O investidor que carrega papéis da Vale em seu portfólio está em meio a um breu no que se refere à rentabilidade. Apesar do bom desempenho operacional da mineradora, os papéis vêm oxidando ao longo de 2014. Até quinta-feira 27, a queda era de 31,4%. Isso, mesmo com o avanço de 139% do lucro líquido da empresa no terceiro trimestre do ano, para R$ 7,9 bilhões. Mas há uma luz no fim do túnel. “Houve muita volatilidade nos preços do minério de ferro e vai haver uma correção”, afirmou Murilo Ferreira, presidente da Vale, na semana passada. “Essa correção virá com o fechamento de minas ineficientes que apresentam custo alto e pouca qualidade”, acrescentou.

Em 2014, o preço da commodity registra um recuo de 49%, mas a expectativa é de que, no ano que vem, volte para patamares anteriores, de US$ 85 a US$ 90, devido à demanda por insumos por parte da China. É com projeções otimistas como essa que a equipe de análise do banco JP Morgan coloca as ações ordinárias da Vale como as queridinhas entre todos os papéis negociados na América Latina. “A mineradora está muito bem posicionada e deve se beneficiar de um cenário com o real mais fraco”, afirma Rodolfo Angele, analista da instituição, em relatório.

“A empresa possui ativos de alta qualidade e isso deve levar a um incremento do fluxo de caixa e de receita.” Segundo cálculos de Henrique Kleine, analista da Magliano Corretora, o custo de produção da Vale equivale a um terço do preço de venda. “Somente por isso percebe-se que o lucro é enorme”, diz. “No ano, os papéis sofreram por questões políticas, relacionadas às eleições presidenciais. É uma de nossas ações preferidas para 2015”, diz. O preço-alvo projetado, em 12 meses, é de R$ 29,72, o que representa uma valorização de 50% ante o valor negociado na quinta-feira 27.

Mas nem todas as empresas dessa cadeia produtiva têm um prognóstico positivo. A CSN, por exemplo, deve ter um 2015 tão difícil quanto 2014, segundo os especialistas. “No caso do aço, o excesso de capacidade global tem deprimido os preços e no Brasil a demanda está particularmente fraca, já que o setor de construção civil teve um ano difícil”, diz Angele. No ano, as ações da siderúrgica derretem 57,1%, refletindo os números operacionais mais debilitados. Saiu de lucro para prejuízo de R$ 250,1 milhões, no terceiro trimestre, e a receita líquida recuou 16,7%, para R$ 3,88 bilhões (leia mais sobre a CSN aqui).

Outras siderúrgicas também enfrentam dificuldades na bolsa. É o caso da Usiminas, que cai 44,9% no ano, e da Gerdau, que recua 40,6%. As empresas de materiais básicos listadas na BM&FBovespa, que estruturalmente estão indexadas a preços de commodities, registraram queda ao redor de 20% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), entre junho de 2011 e junho de 2014, de acordo com levantamento da consultoria paulistana Risk Office feito para a DINHEIRO. Os materiais básicos reúnem setores como embalagens, madeira e papel, materiais diversos, mineração, químicos e siderurgia.

“Fizemos análise de todos os segmentos da bolsa e esse é o que teve maior impacto no Ebitda. Uma das explicações é que as empresas foram impactadas pela volatilidade das commodities”, diz o consultor sênior Daniel Pacífico. Outra conclusão do estudo da Risk Office é que esse segmento teve o maior aumento nas dívidas. O indicador dívida líquida sobre Ebitda passou de 0,83, em 2011, para 1,85, em 2014. Isso revela que, para o cumprimento de todos os passivos financeiros, as companhias terão de aumentar o lucro para que o indicador volte ao patamar de três anos atrás.

“O Ebitda caiu e a dívida aumentou em um ambiente de alta volatilidade. Nesse sentido, é preciso dar mais atenção à gestão de risco”, diz Pacífico. “A economia está crescendo pouco e há dúvidas com a recuperação da Europa. Há quem não veja um cenário tão positivo para 2015”, acrescenta. De acordo com o Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central, a expectativa dos economistas consultados é de que a inflação no ano que vem esteja no topo da meta e que o crescimento do Produto Interno Bruto fique por volta de 1%. Para Natália Cotarelli, economista do Banco Indusval & Partners (BI&P), os juros devem ficar ao redor de 12% e o câmbio deve fechar o ano que vem na casa dos R$ 2,60.

“O minério de ferro não tem mais espaço para se desvalorizar, principalmente porque está atrelado à demanda da China, que vai continuar investindo”, afirma. Outra commodity que não deve sofrer com volatilidade acentuada, em 2015, é a celulose. É por isso que, apesar de a equipe de análise do Santander não estar muito otimista com empresas ligadas a matérias-primas, a Suzano está entre as escolhidas para 2015. “O preço da celulose está mantido e 65% da receita é dolarizada. Com isso, as ações devem subir”, diz Daniel Gewehr, estrategista-chefe de pesquisa do banco espanhol.

Sua expectativa é de que a taxa de câmbio fique em R$ 2,71 no ano que vem, em dezembro. A dúvida fica por conta de outra commodity: o petróleo. No dia da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), na quinta-feira 27, o barril atingiu o patamar mais baixo dos últimos quatro anos, cotado a US$ 69,02, com o anúncio de que os produtores de petróleo do Golfo, liderados pela Arábia Saudita, não vão reduzir a produção para tentar aumentar o preço. “Foi uma grande decisão”, disse Ali al Naimi, ministro saudita do Petróleo. Já o ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Rafael Ramirez, saiu visivelmente irritado com a decisão.

A Opep responde por um terço da produção global de petróleo. Se o grupo reduzisse as exportações sem uma ação similar dos concorrentes, isso significaria redução da fatia de mercado, inclusive nos Estados Unidos. Como isso não aconteceu, o que se espera é um acirramento por participação no cenário mundial. O barril de petróleo mais barato, associado a questões políticas e à gestão empresarial, têm levado o preço das ações da Petrobras para o fundo do poço. No ano, os papéis caem 17,4%. “Quando se compara o valor de mercado na bolsa com o valor patrimonial divulgado no segundo trimestre, percebe-se que há enorme diferença. Pode existir uma oportunidade de mercado”, diz Kleine. “Mas é bom ficar em alerta.”