Por Paula Arend Laier e Luana Maria Benedito e Andre Romani

SÃO PAULO (Reuters) – O mercado financeiro brasileiro tinha nesta segunda-feira uma reação comedida após a invasão e depredação de prédios do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, em Brasília, por apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro, no domingo.

Por volta de 12h30 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,18%, a 5,2978 reais na venda, enquanto o Ibovespa cedia 0,3%, a 108.633,11 pontos, e as taxas dos contratos de DI mostravam acréscimos modestos.

A imediata reação de principais lideranças políticas e da opinião pública contra os violentos protestos de bolsonaristas que pedem um golpe contra Luiz Inácio Lula da Silva corroborava a percepção entre agentes financeiros de que não deve ocorrer uma crise política ou uma escalada.

“Não vejo nenhum impacto maior no mercado”, disse José Tovar, presidente-executivo da Truxt Investimentos, que tem 16 bilhões de reais em ativos sob gestão.

Ele afirmou que imagens podem assustar o investidor estrangeiro inicialmente e protelar a pauta econômica, mas chamou atenção para o fato de todas as lideranças políticas terem condenado os eventos. “Não acho que o mercado vá dar grande importância, se parar por aí, como eu espero.”

Estrategistas do Itaú BBA apontaram efeito negativo nos ativos brasileiros, dado o aumento do prêmio de risco institucional, “mas com o tempo o impacto deve diminuir, já que o foco provavelmente retornará ao debate de política econômica”, diz trecho relatório a clientes.

Nesta segunda-feira, os chefes do Executivo, Legislativo e Judiciário disseram em nota conjunta que rejeitam o que chamaram de “atos terroristas, de vandalismo, criminosos e golpistas” realizados contra as sedes dos Três Poderes no domingo.

“Houve forte reação dos poderes, o que reforça a solidez das nossas instituições”, afirmou Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital. “Passado o susto inicial, outras pautas vão dar lugar a essa, e os mercados tendem a se normalizar na direção em que estavam indo – dólar pra baixo bolsa pra cima.”

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta, disse a jornalistas nesta segunda-feira que, apesar dos danos causados no palácio, Lula trabalhará no local nesta segunda.

Ele também afirmou que ainda há tentativas de bloqueios de estradas e refinarias de combustíveis no país e que é preciso garantir a volta à normalidade.

No mercado de DI, segundo afirmou Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa na Mirae Asset, o fato de a curva de juros já estar com um prêmio razoavelmente alto, dada as expectativas de inflação, era mais um componente a atenuar os efeitos dos tumultos do domingo.

Estrategistas do JPMorgan avaliaram que “foi mais um evento midiático do que qualquer outra coisa”, mas ressaltaram que é fundamental que os protestos não se espalhem em larga escala para outros Estados ou que não causem um efeito cascata como uma greve de caminhoneiros, conforme relatório a clientes.

No Twitter, o governador de São Paulo, Tarcício Freitas, afirmou na véspera que manifestações perdem a legitimidade e a razão a partir do momento em que há violência, depredação ou cerceamento de direitos. “Não admitiremos isso em SP!”, afirmou.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) também afirmou nesta segunda-feira que ameaças de atos contra refinarias visando impedir o fornecimento de combustíveis foram reprimidas e as instalações estão funcionando normalmente.

A Petrobras intensificou a segurança em suas refinarias, após receber ameaças de ataque contra instalações, disseram fontes à Reuters no domingo. As ações da estatal tinham desempenho misto, com a PN cedendo 0,46% e a ON subindo 0,22%.