DOHA (Reuters) – Após chegar ao Catar em meio a uma instabilidade política no país e levar seis gols da Inglaterra em uma estreia caótica, a seleção do Irã já estava fadada ao fracasso na Copa do Mundo logo no pontapé inicial.

Mas uma surpreendente vitória contra País de Gales, com gols nos acréscimos, deu ao Irã um vislumbre de esperança para uma classificação histórica às oitavas de final, mas havia muito em jogo no duelo decisivo de terça-feira com os Estados Unidos, cuja exibição dominante em Doha impediu com sucesso o renascimento iraniano.

Os jogadores carregavam um fardo mental pesado, sob imensa pressão pública para usar a Copa do Mundo e sua visibilidade para se posicionarem contra uma repressão mortal do Estado iraniano aos protestos generalizados no país que buscam o fim do regime teocrático.

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As manifestações, alimentadas pela revolta com a morte de uma jovem detida pela polícia moral, atraíram o apoio de pessoas de todo a sociedade civil e são o  maior obstáculo à legitimidade do clero iraniano desde a revolução islâmica de 1979.

Houve gestos de apoio dos jogadores, inclusive ao não cantarem o hino nacional em uma partida. Mas as palavras de empatia cuidadosamente escolhidas por alguns jogadores não foram suficientes para satisfazer os críticos que se voltaram contra o Time Melli, acusando alguns jogadores de se aliar às autoridades.

Rumores surgiram sobre divisões políticas no vestiário, e alguns jogadores tentaram dissipar os boatos sobre desunião, incluindo Roozbeh Cheshmi –autor do gol na surpreendente reviravolta do Irã contra o País de Gales– que lamentou a pressão inaceitável e não relacionada ao futebol.

Com seu time precisando apenas de um empate contra os norte-americanos para se classificar para as oitavas de final pela primeira vez em seis mundiais, o técnico do Irã, Carlos Queiroz, trabalhou duro para preparar mentalmente os jogadores, mas eles não tiveram chance contra uma jovem, determinada e taticamente superior equipe dos Estados Unidos.

Queiroz ficou furioso com o que chamou de politização de sua seleção na Copa do Mundo, criticando alguns torcedores que os vaiaram no Catar e reclamando do assédio contra uma seleção que só queria jogar futebol e deixar seu país orgulhoso.

“Graças ao trabalho deles, ao trabalho em equipe, às conversas que tivemos, os jogadores aos poucos voltaram a sorrir e entenderam para quem estão jogando”, disse Queiroz.

(Reportagem de Martin Petty)

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