior parte das vezes, superficial. O que faz com que o sono seja fragmentado. “A pessoa fica em um ‘acorda e dorme’, mas muitas vezes não é um ‘acordar’ consciente”.
Essa situação acaba fazendo com que não se tenha a quantidade de sono profundo necessária para acordar descansado, contribuindo para que a pessoa acorde pouco produtiva.
Prado complementa a colega dizendo que não necessariamente a doença vai acometer pessoas gordas, como é comumente imaginado. “A obesidade aumenta a chance, mas não é necessariamente um pré-requisito”.
O professor cita outras condições que podem elevar o risco de ter apneia do sono. “Hipertensão arterial ou dificuldade de controlar doenças de base, como diabetes, colesterol alto, ácido úrico alto, glicose alta, são sintomas que fazem suspeitar que o indivíduo tenha esse problema”.
Como a apneia do sono atrapalha o trabalho?
A interrupção das vias aéreas durante o sono também provoca falta de oxigenação, dificultando o bom funcionamento dos órgãos vitais. E a flutuação da taxa de oxigênio provoca inflamação no cérebro, segundo Prado.
“O indivíduo com cérebro inflamado apresenta alterações de funções executivas e de atenção”, aponta o médico, que fala sobre a dificuldade ao tomar determinadas decisões diante de atividades laborais, sonolência, falta de memória e percepção no ambiente de trabalho como consequências da apneia do sono.
Ele afirma que a condição pode afetar seriamente profissionais que dependem de tarefas motoras, como motoristas e funcionários da indústria, e criatividade.
“Além disso, temos estruturas cerebrais voltadas a aspectos e condições emocionais. O indivíduo com apneia têm dificuldade de lidar com situações emocionais, se torna mais impulsivo, ríspido, agitado, agressivo, e consequentemente uma pessoa mais sisuda, fechada, menos interativa, criando um ambiente de trabalho ruim em torno dele, podendo desencadear um quadro de depressão”, avalia o chefe do setor de Medicina do Sono do Hospital São Paulo.
Tem cura?
Se após uma noite de sono você não está acordando com energia, mesmo que tenha dormido a quantidade de horas recomendada – de 7h a 9h para adultos –, é preciso buscar um profissional especialista em medicina do sono para uma investigação na raiz do problema.
O exame mais comum para definir a condição é a polissonografia, realizado durante uma noite inteira, no qual são medidas variáveis eletrofisiológicas enquanto a pessoa dorme.
A partir dos resultados é possível fazer o diagnóstico e saber qual é o motivo que causa a apneia do sono. Os tratamentos dependem da causa, que pode ser associada à alteração anatômica da via aérea (aumento de amídala, adenoide, desvio de septo, etc), aumento do volume da língua, flacidez muscular, obesidade, entre outros.
“É muito importante que chefes, empresários, donos de empresa, prestem atenção no sono dos empregados”, indica Doria.
“Nada melhor do que procurar um médico do sono para descobrir o que pode estar acontecendo por trás de funcionários aparentemente ‘preguiçosos’, que na verdade não é preguiça, é falta de energia, secundária a uma noite de sono não reparadora”.