08/02/2024 - 14:35
Um dos ingredientes mais importantes na fabricação de uma cerveja, o lúpulo é uma flor que atua no amargor e no sabor da bebida. A planta, no entanto, nunca se deu bem nos campos do Brasil e os grandes produtores do insumo ainda estão na parte norte do mundo: Estados Unidos e Alemanha são responsáveis por mais de 70% da produção mundial.
Desde 2018, porém, o Grupo Petrópolis quer provar que o Brasil pode entrar nesse mercado. No começo foi uma tentativa na fazenda da companhia na cidade de Teresópolis (RJ). A produção se expandiu para a cidade de Uberaba (MG) e, em 2023, aconteceu a primeira colheita do lúpulo da fazenda mineira.
“Temos orgulho em afirmar que o Grupo Petrópolis tem ocupado uma posição de destaque no que diz respeito ao cultivo do lúpulo em território nacional. Prova disso é que esta é a primeira plantação de lúpulo com o aval do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, comenta Diego Gomes, diretor industrial do Grupo Petrópolis.
Na cidade, foram semeadas, ao todo, 5.600 mudas de lúpulo das espécies Comet e Cascade em uma área de 2 hectares, num processo que vai do plantio à colheita e que tem duração aproximada de 150 dias.
Companhia quer quebrar paradigmas
Historicamente o lúpulo é cultivado em países mais frios, entre os paralelos 35 e 55 do hemisfério norte e não era interessante investir em produção local. Leonardo Penna, Engenheiro de Alimentos e Mestre Cervejeiro do Grupo Petrópolis, explicou que os engenheiros agrônomos da companhia quiseram “quebrar paradigmas” e provar que era possível produzir lúpulos de qualidade no Brasil.
“Depois que a gente viu que algumas espécies cresceram bem nos primeiros testes, a gente começou a melhorar alguns processos. Optamos por espécies, como dizem na agronomia, mais plásticas, que têm mais facilidade em se adaptar”, explicou.
“Ao mesmo tempo, nós buscamos processar esse lúpulo da melhor forma para não perder as características de sabor, óleos essenciais e aroma que foram obtidas no campo. É necessário ter uma secagem adequada, que embale sem oxigênio, que seja armazenado a frio e muitos outros cuidados”, explicou.
A plantação começou em 2018, com 316 plantas cultivadas na fazenda do grupo em Teresópolis, no Rio de Janeiro. Na ocasião, foram plantadas 10 espécies do insumo, para testar a adaptabilidade.
Mudança pode afetar a cultura cervejeira do país
O Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de cerveja do mundo, somente atrás de Estados Unidos e Alemanha. O clima quente e um inverno não tão rigoroso faz com que as cervejas mais consumidas nacionalmente sejam as mais secas e de amargor baixo.
No entanto, com o crescimento das microcervejarias no país, é cada vez maior a oferta de estilos de cerveja mais encorpadas com o amargor alto e uma presença de lúpulo no aroma e sabor.
Penna explica que as cervejas brasileiras foram ficando menos amargas com o tempo, mas que o crescimento das microcervejarias e uma cultura nascente de produção de lúpulo no país pode fazer com que o insumo se barateie e mais pessoas possam ter acesso a cervejas especiais.
“Nos Estados Unidos houve uma retomada de estilos na década de 1990, quando a lager era muito dominante. Hoje você tem uma gama muito grande de cervejas lupuladas, muito por conta desse desenvolvimento”, diz.
Expectativa é usar lúpulo na própria produção
A produção própria ainda não é suficiente para suprir a necessidade da cervejaria e o grupo está vendendo o insumo no seu e-commerce, para cervejeiros caseiros, e para microcervejarias.
Mas a companhia já lançou algumas edições especiais de cervejas com o lúpulo próprio. A Black Princess Braza Hops foi produzida duas vezes: em 2020 e em 2022. O rótulo foi desenvolvido pelo Centro Cervejeiro da Serra, uma microcervejaria do Grupo Petrópolis, localizada junto à unidade Fabril de Teresópolis.
Penna, no entanto, reforça que o sonho é usar o insumo em mais cervejas no futuro. “A gente acredita que no futuro vão estar falando do preço da saca do café e do quilo do lúpulo na TV”, torce.