Emerson Calegaretti, presidente do MySpace no Brasil, está empolgado. Tão empolgado que em seu perfil na página do maior site de relacionamento do mundo ele fez questão de colocar um ícone embaixo de sua foto para indicar o seu estado de humor. O uso desse simpático símbolo é uma das ferramentas de grande sucesso entre os 115 milhões de usuários do site. O ânimo do moço faz todo o sentido.

Aos 37 anos, o ex-diretor do Google e do UOL recebeu carta branca do comando do MySpace, controlado pelo magnata Rudolph Murdoch, para virar de pontacabeça esse mercado no Brasil. Calegaretti diz que vai fazer barulho. Montou um plano de ação baseado em cinco tópicos para avançar sobre o concorrente (leia-se Orkut) e engrossar a base atual de usuários. E, se preciso for, transformando amigos fiéis do Orkut em adoradores do MySpace. ?Não dá para bater de frente com o Orkut.

E não vou repetir a fórmula deles?, diz. ?Então, nossa estratégia é simples: oferecer o que eles não têm. Vamos ser muito agressivos?, afirma o executivo. A agressividade inclui a compra de empresas provedoras de conteúdo para ampliar a base de dados e informações disponíveis ao um milhão de usuários no País.

Pelo tamanho do brinquedo, parece fácil crescer por aqui. No mundo, o MySpace é duas vezes maior do que o Orkut, que pertence ao Google. Tem também quase o dobro do tamanho do site FaceBook, ainda fora do Brasil e cujo acionista minoritário é Bill Gates. Com apenas quatro anos de vida, a empresa fechou o ano fiscal de 2007 com US$ 10 milhões de lucro, somou US$ 550 milhões em receita e, lá fora, os analistas americanos esperam faturamento de US$ 1,2 bilhão em 2008.

É um gigante em crescimento. Mas, para fazer barulho no Brasil, terá que pagar o preço do atraso. O MySpace coloca os pés no País dois anos após o frenesi causado pela chegada dos sites sociais por aqui. O mercado foi praticamente loteado por pequenas empresas virtuais (e suas comunidades especializadas), e assistiu ao estrondoso sucesso do Orkut. Menos conhecido lá fora, o Orkut é líder isolado no Brasil. São 25 milhões de brasileiros com páginas no site americano, a metade do total de seus usuários do mundo. Tamanha força obrigou o próprio Google a usar o Brasil como praça de teste para o Orkut. O que os internautas pleiteiam aqui vira quase uma ordem. Isso o levou a investir mais em tecnologia de rede e a evoluir rapidamente, incorporando necessidades ditadas pelos clientes. ?Nós estamos 24 horas conectados a eles. Ouvimos tudo o que querem e tentamos dar uma resposta rápida?, diz Carlos Felix Ximenes, diretor de comunicação do Google Brasil. É esse Orkut mais ágil e aparelhado que o MySpace deve enfrentar daqui para a frente.

Existe um plano já desenhado por Calegaretti para tentar ganhar mercado num curto espaço de tempo. A idéia é transformar o site em uma ferramenta de negócios e evitar os erros dos concorrentes. A proposta de trabalho tem cinco pontos principais:

? dar liberdade total para o usuário personalizar a sua página;
? incentivar a criação de conteúdos oficiais ? artistas e empresas terão a sua página no site;
? criar uma série de eventos sociais gratuitos e exclusivos, como shows e espetáculos;
? fechar parcerias com empresas para que desenvolvam promoções de produtos e benefícios exclusivos para internautas do MySpace;
? dar apoio total às ações de repressão de órgãos contra posturas ilegais no site.

Os três últimos tópicos merecem atenção. Por exemplo, ao dar ingressos grátis de cinema e montar shows gratuitos para os usuários (serão até 800 pessoas por evento) eles ganham a simpatia dos internautas e reforçam a marca com custos mínimos. Isso porque as ações terão o patrocínio de empresas. E essas mesmas empresas farão parcerias com o site para disponibilizar informações e promoções únicas no MySpace.

Quem for usuário do site da Seda, da Unilever, pode receber com antecedência amostras grátis de lançamentos. Representantes do poder público terão todo o apoio em investigações na rede virtual. O Ministério Público chegou a pedir o fechamento do Google e do Orkut por não ajudar em uma investigação de crime virtual. ?O MySpace tem uma proposta diferente do Orkut e eles irão deixar isso bem claro em sua estratégia local no Brasil.

Se o Orkut é basicamente uma rede de relacionamento, o MySpace vai além. Vocês podem se preparar porque ele tem potencial enorme de crescimento aí?, diz Nick Thomas, analista de mercado da consultoria Jupiter Research.

O pano de fundo dessa disputa é de ordem puramente econômica. Quanto maior a massa de usuários fiel a uma página, melhor para ela. Na hora de um anunciante decidir onde colocar o dinheiro, a maior vitrine recebe mais investimentos. Hoje, a receita do MySpace vem dos anúncios e o Google já estuda a hipótese de vender espaços publicitários no Orkut. Estima-se que do total de um milhão de usuários brasileiros do MySpace cerca de 300 mil foram adicionados nos últimos 90 dias. No Orkut no Brasil, o número é mais gordo: DINHEIRO apurou que são 420 mil novos associados por mês.

É uma diferença e tanto. ?Há espaço para todo mundo. Eles podem chegar?, diz Ximenes, do Google.