24/10/2022 - 16:29
Após o fracasso humilhante de Liz Truss, que ficou seis semanas como primeira-ministra e foi “derrubada” por um plano econômico que teve uma péssima reação praticamente unânime do mercado, o novo primeiro-ministro Rishi Sunak, de apenas 42 anos, deve assumir em breve a tarefa de resgatar a economia do Reino Unido do seu atual estado caótico e com poucas esperanças no horizonte para seus cidadãos.
Filho de imigrantes indianos, ele se tornará o primeiro líder do Reino Unido a não ser branco e ainda ser hindu, algo que pode ser considerado um pequeno avanço considerando que os dois países já foram metrópole e colônia até a Índia se tornar independente em 1947.
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Como já foi ministro das Finanças e tem formação em Economia em Oxford e MBA em Stanford, o filho de imigrantes indianos é visto pelo Partido Conservador como a última boa carta de um baralho que está se tornando cada vez mais exíguo (ambos os seus potenciais concorrentes, Boris Johnson e Penny Mordaunt, desistiram de concorrer ao cargo) por teoricamente ser capaz de acalmar o mercado, traçar planos econômicas mais ortodoxos do que sua antecessora e ter um perfil menos beligerante que Johnson, que renunciou antes de Truss assumir após um escândalo envolvendo um de seus aliados que levou a uma série de demissões dentro de seu governo, sendo que um dos primeiros a deixar o cargo foi exatamente Sunak.
Sunak de forma geral teve uma vida privilegiada. Apesar dos pais imigrantes, ele nasceu na cidade portuária de Southampton e frequentou instituições de grande prestígio no país e no exterior (como as já citadas Oxford e Stanford).
Antes de iniciar a sua carreira política, ele trabalhou sobretudo no setor financeiro, atuando como analista de investimentos para o Goldman Sachs, como executivo dos hedge funds Children’s Investment Fund Management e Theleme Partners e diretor da empresa de investimentos Catamaran Ventures, do seu sogro, N. R. Narayana Murthy, um bilionário indiano.
De ministro de Johnson a primeiro-ministro
Filho de um médico e de uma administradora de empresa (sua mãe tinha uma farmácia), Sunak cresceu absorvendo valores tradicionais indianos, geralmente focados em grande disciplina para o estudo e valorização do mérito acadêmico.
Antes de ter acesso a universidades de primeira linha, ele frequentou escolas particulares restritas e caras.
Na política, ele só começou a atuar em 2015, sendo eleito deputado pelo Partido Conservador e sendo nomeado em 2020 como ministro das Finanças de Boris Johnson, que renunciaria dois anos depois e pavimentaria o caminho para sua chegada ao cargo de primeiro-ministro.
Apesar das divergências que levaram-no a deixar o cargo quando era ministro de Johnson, ele também apoiou o Brexit e tem visões parecidas em relação à necessidade de maior autonomia britânica e que o movimento traria uma inequívoca melhora nas condições econômicas do país e um futuro mais próspero de forma geral.
No entanto, dois anos após a conclusão do Brexit a situação econômica do Reino Unido tem apenas se complicado e os desafios se multiplicado. A inflação no país chegou recentemente a 10,1%, maior taxa em 40 anos no país.
Cabe a Sunak agora provar que sua defesa calorosa da saída do país da União Europeia estava certa ou, caso note que não foi a medida mais acertada, ter a humildade de reconhecer o erro e tentar tomar medidas para colocar a economia no país de volta nos eixos.
De qualquer forma, ele tem uma tarefa dura pela frente. Além das questões econômicas, a mídia e os críticos estarão ainda mais atentos a qualquer erro ou deslize daquele que será o primeiro líder do Reino Unido de uma raça diferente do padrão branco/caucasiano que foi homogêneo por séculos no país.