02/12/2022 - 6:52
Em tempos de Copa do Mundo é interessante pensar nas boas práticas que permeiam (ao menos por pressuposto) o esporte profissional. E aceitar que perdeu talvez seja o maior exemplo disso. Derrotado nas urnas (inclusive com revisão do VAR do STF) o presidente em exercício Jair Bolsonaro ensina como não agir diante de um resultado que não lhe agrada. Imagine se uma seleção, já fora do mundial na primeira fase do campeonato, entre em campo no último jogo para cumprir tabela e escolha usar os 90 minutos apenas para acertar a canela dos oponentes? Ou então gasta um tempo precioso questionando o juiz e atrasando o andamento da partida? Pois bem, esse é o perfil de Bolsonaro diante do revés. Congelamento de verbas, bloqueio a recursos para os “amigos do centrão”, apagão dos despachos presidenciais e menos de 80 horas trabalhadas em agenda oficial desde o dia 1º de novembro. Esse é o raio-x do time que, já derrotado, precisa entrar em campo apenas para uma formalidade dos organizadores do torneio.
Mas é preciso lembrar que mesmo frustrado o presidente ainda precisa exercer o cargo e ainda falta um mês de aviso prévio. O problema é que ele age de modo escancarado no mesmo modus operandi que sempre trabalhou de forma velada: pelo rancor e pelo ressentimento. Nesta semana atacou universidades federais. Sem ter construído ao menos uma instituição de ensino superior em quatro anos de governo, Bolsonaro congelou R$ 344 milhões que seriam destinados ao custeio básico das operações. O Ministério da Educação joga a conta na pasta da Economia e por lá a orientação é contingenciar para que não haja crime de responsabilidade fiscal ao final do exercício do governo.
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Essa é apenas a versão oficial. Aliados do presidente, que se dividem entre os que entendem que Bolsonaro está deprimido, os que enxergam que há algum “plano maior” (leia-se tentativa de golpe) e os que veem apenas ressentimento no mandatário concordam que Bolsonaro faz pouco, ou nenhum esforço, para manter a máquina pública funcionando. Com isso, as tesouras de Guedes podem agir indiscriminadamente.
Outra decisão de Bolsonaro atingiu diretamente antigos aliados do presidente. O tão falado Orçamento Secreto. Segundo informações do jornal O Estado de São Paulo a liberação ficou suspensa após a sinalização de Arthur Lira em um acordo com Lula, em troca do apoio do PT a candidatura do parlamentar à reeleição no comando da Câmara. Dos R$ 16,5 bilhões reservados para o orçamento secreto neste ano, R$ 7,8 bilhões estão bloqueados pelo governo federal. Oficialmente o bloqueio seria encabeçado por Paulo Guedes, em linha com os outros arrochos promovidos nas últimas semanas, mas certamente, por se tratar de um recurso político, precisou do aval de Bolsonaro para ser vetado. Triste e apequenado, Bolsonaro deixará o Palácio da Alvorada em janeiro como um presidente ruim e um péssimo perdedor.