Após dias de nervosismo no mercado financeiro, com subida das curvas de juros e disparada do dólar, o ex-secretário do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, disse que o movimento não foi puxado pela mudança na meta fiscal do governo, e sim pelo contexto em que houve essa alteração. 

“O problema da semana passada foi a mudança de metas? Não, porque o mercado já esperava dados fiscais piores do que as metas do governo”, afirmou, emendando que o problema foi “o contexto que se deu essa mudança de meta”. 

As declarações foram dadas nesta segunda-feira, 22, no Seminário Brasil Hoje, da Esfera, em São Paulo. 

O dólar e a curva de juros brasileira tiveram dias de alta na semana passada em meio ao cenário externo desfavorável, mas com um aumento das incertezas após o anúncio da equipe econômica sobre mudanças nas metas para as contas públicas em 2025 e 2026. O comunicado veio na segunda-feira, 15, e na prática representa um adiamento dos planos do governo para colocar os números no azul. 

Além disso, há dúvidas sobre a capacidade do governo em cumprir o novo arcabouço fiscal, que entrou em vigor há menos de um ano. Isso porque há uma dependência de aumento das receitas para cumprir a regra, e não se sabe ao certo como isso vai acontecer.

Nesta segunda, Mansueto apontou o ajuste fiscal como um “problema de curto prazo” que o Brasil precisa resolver para possibilitar a continuidade do ciclo de corte na taxa de juros para, assim, atrair investimentos. 

Atraindo investimento privado

Também presente ao evento, Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master, comentou que “o fomento da economia verde, atrelado ao mercado de capitais pode dar um novo salto na economia brasileira”, e destacou que a oportunidade está em criar os produtos e mecanismos financeiros que dêem suporte para essa transição.

“O mercado de capitais brasileiro, apesar de ter um desenvolvimento recente, é maduro”, disse Vorcaro. “O Brasil pode ser um celeiro do mundo para a produção de todo tipo de bens, porque oferecemos uma matriz energéticas quase 80% renovável”. 

Radamés Casseb, CEO da Aegea Saneamento, também se mostrou confiante. “A cada dois anos a gente tem instabilidade de narrativas”, disse ele, citando o cenário político brasileiro, “mas parte disso é ruído”. 

Ele afirma que o trabalho para atrair investimentos inclui “atravessar o ruído, atravessar a neblina, entregar para o investidor a garantia visível de projetos que entregará rentabilidade e modelos retro aplicáveis”. 

Também falando sobre os investimentos no país, Mansueto disse que não se pode esperar que o setor público direcione recursos para isso nos próximos anos. “Não tem folga fiscal”, afirmou ele, acrescentando que “não vai melhorar nos próximos dois anos”. 

Já no cenário para investimento privado, “se a gente tiver a mensagem adequada, o mercado vai fazer o investimento”. “Se a gente acha que é um momento difícil, não é”, afirmou Mansueto, comparando o cenário atual com a inflação da década de 80. “A segunda diferença é que o Brasil hoje é credor em dólar.”