02/02/2001 - 8:00
O Carrefour que invadiu os centros urbanos e se tornou líder no mercado brasileiro vendendo de refrigerantes a sabão em pó todo mundo conhece. O que pouca gente sabe é que uma das maiores redes de hipermercados do mundo também tem o seu lado rural. E só aqui, no Brasil. A empresa francesa se prepara para a primeira colheita de uvas orgânicas (sem agrotóxico) em duas das quatro fazendas que tem na região do Vale do Rio São Francisco. Os primeiros cachos começam a ser colhidos no mês que vem. Serão uvas sem semente e mais resistentes que as outras variedades. O mercado interno deve ficar com 60% da colheita e os 40% restantes serão embarcados nos portos de Salvador (BA) e Complexo de Suape (PE) para a Europa. A previsão é que a produção total do Carrefour em 2001, entre uvas orgânicas e não-orgânicas, chegue a nove mil toneladas. As quatro fazendas, juntas, somam 500 hectares. Três propriedades ficam em Petrolina e uma em Casa Nova (BA). Até agora, os investimentos na região já chegaram a R$ 12,5 milhões. ?Já podemos nos considerar os maiores do mundo neste tipo de cultura?, afirma Arnaldo Eijsink, diretor de agronegócios da empresa. Com a safra deste ano, o Carrefour deve se tornar o maior produtor de uva orgânica do Brasil.
Não é difícil entender o porquê do interesse de grupos como o Carrefour no Vale do São Franscisco. Ao contrário da Região Sul, onde se concentra boa parte da produção da fruta, os agricultores de Petrolina e Juazeiro (BA) conseguem duas safras por ano. Com sol constante e a umidade da terra controlada por meio da irrigação, é possível até programar quando se quer ter uva no pé. Dessa forma, um exportador pode colher as uvas quando o mercado internacional estiver desabastecido e obter preços mais atraentes. Para completar, as características de clima tornam as frutas mais doces.
A filial brasileira do Carrefour é a única do grupo que diversifica seus negócios investindo em agropecuária. ?Os maiores acionistas da empresa nasceram em regiões agrícolas da França. Quando começaram aqui no Brasil, viram o nosso potencial e resolveram apostar na produção?, explica o diretor de agronegócios. Além de plantar uvas no Vale do São Francisco, a rede varejista também é dona de três fazendas de gado no Mato Grosso, onde cria 45 mil animais. Em outubro do ano passado Eijsink decidiu pôr em prática na pecuária o que fez com as uvas. Ou seja, os bois da multinacional também vão receber tratamento mais natural. Para isso, métodos convencionais de tratamento já fazem parte do passado. Nada de medicamentos para combater problemas como carrapatos ou a mosca do chifre. Agora é a homeopatia que resolve tudo. O processo está apenas começando. A carne só vai ganhar o selo do Instituto de Biodinâmica (IBD) ? órgão que certifica os produtos orgânicos ? daqui a três anos. O período é uma espécie de quarentena para que não haja mais resíduos de remédios nos animais ou herbicidas no pasto. ?Se o Brasil transformar sua carne em orgânica, vai derrubar todas as barreiras internacionais para aumentar as exportações?, aposta Eijsink.