Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) – A defesa de Jair Bolsonaro disse que o ex-presidente negou em depoimento na manhã desta quarta-feira à Polícia Federal qualquer tipo de envolvimento nos atos que levaram à invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro, e que fez uma “postagem acidental” dias após o ocorrido.

Bolsonaro depôs por menos de 1 hora e meia na sede da PF em Brasília no inquérito que tramita perante o Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga se ele estimulou ou teve participação indireta nos atos violentos.

Bolsonaro chegou na sede da Polícia Federal em Brasília de carro por volta das 8h45, segundo uma fonte da corporação.

Na saída, os advogados de Bolsonaro deram uma rápida entrevista à imprensa. O ex-ministro e advogado Fábio Wajngarten, que tem também atuado na comunicação do ex-presidente, disse que ele negou qualquer participação nos atos de janeiro.

“O presidente repudiou na noite do 8 todos os acontecimentos lamentáveis que aconteceram aqui em Brasília”, afirmou.

“Finda a eleição, o presidente virou a página política dele. O presidente enfrentou um processo de erisipela severo, não recebeu pessoas no palácio, não articulou objetivamente, se fechou e no 30 (de dezembro) ele viajou aos EUA onde permaneceu até o final de março”, reforçou.

Os advogados de Bolsonaro também foram questionados sobre o fato de o ex-presidente ter compartilhado em suas redes sociais, três dias após os ataques, um vídeo em que um procurador de Estado do Mato Grosso do Sul em que fez ataques e informações falsas sobre as urnas eletrônicas.

Os defensores alegaram que ele publicou o vídeo de forma “acidental” e que tão logo percebeu retirou-o do ar.

“Tanto a postagem foi acidental, que ele não fez nenhum comentário em cima deste post e apagou logo na sequência”, disse o advogado Paulo Amador da Cunha Bueno, ao destacar que, assim que saiu em férias, Bolsonaro tratou a eleição como página virada e “em momento algum” vai se encontrar “alguma declaração dele declinando que a eleição foi fraudada”.

Wajngarten disse que Bolsonaro não falou sobre a chamada minuta do golpe no depoimento. Esse documento foi encontrado pela PF em uma busca e apreensão em janeiro feita na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal Anderson Torres.

Essa minuta de um decreto procurava estabelecer as condições para a reversão da vitória eleitoral do agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um indicativo de que poderia haver um golpe de Estado em curso.

Wajngarten acrescentou que o ex-presidente está à disposição de depor à PF quantas vezes for necessário.

O depoimento do ex-presidente foi determinado na semana passada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao atender a pedido formulado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) que alegava ser uma medida indispensável o depoimento de Bolsonaro para o completo esclarecimento dos fatos investigados.

A PGR, que apura os autores intelectuais do ataques aos Poderes, já havia pedido para ouvir o ex-presidente, mas o pedido não havia sido apreciado anteriormente porque ele estava fora do país desde antes da virada do ano. Ele voltou no dia 30 de março.

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