29/10/2023 - 10:42
Agência das Nações Unidas diz que invasão às instalações com ajuda humanitária é “sinal preocupante” do desespero da população e do colapso da ordem civil após três semanas de conflito.
+Comunicações são restabelecidas gradualmente em Gaza
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) afirmou neste domingo (29/10) que milhares de moradores da Faixa de Gaza invadiram armazéns da organização em busca de comida e outros itens básicos de sobrevivência, num sinal do desespero crescente da população em meio à crise humanitária agravada pelo conflito entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico Hamas.
“As pessoas estão assustadas, frustradas e desesperadas”, disse Thomas White, diretor da UNRWA em Gaza. Segundo ele, o episódio é um “sinal preocupante de que a ordem civil está começando a ruir após três semanas de guerra e um cerco apertado a Gaza”.
Em 7 de outubro, terroristas do braço militar do Hamas perpetraram ataques e atrocidades contra a população israelense, massacrando mais de 1.400 pessoas e sequestrando mais de uma centena. Em resposta à ofensiva, Israel declarou guerra ao grupo no dia seguinte: intensos e incessantes bombardeios israelenses contra Gaza, controlada pelo Hamas desde 2007, já mataram mais de 8.000 pessoas, a maioria mulheres e crianças, segundo autoridades locais.
Forças israelenses implementaram ainda um “cerco total” ao enclave palestino, gerando escassez de água, comida, energia e combustível. A medida e os bombardeios israelenses levaram a uma “catástrofe humanitária sem precedentes” em Gaza, segundo a ONU.
A UNRWA, por sua vez, fornece serviços básicos a centenas de milhares de pessoas no território sitiado. Escolas em todo o enclave foram transformadas em abrigos lotados que acolhem palestinos deslocados pelo conflito.
Desde o início de sua guerra declarada ao Hamas, Israel permitiu apenas a entrada de uma pequena quantidade de ajuda humanitária vinda do Egito, parte da qual estava armazenada em um dos armazéns que foi invadido, disse a UNRWA.
Juliette Touma, porta-voz da agência da ONU, informou que a multidão invadiu quatro instalações no sábado. Os armazéns, segundo ela, não continham combustível, que tem sido extremamente escasso desde que Israel cortou todas as remessas após o início do conflito.
“Segundo estágio” do conflito
Neste fim de semana, tanques e tropas israelenses entraram em Gaza, numa ampliação da ofensiva terrestre destinada a reprimir o Hamas, enquanto o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, anunciou um “segundo estágio” do conflito.
Forças israelenses seguem também bombardeando o território por ar. Ataques aéreos interromperam a maior parte das comunicações no território na sexta-feira, isolando do mundo os 2,3 milhões de habitantes do enclave sitiado. As comunicações foram restabelecidas em grande parte de Gaza no início deste domingo.
Militares israelenses disseram que atingiram mais de 450 alvos militantes nas últimas 24 horas, incluindo centros de comando do Hamas, postos de observação e posições de lançamento de mísseis antitanque.
Um ataque aéreo israelense ainda atingiu uma casa de dois andares na cidade de Khan Younis neste domingo, matando pelo menos 13 pessoas, incluindo 10 de uma mesma família.
Situação crítica em hospitais
Enquanto isso, moradores que vivem perto do Hospital Shifa, o maior de Gaza, disseram que ataques aéreos israelenses durante a noite atingiram o complexo hospitalar e bloquearam muitas estradas que levam ao local. Israel acusa o Hamas de ter um posto de comando secreto embaixo do hospital.
Dezenas de milhares de civis estão se abrigando no Shifa, que também está lotado de pacientes feridos nos ataques.
“Chegar ao hospital tem se tornado cada vez mais difícil”, disse Mahmoud al-Sawah, que está abrigado no local. “Parece que eles querem isolar a área.” Outro morador da Cidade de Gaza, Abdallah Sayed, disse que os bombardeios israelenses nos últimos dois dias foram “os mais violentos e intensos” desde o início do conflito.
Recentemente, o exército israelense divulgou imagens geradas por computador mostrando o que seriam instalações do Hamas dentro e ao redor do Hospital Shifa, bem como depoimentos de combatentes do Hamas capturados.
Pouco se sabe sobre os túneis e outras infraestruturas do Hamas. O grupo fundamentalista nega as alegações israelenses e diz que elas têm o objetivo de justificar futuros ataques às instalações em Gaza.
O serviço de resgate do Crescente Vermelho Palestino disse que outro hospital da Cidade de Gaza recebeu duas ligações das autoridades israelenses neste domingo ordenando sua evacuação. Segundo a organização humanitária, ataques aéreos atingiram áreas a até 50 metros do Hospital Al-Quds, onde 12.000 pessoas estão abrigadas.
Israel havia ordenado a evacuação do hospital há mais de uma semana, mas a instalação, assim como outras em Gaza, se recusou, dizendo que isso significaria a morte para os pacientes que precisam de ventiladores. Não houve nenhum comentário imediato de Israel sobre a última ordem de evacuação ou sobre os ataques perto de Shifa.
Israel afirma que a maioria dos residentes acatou suas ordens de fugir para a parte sul do território sitiado, mas centenas de milhares permanecem no norte do enclave.
ek (AP, DPA, ots)