Com o lançamento e popularização do ChatGPT, ferramenta de produção de conteúdo por meio de Inteligência Artificial (IA) criado pela startup OpenAI, muito se tem discutido sobre sua utilização e os impactos que causará na economia e no modo de vida das pessoas no futuro. Bill Gates, criador da Microsoft, divulgou um artigo em seu blog com o título “A Era da Inteligência Artificial começou”, no qual aborda as transformações que essa tecnologia pode causar.

Gates escreve como a inteligência artificial, sobretudo com o desenvolvimento extraordinário que ele presenciou com o ChatGPT, pode ser “tão fundamental quanto a criação do microprocessador, do computador pessoal, da Internet e do telefone celular. [A Inteligência Artificial] mudará a maneira como as pessoas trabalham, aprendem, viajam, obtêm assistência médica e se comunicam umas com as outras. Indústrias inteiras se reorientarão em torno dela. As empresas se distinguirão pela forma como a usam”. Ou seja, se um profissional quiser permanecer relevante, terá que saber como usar as IAs.

“As aplicações potenciais da IA ​​são vastas. O ChatGPT e outros modelos podem ser aproveitados para melhorar e otimizar fluxos de trabalho em diferentes setores, mas é importante observar que a natureza dos modelos de IA generativa, como o ChatGPT, é tal que eles geram conteúdo com base nas informações sobre as quais foram treinados, que geralmente são provenientes da internet ou de outras fontes públicas. Isso significa que a saída desses modelos pode refletir os vieses e imprecisões presentes nos dados de treinamento”, afirma Fedor Pak, CEO da Chatfuel AI, empresa americana que atua na indústria de chatbots e primeira parceira oficial da Meta.

Para Arthur Igreja, especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências, TEDx speaker e professor convidado da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o ChatGTP funciona hoje como um copiloto, um assistente júnior. “As pessoas estão, a cada dia, descobrindo novas funcionalidades e possibilidades. A resposta do ChatGPT é interativa, vai melhorando e aprendendo conforme os insights do usuário. Com isso, ele vai se tornando também mais útil. Porém, é importante entender que, por vezes, ele se alimenta de bases de dados frágeis, limitadas, e pode apresentar resultados errados”.

Segundo Lucas Fernandes, designer, desenvolvedor e “product owner” na École 42, escola internacional de formação em engenharia de software e programação, o ponto forte dessa nova geração de inteligências artificiais está na capacidade de executar tarefas que poderiam ser consideradas maçantes e repetitivas pelos seres humanos. “Afinal elas não ficam entediadas nem cansadas. Além disso, as IAs são capazes de processar e analisar grandes quantidades de dados em um curto espaço de tempo, o que gera grande vantagem em diferentes cenários. Isso permitiria que as pessoas se dedicassem a tarefas mais complexas e que exigem maior capacidade cognitiva”.

Para que elas podem ser usadas?

As possibilidades de uso das diferentes IAs são amplas e podem abarcar uma série de setores da economia. Abaixo destacamos alguns exemplos:

  • Vendas: o chatbot pode ajudar os profissionais da área a identificar as necessidades e preferências dos clientes, fazer recomendações personalizadas e fornecer informações relevantes para ajudar a fechar negócios;
  • Marketing: a IA pode analisar o histórico e o comportamento de compras do cliente para criar campanhas de marketing direcionadas e mensagens personalizadas;
  • Finanças: os modelos de IA podem ser treinados para analisar as tendências do mercado e prever os preços das ações e outros indicadores financeiros, ajudando investidores a tomarem decisões mais informados.
  • Educação: a ferramenta pode ser usada para personalizar as experiências de aprendizado dos alunos, fornecendo recomendações individualizadas e suporte com base em seus pontos fortes e fracos.

As IAs substituirão os humanos?

Em seu artigo, Gates aproveitou para afastar alguns medos entre o público sobre o desenvolvimento da IA. “Qualquer nova tecnologia tão disruptiva certamente deixará as pessoas desconfortáveis, e isso é verdade com a inteligência artificial. Eu entendo o porquê – levanta questões difíceis sobre a força de trabalho, o sistema jurídico, privacidade, preconceito e muito mais. IAs também cometem erros factuais e experimentam alucinações”, diz ele.

Apesar disso, ele afirma que está confiante que a tecnologia poderá “ajudar a capacitar as pessoas no trabalho, salvar vidas e melhorar a educação”, áreas que ele considera as mais importantes para aplicação da tecnologia. No entanto, estudo do Resume Builder com mil líderes empresariais nos EUA mostrou que 49% afirmaram estar usando o ChatGPT em suas empresas e 48% já haviam substituído trabalhadores pela ferramenta. Cerca de 90% dos executivos ressaltaram que saber mexer no ChatGPT tornou-se um diferencial para quem procura trabalho.

