22/11/2013 - 21:00
Não há nada mais fora de moda no mercado de luxo atual do que manter uma marca 100% sob o comando da família fundadora. O mar do setor está dominado por tubarões, conglomerados famintos por grifes bem-sucedidas. Nadar aqui sem um colete salva-vidas com um LVMH ou um Kering estampado na frente pode ser sinônimo de condenação ao ostracismo. A francesa Longchamp, no entanto, resolveu arriscar e abriu mão de seu colete. Fundada em 1948 por Jean Cassegrain, a fabricante de bolsas e acessórios de couro continua nas mãos de seus herdeiros.
No Brasil: durante a entrevista na butique do shopping Cidade Jardim,
em São Paulo, Jean Cassegrain, CEO da grife, revelou seu interesse
pelo mercado nacional: “É o mais importante da América Latina”
Supervisionados por Phillippe, filho do patriarca e presidente do Conselho de Administração, seus netos Jean, Sophie e Oliver estão na linha de frente como CEO, diretora artística e diretor de butiques nos EUA, respectivamente. Com braçadas discretas, a grife escapou dos tubarões e levou para outras praias seus produtos sofisticados, porém mais acessíveis. Atualmente, a marca possui mais de 230 lojas e 1.800 pontos de venda espalhados pelo mundo, com um faturamento de US$ 613 milhões em 2012, 16% a mais do que no ano anterior. “A vantagem de ser uma empresa de família é que podemos pensar em longo prazo, com liberdade de escolha”, afirma Jean Cassegrain, neto do fundador.
O executivo esteve na cidade para visitar suas três operações próprias nos shoppings Cidade Jardim, JK e Iguatemi, na capital paulista. Satisfeito com os resultados no País, ele diz que esse é outro ponto positivo em se administrar tudo em casa. “Diferentemente de outras marcas, não preciso prestar contas extremamente positivas a cada quatro meses.” O francês, de 48 anos, e seus parentes ganharam recentemente mais um motivo para demonstrar tanta confiança no modelo de gestão que escolheram para a Longchamp. No início do mês, a revista americana Forbes incluiu os Cassegrain na lista dos maiores bilionários do planeta, com um patrimônio estimado em US$ 1,5 bilhão.
Outro segredo do sucesso da marca, segundo ele, é a diversificação da linha de produtos. Ainda que o carro-chefe da empresa seja a linha de bolsas, como a de náilon Le Pliage, lançada em 1993 e com mais de 26 milhões de unidades vendidas a US$ 105, há uma série de outros artigos em sua linha de produtos, como roupas e sapatos. Para Silvio Passarelli, especialista em mercado de luxo e professor da Faap, em São Paulo, a flexibilização de portfólio é uma tendência quase inexorável para as grifes de alto padrão. “Você perde potencial de consumo se foca em apenas um produto”, afirma Passarelli.
Novo modelo: a famosa bolsa Le Pliage, um dos produtos
de entrada da marca, recebeu roupagem de couro
“Com um portfólio pequeno, a marca precisa gastar mais em publicidade e investir em novos mercados para incrementar o faturamento.” A diversificação de mercados é outra tática cultivada pelos Cassegrain. O Brasil ocupa posição de destaque no radar da Longchamp para a América Latina, à frente de Colômbia, Argentina, Panamá, Venezuela e do México. No País, a abertura de novas unidades em metrópoles como Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília não tardará a acontecer. O executivo acredita que o sucesso nas araras daqui se deve ao fato de a grife criar acessórios e roupas pensando na mulher francesa.
“Muitas empresas na França desenham para mulheres estrangeiras, mas nós ainda focamos no estilo das parisienses. E as brasileiras parecem adorar isso”, afirma. Com esse feeling aprendido com o avô, de quem herdou o nome, Jean Cassegrain segue conduzindo os negócios da família. Ele só não sabe dizer se terá a mesma oportunidade de repassar tudo o que aprendeu aos seus filhos. “Eu nunca pensei em fazer nada diferente do que cuidar da empresa”, diz. “Mas meus filhos têm 20 e poucos anos e ainda não sabem qual rumo devem tomar.”