06/04/2023 - 17:16
O luto se espalhou pela cidade. Dono de uma loja de roupas no centro de Blumenau, o comerciante de Carlos Costa, de 47 anos, colocou um cartaz na vitrine da local como forma de homenagear as vítimas do ataque* na creche Cantinho do Bom Pastor na quarta-feira, 5. “Que Deus conforte os corações das famílias”, diz um trecho da mensagem colada rente à porta.
“Foi uma tragédia que mexeu muito com a gente. Então decidi fazer isso e colocar os manequins todos de preto”, afirmou ele, que tem um casal de filhos, de 6 e 10 anos. Assustado após o massacre, ele decidiu buscá-los na escola antes do fim das aulas.
O atentado de Blumenau, conta Carlos, o fez lembrar o massacre de Saudades, em 2021, quando duas mulheres e três crianças foram mortas, que também impactou moradores da cidade. Mas dessa vez ele disse que foi bem pior. “A mãe de uma das vítimas é próxima da minha sogra, então isso mexeu mais ainda com a gente. Eu mal conseguia me mover no dia.”
As quatro vítimas do homem que pulou o muro da creche e atingiu as crianças com golpes de machadinha foram enterradas na manhã desta quinta-feira, 6, em dois cemitérios da cidade, sob forte clima de comoção.
Depois do sepultamento das crianças, dezenas de coroas de flores foram levadas para a porta da creche Cantinho do Bom Pastor. A vigília seguia por lá no fim da tarde desta quinta, com velas acesas na porta e moradores indo até o local para prestar homenagens.
Ao lado da entrada, também havia bichos de pelúcia e desenhos de outras crianças. Em uma das ilustrações, quatro anjos são retratados – três meninos e uma menina – em alusão às vítimas do atentado. Em outro, os dizeres: “Força para recomeçar”.
Outras cinco crianças ficaram feridas no ataque, mas todas já estão em casa. Duas meninas de 5 anos e dois meninos de 5 e 3 anos deixaram nesta quinta o Hospital Santo Antônio. Uma quinta criança, que foi levada para o Hospital Santa Isabel, recebeu alta ainda ontem.
As crianças foram atingidas enquanto brincavam no pátio da creche.
*NOTA DA REDAÇÃO: O Estadão decidiu não publicar foto, vídeo, nome ou outras informações sobre o autor do ataque, embora ele seja maior de idade. Essa decisão segue recomendações de estudiosos em comunicação e violência. Pesquisas mostram que essa exposição pode levar a um efeito de contágio, de valorização e de estímulo do ato de violência em indivíduos e comunidades de ódio, o que resulta em novos casos. A visibilidade dos agressores é considerada como um “troféu” dentro dessas redes. Pelo mesmo motivo, também não foram divulgados vídeos do ataque em uma escola estadual na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, no último dia 27 de março.