“Não acredito em substituição, pois o que ocorre é reflexo de um movimento histórico. Claro que com a IA existe uma mudança importante, pois estamos falando de atividades criativas, cognitivas, a chamada economia do conhecimento e da criatividade. Com isso, temos que reconhecer que tem um elemento inédito. Porém, historicamente, quando surge qualquer tecnologia, ela gera um certo choque no curto prazo e acaba revelando uma série de novas possibilidades, de novas tarefas e profissões que não existiam até então, justamente porque as pessoas estavam fazendo outras coisas. Não imagino um cenário apocalíptico de um desemprego em massa causado por ela”, defende Igreja.

Para Pak, a IA é um recurso que pode aumentar o potencial humano e a produtividade, mas não substitui os humanos em funções criativas. “Embora ela possa fornecer sugestões e auxiliar em tarefas criativas, ela não pode replicar verdadeiramente a criatividade humana. O avanço da tecnologia não significa que os humanos serão totalmente substituídos. Em vez disso, pessoas proficientes no uso de IA provavelmente terão maior demanda. Pelo menos por enquanto, a tecnologia ainda requer orientação e informações humanas para ser eficaz”.

Segundo Igreja, a única maneira de se preparar para o uso dos chatbots é testando e usando. “Diferente de outros tipos de software ou aplicações em que se consegue dar um ‘treinamento geral’, o sentido que o ChatGPT faz depende do que o usuário faz. Então, é algo extremamente individual e personalizado. O tema está evoluindo com tanta velocidade que não veremos pós-graduação em ChatGPT. Por isso, é importante que o usuário tente entender se a IA faz sentido para o conjunto de tarefas e para o dia dia dele”, completa.

Entenda como usar as IAs disponíveis

O ChatGPT deu início a uma corrida entre as empresas de tecnologia pela inteligência artificial. O Google se aventurou na área, lançando o Bard e a Microsoft aposta no novo Bing. Por sua vez, a Amazon Web Services, divisão de serviço de armazenamento em nuvem da Amazon, está ampliando sua parceria com a startup de inteligência artificial Hugging Face, que está desenvolvendo um sistema rival do ChatGPT. Conheça abaixo as principais ferramentas até o momento e como utilizá-las:

  • ChatGPT

O chatbot funciona de forma semelhante às assistentes virtuais Alexa, da Amazon, e Siri, da Apple, sendo capaz de manter interações fluidas e naturais. A diferença é que o ChatGPT se comunica por texto ao invés da voz. Existe uma versão gratuita e uma versão Plus, disponível pelo pagamento de US$20 por mês que oferece possibilidades como utilizar a ferramenta quando muitos usuários estiveram logados. Para usar a versão gratuita é simples: basta acessar este link, clicar em “TryChatGPT”, criar um login e senha e enviar perguntas ou comandos por escritos no espaço para diálogo.

  • Bing

O Bing, versão de IA generativa da Microsoft, é gratuito e pode ser utilizado da seguinte forma:

  1. Acesse bing.com/new;
  2. Clique em “Entrar no chat” e, caso não esteja usando o navegador Microsoft Edge, clique em “abrir no Microsoft Edge;
  3. Clique em “Abrir Chat” e faça login com uma conta da Microsoft. Depois é só escrever o que deseja perguntar para a ferramenta.
  • Bard

Recentemente, o Google apresentou o Bard como sua aposta para o mercado de IAs. A inteligência artificial se parece muito com o ChatGPT e o Bing Chat. Nele, o usuário escreve o que deseja e recebe uma resposta em forma de conversa por texto. Por enquanto, apenas EUA e Reino Unido estão experimentando a ferramenta e não há previsões para a versão brasileira. Caso o usuário seja assinante de algum serviço de VPN (Virtual Private Network), é possível se inscrever mesmo no Brasil e entrar na lista de espera. Para isso, é preciso acessar a página bard.google.com, fazer o login com a sua conta do Google e aceitar os termos do

  • Siri

A Siri, da Apple, poderá ganhar um modelo de linguagem baseado em inteligência artificial como o ChatGPT. De acordo com o jornal The New York Times, a Apple está testando conceitos de IA generativa para otimizar interações e respostas da assistente virtual. Os funcionários teriam sido informados sobre o novo projeto e outras ferramentas em fevereiro. Além disso, os engenheiros da empresa estariam testando os conceitos de geração de linguagem.

  • Databricks

A Databricks, startup de softwares de análise e mineração de dados baseados em computação, lançou na última sexta-feira (24) um código-fonte aberto que as empresas poderão usar para criar seus próprios chatbots nos moldes do ChatGPT da OpenAI. O código é um modelo de inteligência artificial, um algoritmo que é treinado em conjuntos de dados e pode “aprender” com essas informações a executar uma variedade de tarefas. A empresa quer que as companhias treinem seus próprios modelos de inteligência artificial usando seu software.