09/09/2022 - 19:01
Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – Um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) matou a facadas um simpatizante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na quinta-feira, após uma briga entre ambos motivada por divergência política em uma chácara na zona rural no município de Confresa, no Mato Grosso, informou a Polícia Civil do Estado.
Segundo o boletim de ocorrência lavrado pela polícia, Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos, matou seu colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 42 anos, com golpes de faca na manhã de quinta. O suspeito foi levado para a delegacia de polícia, onde confessou o crime e foi autuado em flagrante.
A Polícia Civil pediu à Justiça a conversão da detenção em flagrante para prisão preventiva, sustentando que há prova da existência do crime, indícios de autoria e perigo de deixar o autor em liberdade. Durante a audiência de custódia, o Ministério Público manifestou-se também pela prisão preventiva.
O juiz Carlos Eduardo Pinheiro Bezerra de Menezes acatou o pedido. Na decisão, Bezerra de Menezes relatou que os envolvidos estavam no local fumando cigarro, começaram a falar sobre política, cada um defendendo o seu candidato. A discussão seguiu sem chegar a um ponto comum, evoluindo para uma luta física até que Rafael tirou a vida da vítima “brutalmente”, conforme o magistrado.
É a segunda vez neste ano que um apoiador de Bolsonaro mata um simpatizante de Lula, em mais um incidente de uma campanha tensa e pontuada por episódios de violência política. Em julho, em Foz do Iguaçu, no Paraná, o guarda municipal e dirigente local do PT Marcelo Arruda foi assassinado a tiros pelo policial penal federal bolsonarista José Guaranho durante sua festa de aniversário de 50 anos, que tinha o ex-presidente como tema. Antes de atirar, Guaranho chegou ao local atacando Lula e o PT e com palavras de ordem pró-Bolsonaro, provocando uma discussão.
Em entrevista coletiva nesta sexta-feira no Rio de Janeiro, Lula condenou o caso de violência política e cobrou das autoridades que apurem se existe alguma forma de estratégia política por trás dos assassinatos.
Para o ex-presidente, o país caminha para uma “selvageria jamais vista” e as duas mortes de petistas por apoiadores de Bolsonaro sugerem que as pessoas estão sendo induzidas a um comportamento violento.
Mais cedo, ele já havia lamentado a morte do apoiador por meio do Twitter. “O Brasil não merece o ódio que se instaurou nesse país. Meus sentimentos à família e amigos de Benedito”, afirmou na publicação.
O Palácio do Planalto ainda não comentou o incidente.
Bolsonaro, que cumpre agenda de campanha, chegou a participar de eventos públicos, mas não mencionou o assassinato do petista. O presidente referiu-se ao PT, em comício no Tocantins, como “praga” e afirmou que sua reeleição irá varrer a sigla para o “lixo da História”.
MAIS TENSÃO
Em outro episódio de tensão, um apoiador de Bolsonaro ficou com um ferimento na cabeça e disse ter sido agredido por militantes petistas que aguardavam a chegada de Lula a um evento com evangélicos em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, na manhã desta sexta-feira.
O apoiador do presidente chegou ao local em seu carro, com vários adesivos alusivos a Bolsonaro e com ataques a Lula, e afirmou que apoiadores do petista o atacaram. Após uma discussão, ele foi retirado do local por agentes que faziam a segurança do evento. Depois do tumulto, um grupo de militantes bolsonaristas chegou ao local entoando palavras de ordem, mas não ocorreram incidentes.
A diretora das Américas da Human Rights Watch, Juanita Goebertus Estrada, avalia que todos os candidatos na disputa deveriam, na verdadem codenar “energicamente” tanto o assassinato da quinta-feira quanto “quaisquer atos de violência política, intimidação ou ameaça no período eleitoral”.
“Esse chamado é particularmente importante no contexto altamente polarizado das eleições brasileiras. Os brasileiros merecem eleições pacíficas e deveriam poder se engajar em discussões políticas sem medo de violência ou retaliação por suas opiniões”, afirmou.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello, em Brasília; Pilar Olivares, em São Gonçalo; e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)