Nesta sexta-feira, 31 de março, completa 59 anos do golpe militar de 1964, fato que gera consequências até hoje no Brasil. Nessa data, militares depuseram o presidente João Goulart (PTB) e assumiram o poder instaurando um regime ditatorial que durou 21 anos e resultou em mortes, desaparecimentos, tortura, censura e cerceamento de direitos políticos.

O senador e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) elogiou hoje o golpe de 1964 que, para ele, deixou legado positivo. “É praticamente impossível não encontrar os traços e antecedentes das reformas empreendidas naquele período, que dinamizaram sua sociedade e, principalmente, fortaleceram a democracia brasileira, que, pela primeira vez, teve um regime inaugurado sem golpe de Estado”, disse.

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Se do ponto de vista humanitário e democrático a ditadura deixou uma mancha sombria na história brasileira, é possível afirmar que a ditadura deixou um legado positivo na economia? Especialistas apontam pontos positivos e negativos do desempenho econômico durante o período.

Pontos positivos

  • “Tivemos grandes investimentos em obras públicas, principalmente na área de infraestrutura. A década de 70 registrou elevado crescimento de nosso PIB (produto interno bruto), com média de crescimento anual acima de 10%”, afirma Natale Papa, economista da Escola Start.
  • “O regime incentivou às exportações, com o objetivo de industrializar o país e tivemos progressos no sistema financeiro nacional, com a criação do Banco Central do Brasil, que centralizou a fiscalização do sistema financeiro e assumiu as funções da antiga SUMOC (Superintendência de Moeda e Crédito)”, diz Ricardo Rodil, especialista em investimentos e líder do Mercado de Capitais do Grupo Crowe Macro.
  • “Com o crédito mundial mais barato, o Brasil estimulou a entrada de capital estrangeiro e aplicou na indústria e em reformas estruturais. O crescimento gerado pelo investimento do governo gerou novos postos de emprego no mercado formal e aumento do consumo”, afirma Carol Curimbaba, administradora pela FGV-SP e MBA em gestão e business pela FIA Business School.
  • “Criação do Sistema Financeiro da Habitação, comandado pelo extinto BNH (Banco Nacional da Habitação) e pela Caixa Econômica Federal, e cuja principal fonte de financiamento foi o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), além da criação de obras de grande monta e impacto, tais como a ponte Rio-Niterói e Itaipú”, diz Rodil.

Pontos negativos

  • “O crescimento do período se deu em grande parte graças ao aumento da dívida pública do nosso país que, por sua vez, com os choques do petróleo naquela década e, consequente, aumento do valor do dólar e gastos com importação de combustíveis, trouxeram situação de forte entrave econômico. Com a dívida externa crescendo e a inflação galopante com aumentos generalizados de preços seguindo as altas de combustíveis no cenário internacional, o país afundou em grave crise econômica e social com quedas no PIB. O processo resultou para que os anos 80 sejam chamados de ‘década perdida’”, afirma Papa.
  • “Os salários não subiam, pois houve mudança na fórmula de reajuste pela inflação, o que levou a perdas reais para os trabalhadores em geral e a distância entre ricos e pobres cresceu”, afirma Curimbaba.
  • “Obras de grande monta e impacto, que foram ‘enfiadas goela abaixo’, contratadas com pouca transparência e gerando casos de corrupção que, segundo especialistas na área de obras públicas, acabaram custando muito mais do que o necessário ao erário público”, diz Rodil.
  • “Criação de quase 300 empresas estatais ou de economia mista, que são até agora consideradas cabides de emprego e fontes de corrupção e de negociações políticas pouco republicanas”, afirma Rodil.