Depois de funcionar de forma reduzida por quase 30 horas, a Linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), teve as suas operações normalizadas nesta quarta-feira, 4. O modal estava atuando por via única em alguns trechos, em razão de um problema no sistema elétrico identificado por volta das 14h da última terça, 3. A falha afetou o trajeto entre as estações Morumbi e Villa Lobos-Jaguaré.

De acordo com a concessionária ViaMobilidade, empresa privada responsável pelo trecho, as operações da Linha 9-Esmeralda foram restabelecidas às 17h22 desta quarta. O trabalho de manutenção envolveu cerca de 70 funcionários, divididos em cinco frentes. Por conta da paralisação, os ônibus do Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência (Paese) atenderam o público que ficou impossibilitado de pegar o trem.

“Durante todo o período, os passageiros foram orientados pelos AAS (Agentes de Atendimento e Segurança) nos trens e estações”, informou a ViaMobilidade, que também opera a Linha 8-Diamante, em nota.

A concessionária abriu boletim de ocorrência para investigação de suposto vandalismo na região onde ocorreu a falha. No documento, obtido pelo Estadão, consta que Rafael Custódio de Sá, que se apresentou como gerente de engenharia da parte elétrica da ViaMobilidade, relatou que, quando chegou à Estação Pinheiros, notou que a rede aérea estava “consideravelmente danificada e de uma forma anormal para o sistema, tendo em vista a extensão muito grande”.

Ele disse à polícia que a equipe notou que “os consoles que ficam nos postes sustentando os cabos estavam soltos em todo o trecho citado”, que compreendem as estações Vila Olímpia, Cidade Jardim, Hebraica Rebouças, Pinheiros e Cidade Universitária.

Na Marginal do Pinheiros, na altura do número 7.037, a equipe relata ter encontrado “pedras estranhas ao sistema (grandes e não britas) próximas ao posteamento onde o console se soltou”, além de, dentro desse trecho de aproximadamente 90 metros, cinco gradis abertos. Entre a estação Pinheiros e Cidade Jardim, na lateral da via (canaleta) os funcionários se depararam com “um objeto metálico (composto por um tubo metálico e um cabo de aço) estranho ao sistema”.

“Questionado sobre a extensão do dano e o encontro de alguns objetos estranhos em um ponto determinado, explica que, no momento, não consegue explicar como se deu esse dano, mas assevera que algo pode ter sido jogado sobre o trem ou sobre a rede aérea, sendo arrastado pelo trem por conta da inércia após o dano na rede, colapsando o sistema”, diz o boletim.

“A gente não pode afirmar ainda que foi um ato de vandalismo ainda”, disse Marcio Hannas, presidente da Divisão de Mobilidade da CCR, à Globo. “Esse material que foi encontrado não faz parte do nosso sistema. A única causa que eu não consigo afirmar é que essa foi a causa do problema.”

O Estadão entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), mas ainda não obteve retorno. No boletim de ocorrência, a equipe policial solicita perícia no local.

Nas redes sociais, passageiros relatam o transtorno. “Voltando para casa por problemas na Linha 9-Esmeralda”, escreve uma internauta. “Linha só está funcionando até (a estação) Morumbi. De lá, é mais uma humilhação pra pegar o Paese”, conta outra.

Na terça, 3, a Linha 9 também teve problemas por volta das 14 horas e a circulação dos trens entre as estações Morumbi e Villa Lobos – Jaguaré chegou a ficar paralisada por conta da ocorrência operacional. A falha na linha concedida ocorreu no mesmo dia da greve convocada por sindicatos de funcionários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), do Metrô e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

As categorias cruzaram os braços durante 24 horas em protesto contra o plano de desestatizar serviços operados pelas empresas públicas, uma das bandeiras da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). Os grevistas descumpriram decisão da Justiça do Trabalho, que previa operação de 100% dos serviços em horários de pico. O abastecimento de água não teve interrupções.

Os sindicalistas alegam que a entrega da operação ao sistema privado pode tornar os serviços mais caros e com pior qualidade. O grupo cita, como argumento, falhas frequentes, como lentidão e descarrilamentos, justamente nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, ambas administradas pela ViaMobilidade.

Os problemas levaram ao aumento de reclamação dos usuários do transporte e até investigação por parte do Ministério Público. A ViaMobilidade, consórcio que assumiu as linhas, tem afirmado fazer obras de melhorias e colocado novos trens em operação.

Tarcísio afirmou nesta terça que não vai abandonar os planos de passar a gestão das linhas para a iniciativa privada e classificou o movimento como “político”. Disse ainda que os projetos de desestatização serão amplamente discutidos com a sociedade.