18/03/2009 - 7:00
NEGÓCIO BEM COSTURADO: em março de 2008, Alexandre Menegotti (à esq. na foto maior) comprou as marcas do estilista Tufi Duek, como a Forum
O UNIVERSO DA MODA É RECHEADO DE personalidades e egos inflados que disputam a atenção do público custe o que custar. É raro encontrar profissionais que atuem nesse segmento e tenham aversão aos holofotes. Mas é justamente um jovem avesso aos flashes e à badalação quem tem dominado as passarelas brasileiras nos últimos tempos. Você pode não ter ouvido falar de Alexandre Menegotti, 37 anos, mas certamente já viu ou vestiu as marcas que ele comanda. À frente do grupo catarinense AMC Têxtil, empresa familiar fundada na década de 80 por seus pais, ele administra os passos das grifes Colcci, Sommer, Carmelitas, tem a licença da marca Coca-Cola e, na quarta-feira, 18 de março, comemora um ano da compra do grupo TF, com as marcas Forum, Forum Tufi Duek, Tufi Duek e Triton – movimento que consolidou o grupo como o maior do Brasil no segmento de moda premium. “As marcas adquiridas cresceram mais de 40%”, disse Menegotti à DINHEIRO, em uma de suas raras entrevistas, fazendo uma análise sobre as novas grifes do grupo. “Quase todo o processo de sinergia entre o AMC Têxtil e as marcas da Forum já foi feito. Agora, restam pequenos detalhes, é um processo no qual precisamos transferir culturas diferentes e isso sempre é difícil para as pessoas envolvidas.”
As culturas são diferentes principalmente quando o assunto são as vendas diretas ao consumidor. “Somos mais voltados ao varejo, enquanto o AMC Têxtil é mais para o atacado”, explica o estilista Tufi Duek, que continua no comando artístico das grifes que criou e que, de acordo com estimativas do mercado, vendeu suas marcas por R$ 250 milhões. “Toda a área administrativa já foi integrada, mas acredito que a junção completa vai durar mais um ano.” É pouco tempo, se comparado ao tamanho do grupo. Com cinco fábricas, 2,6 mil funcionários, exportação para mais de dez países e 179 lojas (102 da Colcci, 45 da Forum, 23 da Triton e 9 Forum Tufi Duek), o AMC Têxtil converteu-se em um colosso cujo faturamento é estimado em mais de R$ 800 milhões. Especialistas de mercado, porém, observam que algumas de suas marcas se sobrepõem e disputam o mesmo cliente. “A Colcci e a Forum são grifes de jeanswear”, diz André Robic, diretor do Instituto Brasileiro de Moda. “Não brigam pela maioria dos clientes, alguns podem ser comuns, mas as identidades das marcas são muito diferentes no produto e no marketing”, explica Menegotti.
A modelo britânica Kate Moss (à esq.) é a estrela da campanha da Forum e a top model Gisele Bündchen é praticamente uma embaixadora da Colcci
Enquanto a Colcci é uma grife mais jovem, a Forum é voltada a um público consumidor adulto e com maior poder aquisitivo. Mas o que, definitivamente, une as duas marcas é o modo de fazer marketing. Ambas são representadas por duas das maiores modelos do mundo. A Colcci tem como garota- propaganda a top model Gisele Bündchen e a Forum faz suas campanhas com a britânica Kate Moss. O objetivo é chamar a atenção para as marcas e transportar ao máximo a imagem de glamour das musas das passarelas para as roupas. O curioso é que Menegotti é o oposto disso. Em festas e eventos sociais, costuma ficar de lado, sem chamar a atenção. “A imagem da marca é a do estilista. Eu sou apenas o administrador”, diz. Quem já esteve em uma mesa de negociação com ele afirma que sua principal característica é a objetividade. “Ele sabe o que quer e o que não quer com muita clareza”, diz Paulo Borges, que organiza o São Paulo Fashion Week. Apesar de tímido, joga duro quando é confrontado. “O melhor modo de defini-lo é o ame-o ou deixe-o”, diz um consultor que não quis se identificar. A rigor, Menegotti não tem paciência para o ego exacerbado de alguns estilistas.
Ele conquistou essa fama nos bastidores da moda ao incorporar ao AMC Têxtil marcas de prestígio em uma velocidade impressionante. Como possuía a Malharia Menegotti, sabia que precisava de grifes que agregassem valor ao negócio. E, aos moldes do grupo Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH), que possui um pórtfólio de mais de 60 marcas de luxo, Menegotti, então com pouco mais de 20 anos de idade, foi às compras. Em 2000, vislumbrou na Colcci, grife com dívidas de R$ 15 milhões e uma imagem desgastada, a chance de ouro. Tirou R$ 28 milhões do bolso, comprou a marca, investiu em marketing, passou a fabricar os produtos e reposicionou a grife. Como num passe de mágica, a Colcci tornou-se lucrativa novamente e isso abriu o apetite para novas aquisições que vieram, em 2004, com a Sommer; em 2005, com a Carmelitas; e, no ano passado, com as grifes de Tufi Duek.
Esses movimentos inauguraram, de certa forma, um processo de consolidação na indústria de moda. “Ele foi um dos precursores no Brasil”, diz Robic. Além de ganho de escala, é possível aproveitar a sinergia entre as marcas e conquistar maior poder de fogo para brigar com as grifes internacionais. A julgar pelos últimos movimentos do AMC Têxtil, há espaço para mais marcas dentro do grupo. “Para quem quer comprar, os preços estão mais baixos”, diz Paulo Borges. Se depender de Menegotti, o grupo ainda vai fechar outros negócios. Indagado por DINHEIRO sobre suas maiores façanhas, ele é enfático: “Ainda não posso falar em derrotas e conquistas”, diz o jovem empresário. É sinal de que ainda tem muito a fazer