O recuo de 1,6% no volume de serviços prestados no País em abril ante março chama atenção por sua disseminação setorial e territorial, mas não significa reversão da trajetória de crescimento, e sim uma perda de fôlego diante de uma base de comparação elevada, avaliou Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A queda nos serviços em abril ante março foi a mais intensa para o mês desde 2020, quando houve retração de 10,9%, em meio à pandemia de covid-19.

“É inegável que ele (o recuo em abril) chama atenção, nem tanto pela magnitude, mas pelo espalhamento, seja por quatro dos cinco setores mostrando queda, seja pelo espalhamento também em termos regionais. Mas, como os serviços estão operando muito perto do seu ponto mais alto, o resultado isolado de abril não reverte trajetória”, disse Rodrigo Lobo.

Em abril, o volume de serviços prestados no País estava 2,9% abaixo do ápice alcançado em dezembro de 2022.

Após atingir patamar recorde no fim do ano passado, o setor de serviços registrou duas taxas negativas e duas positivas em 2023: janeiro (-3,4%), fevereiro (0,8%), março (1,4%) e abril (-1,6%).

“Tem duas taxas negativas em 2023, e duas taxas positivas, sendo que as taxas negativas foram de maior intensidade que as positivas”, reconheceu o pesquisador.

A única expansão em abril ante março ocorreu nos serviços prestados às famílias (1,2%). Houve perdas nas demais quatro atividades investigadas, com destaque para o setor de transportes (-4,4%), que devolveu parte do ganho de 7,5% acumulado em fevereiro e março. Os demais recuos ocorreram nos serviços de informação e comunicação (-1,0%), profissionais, administrativos e complementares (-0,6%) e outros serviços (-1,1%).

“Fazia tempo que a gente não tinha uma disseminação de taxas negativas”, frisou Lobo.

O volume de serviços recuou em 26 das 27 Unidades da Federação em abril ante março, tendo como impactos mais importantes as perdas de São Paulo (-1,5%) e Rio de Janeiro (-5,5%), seguidas por Santa Catarina (-3,5%), Goiás (-5,6%) e Mato Grosso (-4,2%). O Ceará (1,0%) exerceu a única contribuição positiva do mês.

“De fato, não há como negar que, para o mês de abril, essa queda foi espalhada, tanto em termos setoriais como em termos regionais”, disse Lobo.

No entanto, ele pondera que “pela média móvel, o resultado de abril ainda não caracteriza reversão de trajetória” de crescimento.

A média móvel trimestral do volume prestado de serviços no País subiu 0,2% no trimestre encerrado em abril, o primeiro resultado positivo de 2023.

“Ainda não é queda vertiginosa (no mês), a média móvel está crescendo 0,2%”, frisou. “É perda de fôlego no ritmo de crescimento.”

Lobo lembra que os serviços cresceram por dois anos em ritmo forte, recuperando-se do choque inicial da pandemia de Covid-19. Com a base de comparação já suficientemente elevada, fica difícil sustentar o crescimento no mesmo ritmo, e, portanto, os serviços têm “naturalmente perda de fôlego”, justificou. O pesquisador avalia que, apesar da oscilação nos quatro primeiros meses de 2023, os serviços mostram resiliência, conseguindo de manter em patamar próximo ao recorde visto em dezembro de 2022.

“É uma manutenção, ligeiramente abaixo, mas não é queda vertiginosa. Não há trajetória descendente clara”, insistiu ele.

Segundo Lobo, a pesquisa não tem mostrado sinais de impacto da política monetária sobre a atividade de serviços por enquanto, sendo apenas um dos pilares a influenciar a demanda, com prejuízos maiores aos investimentos de longo prazo.

“A taxa de juros já está no patamar de 13% já há algum tempo. Ela não foi impedimento para que os serviços alcançassem nível recorde em dezembro de 2022”, notou Lobo.