O que era um depósito de livros se transformou em pilhas de lixo. A rede de livrarias Cameron iniciou as limpezas do seu Centro de Distribuição (CD) atingido pelas enchentes em Porto Alegre. As imagens da destruição chocam e dão uma dimensão do prejuízo.

“Já foi removido 100 mil exemplares [em dois dias], é um absurdo”, lamentou o presidente e dono da rede, Delamor D’Ávila Filho em entrevista à IstoÉ Dinheiro.

Ele estima que a parte removida seja apenas um quarto de tudo que foi estragado no estoque do galpão. “Ainda tenho de inventariar para fazer uma estimativa [mais precisa]”, disse.

A Cameron possui outros dois depósitos de livros e um armazém de móveis utilizados em feiras. Os quatro ficam na zona norte de Porto Alegre, uma das mais atingidas pelas chuvas.

Pilha de livros destruídos pelas enchentes, em frente do centro de distribuição da Cameron, em Porto Alegre
Pilha de livros destruídos pelas enchentes, em frente do centro de distribuição da Cameron, em Porto Alegre (Crédito:Delmar D'Ávila/Divulgação)

O presidente da Cameron já dá os móveis como perdidos, e estima um prejuízo da ordem de R$ 2,2 milhões em livros e de R$ 700 mil em marcenaria. Também foram perdidos um caminhão e um veículo Fiat Ducato.

A empresa precisa concluir a limpeza pelo galpão alagado para retomar as atividades de distribuição, inclusive das vendas de livros online, paralisadas desde o início da tragédia climática. 

O Aeroporto Internacional Salgado Filho, localizado em Porto Alegre e com atividades paralisadas por conta das chuvas, abriga três unidades da livraria. Uma delas, no piso térreo, também alagou e teve parte do seu estoque, mobiliário e equipamentos eletrônicos arruinados. Nestas unidades ainda não há previsão para reabertura.

D’Ávila afirma que não fez demissões, mas já estuda como realocar os funcionários das unidades do aeroporto nas demais lojas, localizadas todas em shoppings centers. Há ainda funcionários que não estão conseguindo acessar seus empregos, ilhados pelas chuvas em diversos pontos da região metropolitana.

A Cameron tem 10 unidades na região metropolitana de Porto Alegre.

Livros e produtos destruídos pelas chuvas em loja da Cameron no aeroporto de Porto Alegre
Delmar D’Ávila/Divulgação

Prejuízo e agora queda drástica nas vendas

Nas lojas que não foram atingidas, permanece o impacto da queda drástica nas vendas. D’Ávila afirma que o impacto no faturamento anual apenas será reduzido com a colaboração das editoras. “Se nós não contarmos com o apoio das editoras, nós não voltamos mais”, afirma.

Segundo o empresário, a percepção é compartilhada por outros donos de livrarias do estado. “Tem livraria aqui em Porto Alegre que não tem onde vender amanhã”, diz. O problema se agrava pois muitas mantinham livros em seus estoques das editoras, em formato de consignação. “Nós estamos lutando para que as editoras nos apoiem e reponham esse estoque perdido.”

Apesar do apelo e da luta, segundo D’Ávila, a maior parte das editoras estão colaborando para salvar o setor. “Tem o lado ruim da tragédia, mas tem esse lado bom”, diz.