31/03/2023 - 12:47
Enquanto os países europeus seguem firmes na decisão de somente veículos elétricos serem produzidos e comercializados no continente a partir de 2035, os motores a combustão, supostamente condenados, podem ganhar uma nova chance com produção da gasolina sintética.
Em dezembro do ano passado, a “planta piloto” Haru Oni, no Chile, iniciou a produção em larga escala da eFuels, uma gasolina sintética feita a partir de água e gás carbônico.
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O projeto conta com a participação da Porsche e o processo produtivo do combustível envolve, em uma primeira fase, a ligação do hidrogênio (obtido com a eletrólise da água) com a captura de CO2. Dessa etapa, é obtido um primeiro produto, o metanol sintético. Com a ajuda de um catalisador, o metanol é sintetizado, possibilitando a produção de diferentes tipos de combustíveis sintéticos, não apenas a gasolina.
Não polui?
Um dos principais motivos para os motores a combustão estarem com os dias contados na Europa é devido a sua emissão de poluentes. “Então, a gasolina sintética polui menos?” você deve estar se perguntando. E a resposta é não, ela polui tanto quanto a gasolina comum, mas para ser produzida ela utiliza o gás carbônico da atmosfera em conjunto com hidrogênio, sem jogar mais poluentes no ar.
“O combustível sintético permitiria aos veículos existentes hoje uma operação praticamente neutra, visto que o CO2 liberado pela combustão é equivalente à quantidade anteriormente capturada para a produção do combustível”, explica Leandro Rodrigues, gerente de Relações Públicas e Comunicações da Porsche do Brasil.
Carro precisa de adaptação?
O eFuels possui as mesmas características da gasolina produzida a partir do petróleo, ou seja, pode ser utilizado em qualquer veículo, sem necessidade de adaptação ou conversão.
“Uma das grandes vantagens desta tecnologia é se tratar de uma solução ‘plug & play’. O combustível é compatível com qualquer motor já existente desenvolvido para funcionar com gasolina”, disse Rodrigues.
Gasolina sintética é mais cara?
Outro fator que deve definir o sucesso da gasolina sintética é seu preço, que deve se tornar mais atraente conforme a produção for aumentando. “Estimamos que o custo do combustível seja 2 dólares por litro. Se os eFuels forem produzidos industrialmente em grande escala no futuro, o preço cairá. Em conjunto com um aumento presumido do preço dos combustíveis fósseis devido à regulamentação, os preços se estabilizarão em um nível comparável no médio prazo. Espera-se que os preços ao consumidor dos eFuels se tornem competitivos nesta década”, estimou o representante da Porsche.
Quando esse combustível chegará ao público?
Ainda em testes, a produção da planta de Haru Oni inicialmente será usada nos carros da Porsche Supercup e nos Porsche Experience Centers, ambos no continente europeu. Ainda não há uma data exata para o combustível sintético ser vendido comercialmente, mas os planos para o aumento da produção já estão traçados.
“Hoje, nossa planta no Chile ainda opera em fase de testes, com capacidade limitada em 130.000L. Até a metade da década, a nossa parceira HIF Global será capaz de produzir 55 milhões de litros. Cerca de dois anos depois, com 380 turbinas eólicas planejadas e uma capacidade de eletrólise de 2,5 gigawatts por ano, poderiam ser fornecidos 550 milhões de litros de gasolina neutra em Co2. Essa quantidade é suficiente para abastecer aproximadamente um milhão de veículos com emissões neutras de CO2 por um ano”, concluiu Rodrigues. Como comparação, somente o estado de São Paulo conta com mais de 19 milhões de automóveis, de acordo com levantamento do IBGE referente a 2022.