Por Amanda Perobelli e Laís Morais

SÃO SEBASTIÃO (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou nesta segunda-feira São Sebastião, cidade mais atingida pelas fortes chuvas que deixaram 36 mortos no litoral norte de São Paulo, e prometeu que as áreas atingidas serão reconstruídas em uma parceria entre os governos federal, estadual e municipal acima de diferenças políticas e ideológicas.

Em pronunciamento ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), o petista garantiu que as diferenças serão colocadas de lado em prol da reconstrução dos locais devastados pela tragédia ocorrida no meio do Carnaval, feriado em que muitas pessoas se dirigem às praias do litoral paulista.

“Queria mostrar para vocês uma cena que vocês não viam há muito tempo no Brasil, um presidente, um governador e um prefeito sentados numa mesa ou na frente de um microfone em função de uma coisa que interessa a todos nós”, disse Lula, que falou após o governador e o prefeito na sequência de uma reunião das três esferas governamentais em São Sebastião.

“O bem comum do povo é muito mais importante do que qualquer diferença ideológica que a gente possa ter”, acrescentou o presidente, que interrompeu estadia na Bahia durante o feriado de Carnaval para ver de perto os estragos deixados pelas chuvas.

Antecessor de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro, padrinho político de Tarcísio, foi muitas vezes cobrado por não comparecer pessoalmente a locais afetados por tragédias ou por demorar a ir pessoalmente inspecionar os danos causados por tempestades durante seu governo. Também era criticado por confrontos com governadores e prefeitos que tinham linha política diferente da sua.

“Essa parceria que nós estamos fazendo aqui é uma fotografia para o nosso país”, disse Lula, pedindo ainda que as pessoas que tenham fé rezem para que não chova, permitindo a continuidade dos trabalhos de resgate. O número de mortos ainda pode aumentar, já que há dezenas de desaparecidos.

O governador Tarcísio, que mais cedo disse que havia 40 pessoas ainda desaparecidas, decretou luto oficial de três dias no Estado. Além das mortes, 1.730 pessoas estão desalojadas e 766 desabrigadas, de acordo com informações do governo paulista.

DANOS ÀS RODOVIAS

Após as fortes chuvas que atingiram o litoral norte paulista no fim de semana, Tarcísio decretou estado de calamidade pública por 180 dias nas cidades de Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga.

O governador também transferiu seu gabinete temporariamente para São Sebastião, cidade que registrou 35 mortes, para dar mais celeridade às decisões de enfrentamento à tragédia. A outra morte foi registrada em Ubatuba.

O Exército foi acionado para ajudar a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros no resgate às vítimas. Além de viaturas, aeronaves também estão mobilizadas nos esforços de resgate dos atingidos pela tragédia.

Rodovias que dão acesso à região — como a dos Tamoios, Mogi-Bertioga e Rio-Santos — têm bloqueios totais e parciais em alguns trechos devido a deslizamentos, quedas de barreira e quedas de árvores.

Segundo o governador, os trabalhos de recuperação das rodovias deve levar tempo, e ainda não é possível dimensionar o tamanho dos estragos.

“Em alguns pontos a gente não sabe o que sobrou da rodovia”, disse. “A gente até levanta a hipótese da rodovia ter sido arrastada, da rodovia não existir mais”, acrescentou, fazendo um apelo para que as pessoas que estão na região não tentem deixá-la neste momento, em que as equipes trabalham na desobstrução das vias.

De acordo com o governo paulista, a previsão de tempo na região é de sol entre nuvens com chuvas típicas de verão. Apenas a cidade de São Sebastião registrou 649 milímetros de chuvas nas últimas 48 horas, segundo o governo paulista.

A tragédia no litoral norte de São Paulo é a mais recente a atingir cidades brasileiras, onde construções precárias, muitas vezes feitas em encostas e áreas de risco, são palcos de desastres durante a temporada de chuvas no país.

Em fevereiro do ano passado, mais de 200 pessoas morreram após enchentes e deslizamentos de terra atingirem Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, e Bahia e Santa Catarina também sofreram recentemente com desastres naturais.

(Reportagem adicional de Eduardo Simões e Gabriel Araujo, em São PauloEdição de Pedro Fonseca)

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