Após quatro sessões, o dólar à vista voltou a encerrar um dia em queda, abaixo dos R$ 5,40, em uma quinta-feira mais favorável aos mercados de câmbio e juros futuros do Brasil, após falas de autoridades do governo Lula em defesa do equilíbrio fiscal, enquanto no exterior a moeda norte-americana subia ante boa parte das demais divisas.

O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,3680 na venda, baixa de 0,66%. Em junho, porém, a moeda acumula elevação de 2,23%.

+ Veja as cotações

Na sessão anterior, a moeda norte-americana encerrou no maior valor desde a primeira semana do governo Lula, a R$ 5,40, e chegou aos R$ 5,42 na máxima do dia na quarta-feira.

Já o Ibovespa fechou em baixa nesta quinta-feira, após uma sessão sem tendência definida, refletindo alguns ajustes de posições, com B3 entre as maiores pressões de baixa, enquanto Vale representou um contrapeso relevante.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou o dia com variação negativa 0,31%, a  119.567,53 pontos, após tocar 119.170,66 pontos na mínima e 120.222,24 pontos na máxima do dia, conforme dados preliminares.

O volume financeiro somava apenas R$ 16,37 bilhões antes dos ajustes finais.

Investidores seguem receosos quanto ao quadro fiscal, com o fracasso da MP do PIS/Cofins ampliando as preocupações, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que propostas para compensar a desoneração serão discutidas com o Senado na próxima semana.

Após ruídos envolvendo Haddad na véspera, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o defendeu, afirmando se tratar de um “extraordinário ministro”.

De acordo com o analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, a bolsa refletiu a incerteza política e fiscal no Brasil. “O sentimento que prevalece no mercado segue sendo de cautela”, afirmou.

No exterior, Wall Street fechou sem uma direção única, mas o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, subiu 0,23%, renovando máximas. O rendimento do Treasury de 10 anos cedia a 4,25% no final da tarde.

Destaques

– B3 ON recuou 3,08%, tendo no radar números operacionais de maio, com analistas do Safra avaliando que as ações devem continuar pressionadas no curto prazo, considerando o cenário internacional e incertezas sobre volumes.

– VALE ON fechou negociada em alta de 1,15%, acompanhando a recuperação dos preços futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com alta de 0,93%, a 817 iuanes (112,67 dólares) a tonelada.

– PETROBRAS PN perdeu 1,01%, um dia após fechar com uma queda de mais de 2%, mesmo com variações tímidas do preço do petróleo no exterior, onde o Brent fechou com variação positiva de 0,18%, a 82,75 dólares.

– ITAÚ UNIBANCO PN terminou com queda de 1,05%, enquanto BRADESCO PN teve variação positiva de 0,08%.

– EMBRAER ON caiu 1,33%, após renovar na véspera máxima histórica de fechamento, com a alta acumulada em 2024 ao redor de 76%, na esteira de expectativas otimistas sobre novas encomendas de aeronaves.

– RAÍZEN PN avançou 4,87%, destoando da ação de sua holding COSAN ON, que encerrou com variação negativa discreta de 0,08%.

Dólar

No início da sessão o dólar ensaiou novas altas ante o real, com investidores ainda cautelosos quando a situação fiscal, que nos últimos dias foi motivo para queda dos ativos brasileiros. Às 9h19 a moeda norte-americana à vista marcou a cotação máxima de R$ 5,4171 (+0,25%).

Depois disso, as cotações se reaproximaram da estabilidade, ainda que no exterior o viés fosse de alta para a moeda norte-americana ante uma cesta de divisas fortes.

O dólar passou a perder força ante o real de forma mais consistente entre o fim da manhã e o início da tarde, em movimento que coincidiu com a virada para o negativo das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).

Por trás disso estavam declarações consideradas positivas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de ministros.

Em viagem à Suíça, Lula defendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após os ruídos nos últimos dias de que ele estaria enfraquecido no governo.

Segundo Lula, Haddad se esforçou para encontrar uma alternativa de compensação para a desoneração de 17 setores da economia e municípios de pequeno porte — a MP do PIS/Cofins, devolvida ao Executivo pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

“Agora você tem uma decisão da Suprema Corte que vai acontecer. Se em 45 dias não houver um acordo sobre compensação, o que vai acontecer? Vai acabar a desoneração — que era o que eu queria, por isso que eu vetei naquela época”, lembrou Lula. “Então agora a bola não está mais na mão do Haddad; a bola está na mão do Senado e na mão dos empresários.”

Por sua vez, Haddad afirmou no Brasil que o ministério vai auxiliar o Senado na análise de medidas para compensar a desoneração da folha, mencionando que propostas serão discutidas na próxima semana. “Todas as propostas dos senadores serão processadas por nós para encaminharmos a análise de impacto de cada uma delas”, disse.

Haddad também afirmou que a equipe econômica intensificou o trabalho relacionado à revisão de gastos públicos com foco no fechamento do Orçamento de 2025.

As falas de Lula, Haddad e Alckmin ocorreram entre o fim da manhã e o início da tarde, quando o dólar passou a registrar perdas mais consistentes.

Neste cenário, às 15h12 o dólar à vista atingiu a cotação mínima de R$ 5,3628 (-0,76%).

Já no exterior, o dólar seguiu em alta ante as divisas fortes e ante boa parte das demais moedas. O real, juntamente com o peso mexicano e a lira turca, era uma das poucas moedas a ganhar força ante o dólar.

“Alta momentânea”

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou nesta quinta-feira que a alta recente do dólar ante o real é “momentânea” e que o governo tem confiança de que as cotações irão cair.

“Nós temos absoluta confiança que o dólar vai cair, isso é uma coisa momentânea“, disse ele a jornalistas após participar de evento promovido por um grupo ligado à um fundo soberano da Arábia Saudita.

“Isso é momentâneo, transitório e absoluta confiança que teremos um ano forte de crescimento e inflação sob controle“, adicionou ele.

O presidente em exercício chamou a alta do dólar como um movimento equivalente a um espasmo.

“Tenho certeza que a elevação é transitória porque o Brasil tem números e base sólida além de compromisso com a responsabilidade fiscal”, disse.

Segundo ele, a elevação do dólar não deve comprometer a trajetória de queda dos juros, iniciada em 2023. Uma nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) será realizada na próxima semana.

“A expectativa é que continue caindo e não podemos agir por questões transitórias e espasmódicas, passageiras “, disse.

Alckmin evitou, no entanto, citar um “câmbio ideal” para o Brasil.

Na véspera , o presidente Lula causou um relativo alvoroço ao afirmar que o equilíbrio fiscal se daria por aumento de arrecadação. Nesta quinta-feira, Alckmin procurou amenizar a tensão.

“O governo do presidente Lula tem compromisso com o arcabouço fiscal. A questão da MP (do PIS/Cofins) foi exatamente para poder cumprir a responsabilidade fiscal, um compromisso do governo, e, de outro lado, atender uma decisão do ministro (do STF) Cristiano Zanin”, afirmou.

Ele fez também elogios ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem fontes de receita para buscar a meta de déficit fiscal zero este ano.

Questionado sobre cortes de gastos, Alckmin respondeu: “Acabei de falar, melhor eficiência do gasto público possibilitando você fazer mais com menos dinheiro. Imagina os dois lados, um lado receita e outro despesa”.