03/02/2023 - 12:13
Após quase 30 dias desde os atos golpistas em Brasília, o cerco se fecha contra um dos suspeitos de facilitar e comandar o terrorismo aos Três Poderes. Jair Bolsonaro foi, novamente, citado como articulador de um golpe contra a democracia. O depoimento do senador Marcos do Val (Podemos) para a Veja, assim como para a Polícia Federal, colocam o ex-mandatário no centro da investigação.
+ Bolsonaro ‘não mostrou contrariedade’ a plano golpista, diz Marcos do Val à PF
Veja alguns pontos que aproximam Bolsonaro das suspeitas de comandar um golpe de Estado:
Minuta achada na cada de Anderson Torres
A Polícia Federal apreendeu, na casa de Torres, uma minuta com ameaças de golpe, no último dia 10 de janeiro. O documento continha informações sobre decretar estado de defesa na sede do TSE, para reverter o resultado da eleição após vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Todo o plano seria comandado pelo governo de Bolsonaro.
Após a apreensão do documento, Torres chegou a afirmar que ele foi vazado fora de contexto.
“Havia em minha casa uma pilha de documentos para descarte, onde muito provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado. Tudo seria levado para ser triturado oportunamente no MJSP [Ministério da Justiça e Segurança Pública]. O citado documento foi apanhado quando eu não estava lá”, escreveu em sua conta no Twitter.
Todo mundo tinha a minuta, disse presidente do PL
Valdemar Costa Neto, presidente do PL – partido de Bolsonaro – disse que integrantes do governo Jair Bolsonaro tinham, em suas casas, propostas similares à “minuta do golpe”, encontrada na casa de Torres. Em depoimento para a PF, no entanto, ele retirou a fala, dizendo que usou uma “metáfora”.
Depoimento de Marcos do Val
O mesmo documento foi citado por Marcos do Val, senador filiado ao Podemos. Ele declarou que recebeu uma proposta de Daniel Silveira, preso nesta quinta-feira (2), para participar de ações antidemocráticas. Segundo o parlamentar, que ameaçou renunciar e depois recuou, o ex-presidente Jair Bolsonaro teria participado da conversa e o pressionado a participar.
“(…) em nenhum momento o ex-presidente negou o plano ou mostrou contrariedade ao plano, mantendo-se em silêncio”, disse o senador no relato à PF.
Bolsonaro queria grampear Alexandre de Moraes
Outra informação trazida pelo senador do Podemos foi que, ao ser pressionado pelo ex-presidente para participar de ato antidemocrático, Do Val foi encorajado a gravar conversas do ministro Alexandre de Moraes.
Silveira teria dito a Do Val, segundo o senador relatou em entrevista: “Nós colocaríamos uma escuta em você e teria uma equipe para dar suporte, e você vai ter uma audiência com Alexandre de Moraes, e você conduz a conversa para dizer que ele está ultrapassando as linhas da Constituição. E a gente impede o Lula de assumir, e Alexandre será preso”.
Bolsonaro chegou a afirmar, após as denúncias de Do Val, que o senador está fazendo jogo duplo: segundo o colunista Igor Gadelha, ele teria prints de conversas com Do Val que provam não ter relação com atos golpistas; e que do Val já teria relatado a Moraes a intenção do ex-mandatário de gravá-lo sem consentimento.
Bolsonaro quebrou o silêncio
Do Val disse, ainda, que no fim da conversa em que estava com Bolsonaro e Silveira, o ex-presidente disse que ‘aguardaria a resposta’ sobre grampear Moraes, após o senador pedir tempo para pensar sobre o pedido.
A pressão não teria parado por aí. Em mensagem divulgada por Do Val, Silveira escreveu: “Já tenho escutas usadas pelas operações especiais. Tenho veículo receptor que pode imediatamente reproduzir além da gravação e essa operação ficar restrita a um círculo de cinco pessoas. Três estavam sentados hoje conversando juntos”, finalizou.
Ex-presidente está no inquérito de Moraes
Alexandre de Moraes atendeu ao pedido da Procuradoria-Geral da República e incluiu Jair Bolsonaro na investigação sobre atos golpistas. O requerimento foi apresentado na apuração sobre a autoria intelectual dos protestos violentos de 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes, em Brasília.
Outras investigações
Bolsonaro já era um dos alvos de inquérito das milícias digitais. Em uma live feita em 29 de julho de 2021, ele levantou, sem provas, suspeita de fraude nas eleições e falhas nas urnas eletrônicas. Ele também vazou informações, em 2022, sobre um ataque ao TSE, conforme concluiu o então ministro do Tribunal, Luís Roberto Barroso.
O desejo do ex-presidente em deslegitimar o resultado das eleições democráticas também seguiu após o 30 de outubro, quando foi derrotado por Lula. Em 22 de novembro, o PL entrou com uma ação no TSE na qual solicitava a anulação dos votos de mais da metade das urnas do primeiro turno.