Está cada vez mais claro que todo processo de transformação digital não diz respeito à tecnologia em si, mas, acima de tudo, está relacionado à liderança e sua capacidade de realmente engajar e qualificar pessoas, durante toda a jornada. Segundo várias consultorias internacionais, a taxa de sucesso das assim chamadas Transformações Digitais implementadas em diversos segmentos não ultrapassa 5%; isto é, apenas 5% das companhias que iniciaram um processo de transformação buscando se adequar à nova realidade digital e à centralidade dos clientes alcançaram ou superaram as expectativas esperadas inicialmente. Este índice de sucesso – ou fracasso – é assustador e muito bem explorado pelo estudo do MIT Sloan (Estratégia, não tecnologia impulsiona transformação digital – MIT Sloan) que coloca de forma inequívoca a conclusão: “O que separa os Líderes Digitais do resto é uma clara estratégia combinada com uma cultura e liderança prontas para impulsionar transformação.”

A Destruição Criativa no mercado de Seguros

Embora pareça uma conclusão simples, a tarefa é gigante e coloca desafios assustadores aos CEOs que lideram processos de transformação. Conceber uma estratégia simples, objetiva, abrangente e com uma proposta de valor palpável; conseguir e manter o suporte dos acionistas durante todo processo; comunicar, engajar (magnetizar) e qualificar os colaboradores na direção de uma execução impecável é quase como ganhar na loteria…

Não bastassem as dificuldades inerentes à transformação, existe no Brasil hoje uma enorme carência de profissionais qualificados nas áreas de software, serviços de tecnologia da informação e comunicação, que acabam por provocar uma desorganização na gestão de recursos humanos das empresas, uma vez que a contratação e retenção destes profissionais, principalmente os especializados em desenvolvimento de software – os DEV, são cada vez mais difíceis.

Segundo a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), tendo como base a projeção de investimento estimado em R$413,5 bilhões em tecnologias de transformação digital até 2025, a demanda por este tipo de profissional deverá ser de 797 mil profissionais no mesmo período. Isto significa uma necessidade média de 159 mil novos profissionais qualificados por ano, número muito inferior à oferta de formandos na área atualmente no País, que não ultrapassa 60 mil ao ano.

Reforçado pela necessidade do desenvolvimento de novos produtos, mudanças no formato de trabalho devido à pandemia e novos requerimentos relacionados à segurança da informação,  o mercado de software apresentou um crescimento em  2021, da ordem de 19,5% e não deve parar por aí. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Software (ABES), a expectativa de crescimento do mercado brasileiro de TI em 2022 é de 14,3%. Em uma escala global, o mercado de TI deve crescer 6,4%.

Por outo lado, o Brasil tem sido extremamente ativo no sucateamento de potencial mão de obra especializada, muito particularmente no que diz respeito aos jovens. De acordo com a Lei do Jovem Aprendiz, empresas de médio e grande porte devem contratar jovens com idade entre 14 e 24 anos como aprendizes, atendendo uma cota para contratação de aprendizes de no mínimo 5% da força de trabalho de referência da empresa – que considera empregados cuja função exige formação profissionalizante, excluídos alguns cargos, como os de direção.  A contratação destes jovens deveria ter com premissa a sua inserção no mercado de trabalho e a sua qualificação para a vida profissional adulta, mas, com frequência, isto não acontece.

De acordo com o Caged, o Brasil tem hoje 460 mil aprendizes. Entretanto, segundo estimativas do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), se as empresas cumprissem a Lei, este número deveria ser superior a 1 milhão. Além disto, estima-se que temos no Brasil hoje algo em torno 1,7 milhão de jovens que procuram uma vaga, seja como aprendizes ou estagiários.

Uma discrepância assustadora entre a demanda e a oferta. Se nada fizermos, estaremos, nos próximos anos, diante de um exército de pessoas completamente despreparadas para qualquer atividade produtiva, enquanto, por outro lado, temos um déficit enorme de profissionais no mundo da tecnologia.

Organizações como a ABBC (Associação Brasileira de Bancos), Magazine Luíza, Hospital Israelita Albert Einstein e ONGs como o Instituto Celeiro Vó Tunica têm desenvolvido um trabalho exemplar na formação de jovens em situação de vulnerabilidade, mas tudo isto ainda é pouco.

Em vez de aguardarmos uma política de Estado para atacar o tema, a iniciativa privada, de maneira organizada e planejada, deveria, em associação com a Academia, criar um programa nacional de capacitação, voltado à formação específica nas diversas disciplinas relacionadas à Tecnologia, para posterior absorção pelas próprias empresas envolvidas no projeto. Desta forma, este enorme contingente de jovens, hoje sem atividade  alguma ou, algumas vezes, executando atividades sem nenhum valor agregado, quando encostados nas empresas que tem o único propósito de atingir a cota legal, se transformariam em uma poderosa turbina para o avanço da digitalização no Brasil.

Importante é lembrar que as gerações mais novas têm quase que uma aptidão natural para o tema.

Pensem nisto: usar o S-Social do ESG, como motor de desenvolvimento exatamente como outros países já fizeram.

Aceito sugestões.