O governo e a política tem forte interferência na economia de um país, com os movimentos monetários, desoneração de impostos, investimentos, gastos do próprio governo (sendo este detalhe uma das variáveis do PIB brasileiro) e até recentemente com interferência na taxa Selic – visto que desde 2021 temos o Banco Central com total autonomia – , mas será que o contrário também acontece? 

Antes de qualquer coisa, vamos falar sobre as relações dos indicadores econômicos e seus impactos na política. Considerando o período pós-ditadura militar que se iniciou com o Governo de José Sarney em 1985.

 

José Sarney (1985 – 1990)

Apesar do povo clamar pelas chamadas ‘Diretas Já’, a eleição de 15 de janeiro de 1985 ainda aconteceu de forma indireta, com a votação sendo realizada por um colegiado de 686 votantes, onde Tancredo Neves foi eleito com 480 votos, frente a Paulo Maluf com 180 votos e 26 abstenções.

José Sarney era vice na chapa de Tancredo Neves e com seu falecimento, dias antes de tomar posse, Sarney é empossado como Presidente do Brasil.

Seu governo foi marcado por grandes avanços na política externa do Brasil: regularização de partidos políticos e até do crescimento do PIB e da balança comercial. Porém existia um indicador que apesar de inúmeras trocas de ministros e planos econômicos (Cruzado I, Cruzado II, Plano Bresser e Plano Verão) não conseguiu resolver: inflação. Com isso seu governo se encerra com 60% de reprovação e surge uma nova linha política nas próximas eleições.

 

Fernando Collor de Mello (1990 – 1992)

Primeiro presidente eleito pelo voto direto depois de 29 anos, seu mandato teve políticas marcantes como de abertura de mercado, onde buscou aumentar a competitividade e elevar o padrão dos produtos nacionais, confisco da poupança dos brasileiros com o intuito de diminuir a moeda corrente e consequentemente a inflação.

Como efeitos colaterais desenvolveu uma alta quantidade de falência da indústria nacional, não preparada para o livre comércio e uma insatisfação popular pelo confisco de seus recursos por 18 meses. Aliado a isto a pouca coligação e experiência política, sem obter os objetivos de queda de inflação e crescimento econômico com o plano Collor que gerou um cenário de instabilidade popular no país.

Em 1992 com escândalos de corrupção envolvendo seu governo e pessoas próximas ao Presidente a situação ficou incontrolável. Manifestações populares se deram durante a votação pelo impeachment de Fernando Collor e lá se vai. 

 

Itamar Franco (1992-1994)

O governo de Itamar foi curto, mas suficiente no que diz respeito a levantar a economia nacional e implantar o controle da inflação com a criação do Plano Real. Itamar alcançou índices tão altos de aprovação e popularidade que seu apoio a Fernando Henrique Cardoso, foram essenciais para a próxima eleição.

 

Fernando Henrique Cardoso (1994-2002)

Com o apoio de Itamar e prestígio de ter sido o Ministro da Fazenda a implementar o plano real, Fernando foi eleito como presidente do Brasil e em seu primeiro mandato conseguiu manter a inflação sobre controle, realizar privatizações, aprovar reformas administrativas e governou com certa tranquilidade, tanto que se reelegeu em seu segundo mandato em primeiro turno.

Neste segundo mandato teve mais dificuldades, com a forte desvalorização do real em 1999 e problemas de infraestrutura, conhecidos como “crise do apagão”. Mesmo assim, permaneceu para finalizar o mandato, dando lugar ao próximo. 

 

Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2011)

Os governos de Lula ficaram marcados por ser um período de intenso crescimento econômico do Brasil, em seus governos se verificou um forte controle de inflação, crescimento de PIB, mesmo enfrentando uma crise internacional em 2008 – 2009 (quando foram feitas forte parcerias com a China, consumidora de commodities, incentivando o consumo interno, e reduzindo os impactos da crise). Também foi o ano com menor nível de desemprego e ganho real de renda, melhorando a vida da população como um todo.

