O Brasil tem mais templos ou outros tipos de estabelecimentos religiosos do que a soma de instituições de ensino e unidades de saúde, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta sexta-feira, 2, com base em dados do Censo 2022.

Segundo a análise dos números, o País tinha 579,8 mil estabelecimentos religiosos em 2022, enquanto havia 264,4 mil de ensino e 247,5 mil de saúde. No Amazonas e em Rondônia, a proporção de estabelecimentos religiosos (19.134 e 7.670, respectivamente) é o dobro da soma dos de ensino e saúde (9.790 e 3.820, respectivamente). Já São Paulo, Piauí e os três Estados do Sul são as únicas unidades da federação cuja soma entre estabelecimentos de ensino e de saúde supera a de religiosos. O levantamento parte de coordenadas geográficas das espécies de endereços do Censo 2022, que agora integram o Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos do IBGE.

Transição

Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, o alto número de estabelecimentos religiosos surpreende de certa forma se for comparado a estudos recentes, mas condiz com um fenômeno pelo qual o Brasil passa há muito tempo: o da transição religiosa. “Na época da monarquia, no primeiro Censo, você tinha mais de 99% de católicos. Havia um pouquinho de evangélicos vindos da Europa. Isso veio diminuindo ao longo das décadas, e agora os católicos estão em torno de 50%, e diminuindo ainda mais, enquanto os evangélicos são pouco mais de 30%”, diz Alves.

Pesquisa do cientista político Victor Araújo, associado ao Centro de Estudos da Metrópole (CEM), mapeou essa transição. Só em 2019, foram abertas 6.356 igrejas evangélicas no País, média de 17 por dia. O estudo rastreou 109,5 mil igrejas evangélicas de muitas denominações, ante cerca de 20 mil em 2015. O predomínio é das pentecostais. Entre os motivos do boom está o enfraquecimento do catolicismo, que perdeu alcance com a formação das periferias urbanas após o êxodo rural.

Mas, segundo Alves, os dados do IBGE são mais amplos. “As pesquisas anteriores consideraram os templos religiosos registrados, com CNPJ, enquanto a do IBGE pega todo estabelecimento religioso, com CNPJ ou não e não necessariamente templos. A Igreja Universal, por exemplo, pode ter uma casa num bairro pobre para distribuir alimentos, e ele é considerado um estabelecimento religioso. Vale também o contrário, a Igreja do Evangelho Quadrangular ter uma creche, e ela ser considerada um estabelecimento de ensino.”

Por isso, Alves diz ser preciso esperar novos estudos para não tirar conclusões precipitadas. “Esses dados são muito importantes, mas não dá pra tirar muita conclusão deles porque faltam muitos outros dados para se analisar.”

18 cidades têm mais residências do que moradores

Pelo menos 18 cidades brasileiras têm mais residências do que habitantes, segundo dados das coordenadas geográficas do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De forma geral, os municípios com mais casas do que pessoas são destinações turísticas, que costumam receber mais gente nos fins de semana, feriados e períodos de férias. Ilha Comprida, no litoral de São Paulo, é um deles.

O Estado que mais concentra municípios com essas características é o Rio Grande do Sul, segundo o censo. Arroio do Sol, a aproximadamente 170 quilômetros de Porto Alegre, tem 18,9 mil casas para 11,1 mil moradores. Ou seja, são quase duas casas (1,7) para cada habitante. O mesmo acontece em outras cidades gaúchas, como Xangri-Lá, Cidreira, Balneário Pinhal, Palmares do Sul e Imbé.

Os dados foram obtidos a partir das coordenadas geográficas do Censo 2022. Cada coordenada corresponde a um endereço visitado pelos agentes do recenseamento. O País tem 5.568 municípios.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.