14/03/2023 - 16:09
Os reguladores americanos falharam em detectar os sinais de alerta que lhes permitiriam agir antes da espetacular falência do Silicon Valley Bank (SVB), em um ambiente de leis permissivas demais, afirmam vários analistas.
O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) anunciou na segunda-feira que realizará “uma análise profunda, transparente e rápida” das circunstâncias que rodearam a queda do SVB. Os resultados do relatório serão publicados em 1º de maio.
Como pôde o 16º maior banco americano em volume de ativos, fechado pelas autoridades na sexta-feira, desmoronar tão rapidamente e arrastar junto consigo o Signature Bank no domingo?
A quebra “evidencia as insuficiências das reformas regulatórias feitas” após a crise financeira de 2007-2009, diz Arthur Wilmarth, da Universidade George Washington.
Diversos elementos deveriam preocupar os reguladores, começando pelo fato de que o banco estava muito concentrado em alguns clientes de alto risco – startups e investidores de capital de risco -, assim como outras empresas fizeram de maneira errada no passado com o setor imobiliário ou com empréstimos a países emergentes, explica.
Outros alertas deveriam ser o rápido crescimento do SVB entre 2020 e 2022, sua exposição a títulos de longo prazo a taxas baixas no momento em que os juros subiam com rapidez, e o fato de que a maioria de suas contas tinha saldo superior aos US$ 250 mil (cerca de R$ 1,3 milhão) garantidos pelas autoridades.
“É uma combinação segura para o fracasso se a economia for mal”, garante Wilmarth. “Os reguladores não podiam ignorar isso.”
Vários observadores apontam a flexibilização da lei americana Dodd-Frank adotada após a crise de 2007-2009, que obrigava todas as empresas com mais de US$ 50 bilhões (R$ 262,5 bilhões) em ativos a apresentar regularmente um cenário de liquidação.
Em 2018, durante o mandato de Donald Trump, este limite subiu para US$ 250 bilhões (R$ 1,3 trilhão), flexibilizando de fato a norma.
– Sem desculpa –
“Quando os requisitos de regulamentação são relaxados […], isso coloca muito mais pressão sobre os reguladores, pois eles não têm acesso aos sinais de alerta” detectáveis em controles automáticos, aponta Anna Gelpern, da Universidade de Georgetown.
Mas “isso não os isenta do que parece ser uma falha de supervisão” por parte daqueles que devem garantir uma gestão “segura e confiável” de todos os bancos.
A regulamentação também era inadequada no caso particular do SVB, estima Michael Ohlrogge, da Universidade de Nova York.
O fato de que os investimentos em títulos respaldados pelo Estado sejam considerados “quase isentos de risco quando se trata de calcular as exigências de capitalização” se traduziu no SVB poder “fazer grandes apostas sobre [esses produtos] sem nenhum colchão de apoio”, afirma.
Quando se trata de avaliar a resiliência dos bancos, os reguladores partem do princípio de que os clientes de uma companhia com mais de US$ 250 mil em depósitos não fugirão repentinamente “se fazem negócios com o banco”, indica Ohlrogge.
Mas com os clientes do SVB tentando retirar dezenas de bilhões de dólares assim que apareceram os primeiros sinais de problemas, “essa suposição certamente terá que ser revista”, diz ele.
Para Henry Hu, da Universidade do Texas, as autoridades se viram neste fim de semana diante de “um dilema” para responder à crise.
Se o Fed não tivesse garantido o reembolso de todos os depósitos do SVB e do Signature Bank, muitas empresas teriam sacado seu dinheiro de bancos regionais para depositá-lo em bancos considerados “grandes demais para falir”.
“[Mas] se pensarmos que os reguladores cobrem todos os depósitos não assegurados, surge um risco moral. Algumas companhias podem negligenciar a supervisão dos bancos com os quais lidam, convencidas de que seus depósitos estão seguros, não importa o que aconteça”, conclui.