30/07/2008 - 7:00
A PRINGLES TEM GOSTO DE BATATA frita, tem cara de batata frita e já teve batata- frita até no nome. Mas desde o dia 4 de julho, aos olhos da lei (acredite) ela é um simples….. biscoito. No máximo, uma espécie de salgado de batata. Quem mais comemorou a mudança foi a Procter&Gamble (P&G), a dona da marca, que nasceu como Pringle’s Newfangled Potato Chips há quatro décadas. Inadmissível para um produto ícone? Não necessariamente. A fabricante não só gostou da idéia como a defendeu com unhas e dentes. “Ela é totalmente diferente de um batata frita”, tem repetido incansavelmente Richard Cordara, advogado da empresa. Em jogo estava uma peculiaridade da lei britânica. A empresa queria, e conseguiu, ver seu produto – que possui apenas 42% de batata em sua formação – ser classificada como um alimento e não como um supérfluo. Para a Procter, a decisão era fundamental. Com isso, ela deixa de pagar 17,5% de imposto sobre as vendas na Inglaterra – o governo não informou se irá contestar a decisão – e passa a ter alíquota zero. O protesto da fabricante já havia até ganhado outros mercados. Em países como Chile e Venezuela, a companhia tem conseguido, silenciosamente e dentro da lei, ser inserida em categorias em que a mordida no caixa é menor. É uma forma de engordar a receita bruta sem vender uma “não-batatinha” a mais.
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Principal produto da PEPSICO no mundo, a lay’s pode até se beneficiar da polêmica decisão |
Se para os compradores o episódio é, no máximo, curioso, para a companhia faz diferença. Uma rápida conta mostra isso. As vendas brutas mundiais da Pringles superam US$ 1 bilhão ao ano, segundo relatório sobre o desempenho de 43 marcas realizado pela ACNielsen. Um corte nos impostos, teoricamente, elevaria imediatamente o lucro líquido com as vendas da batata – ops, do salgadinho. Em 2007, o grupo pagou quase US$ 4,4 bilhões em impostos e o valor tem representado parcela maior da receita. Em 2005, equivalia a 5,2%, passou para 5,5% no ano seguinte e foi a 5,7% em 2007. Ao pagar menos impostos, a Procter pode repassar o ganho ao cliente ou embolsá-lo. Como o consumo da não-batata frita sobe a todo vapor – dois dígitos ao ano – ela pode até ficar com a diferença. Por aqui, parece que a fabricante não precisará enfrentar a dor de cabeça de uma batalha judicial. “A Pringles é classificada como salgadinho de batata há muitos anos, de acordo com os regulamentos aplicáveis no País. Portanto, nada será alterado no Brasil”, informa a P&G em nota à DINHEIRO. “A P&G acompanha e concorda com a decisão da Suprema Corte.” Bom para ela e a concorrência não reclama. Com 8% das vendas mundiais do salgado, agora as rivais podem sugerir uma recontagem do tamanho do mercado. Seria um prato cheio para a Pepsico, dona da Frito-Lay, que tem perdido terreno para a Bingo. Não é o primeiro caso no mundo em que uma marca pede para não ser chamada daquilo que o mercado acha que ela é. Em abril, a Justiça determinou que o confeito M&M é um bolo e não um biscoito. Ah, então tá…