Foram implementados programas sociais e neste cenário de prosperidade, nem as denúncias de corrupção, como o mensalão, abalaram o prestígio do atual presidente. Este saiu com uma alta popularidade e conseguiu eleger sua sucessora na presidência.  Vale lembrar que este mesmos escândalos já tinham derrubado Fernando Collor. 

 

Dilma Rousseff (2011 – 2016)

Ancorada no prestígio do Presidente Lula, Dilma se elegeu como a primeira mulher presidente do Brasil buscando manter a política do governo anterior de incentivos, desonerações e programas sociais. Mas com um cenário adverso causado pela crise da economia internacional, redução no preço das commodities e queda das importações houve um crescimento econômico modesto, sendo de 4% em 2011, 1,9% em 2012, 3% em 2013 e 0,5% em 2014.

A partir de 2013, as demonstrações de insatisfação de uma parcela da sociedade com o governo de Dilma Rousseff começaram a ganhar força. O fracasso na agenda econômica deu combustível a essa insatisfação, neste cenário a Presidente Dilma conseguiu sua reeleição em uma disputa bastante acirrada com Aécio Neves. 

Em seu segundo mandato Dilma continua a fracassar na pasta econômica, levando o país em 2015 a um período de recessão aliados a baixa governabilidade e escândalos de corrupção de pessoas ligadas a seu partido. O que ocasionou em mais um impeachment, coincidência ou não, o segundo impeachment em momentos de crise econômica e queda de PIB.

Será que o impeachment de Dilma aconteceria, se tivéssemos uma economia em alta? Será que as tais ‘pedaladas fiscais’ teriam força ou apoio para derrubar mais um presidente?

 

Michel Temer (2016 – 2018)

Este assume a presidência após o impeachment de Dilma, em seus primeiros meses de mandato consegue uma recuperação econômica impressionante, com recuperação da credibilidade do país, diminuição do risco, queda da inflação, redução de juros, crescimento econômico e aprovação de importantes reformas.

Tudo caminhava para um novo ciclo de prosperidade, mas Temer e o Brasil foram surpreendidos por uma gravação de Joesley Batista (JBS), onde mais um escândalo vem à tona e interrompe a governabilidade e as condições para aprovação de novas reformas. O Brasil vem a buscar uma nova política nas próximas eleições e nasce uma Direita até então desconhecida.

 

Jair Messias Bolsonaro (2018 -2022)

Eleito após uma onda de renovação que surgia na população brasileira, Bolsonaro governou por 4 anos e neste período é muito difícil fazer uma análise no espectro que estamos realizando, pois em seu mandato sofremos uma pandemia mundial que distorceu toda curva de análise e aprendizado dos últimos 100 anos.

No governo do Bolsonaro, passamos por uma crise sanitária, de poderes e institucional, mas apesar disso tivemos ações efetivas para impulsionar a economia, como as linhas de crédito subsidiadas, o auxílio emergencial, a liberação de FGTS e controle da inflação em um momento de queda de produção. Fato estes que fizeram com que tivéssemos resultados econômicos superiores aos comparados com as demais economias do mundo. 

Entretanto, mesmo com estas ações, tivemos crescimentos de PIB baixos e aliados à rejeição causada por falas apostas e equivocadas no período da pandemia. Por isso o mesmo não conseguiu sua reeleição.

 

Retornando ao centro de nossa discussão e análise, fica evidente que a economia interfere na política em nosso país. E assim verificamos que em momentos de estabilidade e ou crescimento econômico, os governos se mantêm bem avaliados e continuam com seus mandatos ou de seus aliados. 

Já em momentos de desemprego, inflação e queda de PIB, a população pressiona o governo por mudanças imediatas ou indo para os próximos pleitos eleitorais. 

A economia interfere diretamente na qualidade de vida das pessoas e estas refletem diretamente na política do país.