21/01/2023 - 0:30
Um conjunto de mensagens revelam que houve negligência por parte do GSI (Gabinete de Segurança Institucional ). Os textos mostram que as Forças Armadas tinham equipamentos, agentes e treinamento para impedir a invasão na Praça dos Três Poderes que ocorreu no dia 8 de janeiro, em Brasília , mas não receberam a ordem da corporação.
As mensagens divulgadas nesta sexta-feira (20) são de um grupo de WhatsApp usado pelo GSI e pelo CMP (Comando Militar do Planalto) para viabilizar operações.
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No dia 6 de janeiro, dois dias antes dos atos golpistas, os representantes dos setores de segurança do governo federal, de Brasília, do Congresso e do STF ( Supremo Tribunal Federal ) realizaram uma reunião para discutir a segurança durante a manifestação que havia sido planejada para o final de semana do dia 7 e 8 de janeiro.
Naquele dia, o GSI declarou que tudo estava dentro “normalidade” e enviou uma mensagem ao CPM dizendo que não havia necessidade de reforçar a segurança no Palácio do Planalto.
“Os órgãos de inteligência estarão monitorando a capital. Qualquer mudança de cenário, informaremos de pronto”, escreveu o GSI em mensagem enviada às 14h59 do dia 6.
Cerca de 2h30 depois, o coordenador de segurança do GSI, coronel André Garcia enviou uma mensagem dizendo que a proteção do Planalto seria feita por 10 homens que se revezariam na rampa de acesso e nas guaritas em torno do local.
“Boa tarde, senhores. O secretário de SCP (Segurança e Coordenação Presidencial), general Carlos Feitosa Rodrigues, agradece o apoio dos dragões no dia de hoje. Pelotão de Choque pode ser liberado da prontidão”, disse Garcia.
No dia 7 de janeiro, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) alertou o GSI do risco de ataques a sede dos Três Poderes, com “tentativas de ocupações de prédios públicos”.
A Polícia Federal também alertou o ministro da Justiça, Flávio Dino , dizendo que os manifestantes pretendiam “promover ações hostis e danos” a prédios dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios.
O GSI não se manifestou em nenhum momento no dia 7 de janeiro.
O dia da invasão
No dia 8, houve uma tensão pela manhã nos acampamentos radicais de bolsonaristas em Brasília. Às 7h36, o ministro Flávio Dino afirmou no Twitter que esperava não haver atos violentos. Ainda no período matutino, foi informado que os manifestantes que estavam em frente ao QG do Exército caminhariam até o Palácio do Planalto naquele dia.
Às 11h54, o GSI enviou a seguinte mensagem ao CPM: “Boa tarde, senhores. Haja vista aumento de manifestantes em frente ao CN (Congresso Nacional), o SCP solicita apoio de um Pel Choque ECD desde já… Estou com uma força de reação de 15 agentes”.
O ministro da Defesa, José Múcio, foi até os acampamentos dos manifestantes naquele dia, ainda pela manhã e disse que o clima era “por enquanto, calmo”.
Às 13h, somente 35 agentes chegaram ao Planalto para conter milhares de vândalos. Os militares continham escudos, bombas de gás, pistolas com balas de borracha e cassetete.
A invasão foi iniciada por volta das 15h , após os extremistas romperem as barreiras das Forças Armadas, invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional .
110 minutos de depredação
A invasão ocorreu das 15h até às 18h20 daquele domingo. Os extremistas marcharam até o Palácio do Planalto e se agruparam no local por 2 horas, quando enfim centenas furaram o bloqueio de poucos militares e em 10 minutos começaram a depredar o Congresso Nacional.
Às 15h30, a Polícia Militar do Distrito Federal tentou manter os golpistas lançando as primeiras bombas de gás. Flávio Dino se pronunciou 13 minutos depois, afirmando ser uma invasão absurda e pediu reforços.
Com pouca efetividade das Forças Armadas, os extremistas, às 15h50 invadiram então o Palácio do Planalto. Com a diferença de 10 minutos, os vândalos invadiram também a sede do Supremo Tribunal Federal, local mais depredado dos Três Poderes.
A Força Nacional, o reforço solicitado por Dino, chegou às 16h25 na Esplanada e tenta conter os milhares de golpistas.
Até às 18h, horário dos últimos atos dos extremistas, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) , demitiu o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres , o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu que a Procuradoria da República do Distrito Federal abrisse uma investigação contra os atos, o presidente Lula decretou intervenção federal no Distrito Federal e nomeia Ricardo Capelli como interventor da segurança do DF.
Às 18h20, os golpistas atearam fogo em frente ao Congresso Nacional. Ao mesmo tempo, a polícia do Distrito Federal começou a prender os radicias e retomar os prédios públicos.
“Inteligência não existiu”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que última quarta-feira (18), em entrevista à Globonews, que não existiram serviços de inteligência do governo , pois ele não foi alertado sobre a possibilidade dos ataques golpistas em Brasília no dia 8 de janeiro.
“A minha inteligência não existiu. Eu saí daqui na sexta achando que estava tudo tranquilo”, começou dizendo o presidente, que estava em Araraquara, interior de São Paulo, quando soube que a Praça dos Três Poderes havia sido invadida por golpistas.
“Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso”, observou Lula.
Reunião com as Forças Armadas
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou nesta sexta-feira (20) que as Forças Armadas não tiveram envolvimento “direto” nos atos golpistas em Brasília .
“Os militares estão cientes e concordam que vamos tomar providências. Evidentemente, no calor da emoção, a gente precisa ter cuidado para que as acusações sejam justas, para que as penas sejam justas. Tudo será providenciado em seu tempo. Eu entendo que não houve envolvimento direto das Forças Armadas. Agora, se algum elemento individualmente teve sua participação, ele vai responder como cidadão”, afirmou o ministro.
Nesta sexta-feira, às 10h, o presidente Lula se encontrou no Palácio do Planalto com os comandantes do Exército, general Júlio Cesar Arruda; da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen; e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno. Os ministros da Defesa, José Múcio Monteiro, e da Casa Civil, Rui Costa.
Este foi o segundo encontro de Lula com os comandantes das Forças Armadas após a invasão na sede dos Três Poderes . A primeira conversa ocorreu no dia 9 de janeiro, quando o presidente demonstrou indignação com a conduta dos militares durante os ataques.