06/12/2022 - 11:20
Final de ano é um bom período para as empresas de varejo. Este ano, com a Black Friday, Natal e a Copa do Mundo, a movimentação do comércio pode resultar melhor. Mas há um senão: como as partidas da seleção brasileira serão em dias úteis, alguns setores do comércio esperam uma desaceleração, apesar de a procura de alguns produtos, como roupas, alimentos, bebidas e televisores, ser um fator que pode aumentar as vendas. A Copa, afinal, é boa ou ruim para a economia brasileira?
Levantamento das empresas de cartão Stone e PagSeguro prevê perda de processamento das duas empresas de até R$ 7 bilhões. Para as empresas de maquininhas, os jogos podem gerar uma redução no fluxo de clientes em diversos segmentos de serviços e comércio.
“Isso é um pouco relativo porque as pessoas deixam de consumir naquele momento para consumir dobrado depois. O impacto no comércio é sentido, tem um menor movimento no momento dos jogos, mas não significa que as pessoas deixarão de comprar permanentemente aquele consumo. A prova disso é que muitas vezes no mês seguinte aos jogos o comércio volta com mais força”, afirma o economista Vinícius Machado.
Bares e restaurantes
Para os donos de bares e restaurantes, o cenário muda. A primeira semana de Copa do Mundo de futebol foi bastante positiva. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o faturamento desses estabelecimentos evoluiu 30% em relação a uma semana ‘normal’. O mercado tem sido impulsionado também pelas reservas de empresas nos horários de jogos da seleção brasileira.
“Isso era algo que tinha sumido que voltou agora com força e de forma antecipada. Mesmo os restaurantes que, em outras Copas, reclamavam que o movimento ia apenas para os bares, estão faturando muito bem”, afirma Paulo Solmucci, presidente daAbrasel.
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Estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta que a realização da Copa do Mundo de Futebol deverá injetar R$ 864,49 milhões no faturamento de bares e restaurantes do país. Esse valor equivale a um aumento de 8,3%, já descontada a inflação, em relação ao Mundial da Rússia, em 2018. Mas a conta indica uma queda de 2,6% em relação à Copa realizada no Brasil, em 2014.
Historicamente, nos meses em que são disputados os Mundiais de Futebol, o faturamento desse segmento costuma crescer 2,52%, em relação à média mensal dos meses imediatamente anteriores. Além disso, o fato de o campeonato estar sendo disputado no período de pagamento da primeira parcela do 13º salário favorece a expansão dos gastos neste ano.
“Uma das boas notícias deste fim de ano é que o aumento do movimento em bares e restaurantes para assistir aos jogos da Copa do Mundo vai ocasionar maior contratação de trabalhadores temporários para atendimento aos clientes extras desse período”, pontua o presidente da Confederação, José Roberto Tadros.
Conforme o economista da CNC Fabio Bentes, responsável pela apuração, a estimativa é que 7,7 mil vagas extras sejam geradas. O salário médio de admissão de funcionários temporários deverá chegar a R$ 1,5 mil. Nas Copas de 2014 e 2018, os salários médios de admissão foram de R$ 920 e R$ 1,2 mil. Entre as principais vagas, estão garçons e auxiliares, que respondem por 23,4% dos postos, cozinheiros, 15,6%, e atendentes de lanchonete, 15%.
Roupas, alimentos e bebidas
Consultados em todas as capitais brasileiras, os consumidores pretendiam gastar, em média, R$ 211,21 entre os principais produtos associados ao Campeonato de Futebol, mostra outro estudo da CNC. Roupas, alimentos e bebidas são os itens preferidos para as compras durante o período: 14,9% buscam vestuários temáticos para adultos e crianças e 14,6% planejam consumir alimentos e bebidas em casa. Apenas 3,8% dos consumidores consultados afirmaram que pretendiam adquirir televisores e smart TVs.
“As estimativas da CNC mostraram que o segmento de móveis e eletrodomésticos, em que se incluem os televisores, deverá responder pela maior parte do faturamento do comércio em razão do evento (34% do total das vendas), mas os juros altos e o alto nível de endividamento com inadimplência crescente tendem a limitar o consumo desses itens mais dependentes do crédito e do parcelamento”, aponta a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa.
Nos canais de compra, 71,3% dos torcedores buscarão os itens da Copa nas lojas físicas, queda de 12,5 pontos, referente aos 83,8% apurados no Mundial de 2018. A intensificação das vendas pelos canais digitais e a facilidade de comparação de preços, porém, impulsionaram um crescimento na proporção de consumidores que pretendem comprar pela internet: 28,7%, ante apenas 16% na Copa passada.
O levantamento também mostra redução do volume de pessoas que planeja acompanhar as partidas em bares e restaurantes: 13,3% este ano, contra 19% na Copa de 2018. Com os preços dos alimentos e bebidas fora de casa aproximadamente 16% mais elevados do que em 2018, a maioria dos consultados indicaram preferência por acompanhar as partidas de casa (67,9%), enquanto 18,9% não assistirão aos jogos.
Comércio global
A Copa do Mundo é capaz de impactar o comércio global além da economia do país onde ela ocorre. Estudos mostram que o crescimento do país após ganhar a Copa do Mundo é significativo. “O Brasil cresceu 0,25% em média depois de ganhar a Copa. Isso se dá também por conta da maior visibilidade do país e das exportações”, explica o economista Vinícius Machado.
A Logcomex, empresa que desenvolve soluções de tecnologia que oferecem visibilidade e data analytics ao comércio global, classificou o ranking dos dez principais países selecionados da Copa do Mundo e responsáveis pelas importações brasileiras.
Os Estados Unidos lideram a lista com U$22,83 bilhões (R$122,3 bilhões) de produtos importados, seguido pela Argentina (U$8,32 bilhões), Alemanha (U$7,29 bilhões) e Coreia do Sul (U$4,29 bilhões).
“O ranking comprova que o maior impacto da Copa do Mundo no comércio global inegavelmente é o varejo, devido às importações de produtos, como camisetas de seleção e demais mercadorias relacionadas. Especialmente nesta edição, a proximidade da Copa com a Black Friday e o Natal vão aquecer o comércio”, destaca Helmuth Hofstatter, CEO da Logcomex.
Segundo Hofstatter, a expectativa é de que o maior controle inflacionário ao longo do ano permita que a demanda reprimida volte a consumir. “Desta forma, as pessoas que não têm gastado por conta da inflação poderiam gastar mais no momento da Copa”, finaliza.