20/06/2024 - 14:51
Um novo atlas foi publicado neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), porém o material apresenta erros no conteúdo que dizem respeito à formação dos continentes da Terra. A 9ª edição do Atlas Geográfico Escolar entrou em circulação em 9 de abril. O instituto reconhece os erros, diz que fez ajustes na versão digital e que disponibilizará erratas para a versão impressa até o início de agosto.
– O atlas é uma publicação tradicional do IBGE, que contém dados sobre o clima, vegetação, uso da terra, divisão política e regional, características demográficas, indicadores sociais, espaço econômico e das redes, além de diversidade ambiental do Brasil e de mais de 180 países.
políticos e temáticos do Brasil e do mundo. As informações incorretas foram identificadas na página 16 do compilado de mapas. Ela explica a formação dos continentes por meio da Teoria da Tectônica de Placas, os movimentos imperceptíveis das placas tectônicas ao longo do tempo que fizeram os continentes se deslocarem lentamente.
Para complementar a explicação, a página contém cinco mapas representando essas movimentações e os respectivos períodos históricos de cada uma delas: Permiano, Triássico, Jurássico, Cretáceo e Quaternário – formação atual.
Entretanto, as imagens apresentam informações incorretas em suas descrições, com datas incoerentes com os períodos geológicos ali representados. Segundo Marcos Roberto Pinheiro, professor de Neotectônica do Programa de Pós-Graduação em Geografia Física da Universidade de São Paulo (USP), os períodos estariam corretamente representados da seguinte maneira:
Permiano – 251,9 milhões até 298,9 milhões de anos;
Triássico – 251,9 milhões até 201,3 milhões de anos;
Jurássico – 201,3 milhões até 145 milhões de anos;
Cretáceo – 145 milhões de anos até 66 milhões de anos
Além disso, as ilustrações que mostram a movimentação das placas tectônicas e a disposição delas pelo globo nos períodos Jurássico e Cretáceo foram trocadas entre si.
“A imagem do Cretáceo está invertida com a do Jurássico. Deve ter sido um erro na diagramação, que poderia ter sido facilmente percebido se tivesse tido uma revisão apropriada do conteúdo do atlas. Essa imagem do mapa é inspirada numa equivalente disponível no site do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS)”, explicou o professor.
O docente explica ainda que, além da troca entre dois períodos, os anos descritos nas imagens estão errados.
“Em relação à legenda das figuras, que indica as idades de cada estágio de fragmentação dos continentes, as idades estão corretas, mas o período atribuído a essas idades estão incorretos, exceto o Quaternário. A descrição se refere às imagens e não aos títulos”, apontou Marcos.
O especialista detalha que o maior prejuízo com os erros é que os estudantes terão uma percepção errada da história geológica da Terra. “Se não conseguimos entender a história geológica na Terra não conseguimos sequer entender de que forma a vida se estabeleceu na Terra.”
Em nota ao Estadão, o IBGE disse que o Atlas Escolar Geográfico é uma publicação impressa e que, pela primeira vez, conta com versão digital disponibilizada online. O órgão informou que foram produzidas 100 mil unidades do Atlas e, até o momento, cerca de 36 mil unidades físicas distribuídas.
O IBGE disse ainda que em todas suas edições, desde 2002, recebe e analisa correções, que são registradas e consideradas em edições seguintes e que a versão digital facilita as correções. A versão online já teve as correções implementadas e a versão e-book será corrigida até o fim deste mês. O atlas impresso terá sua errata disponibilizada no início de agosto, informou o IBGE.
Brasil no centro do mundo
Outra polêmica envolvendo o atlas desde seu lançamento é a representação do Brasil no mapa-múndi, como foi colocado ao centro do mapa político. O documento destaca também os países integrantes do G20 e dos que possuem representação diplomática brasileira.
Em divulgação oficial, o IBGE disse que essa forma de representação do Brasil no mapa “ocorre em consonância com o momento especial em que o Brasil está presidindo o G20 e é uma oportunidade de mostrar uma forma singular do Brasil ser visto em relação a esse grupo de países e ao restante do mundo.
O professor Marcos Roberto Pinheiro aponta que colocar o Brasil no centro do mapa, do ponto de vista cartográfico, não é exatamente um problema, mas que a ação representa assumir um posicionamento nacionalista, de valorização da própria identidade.
“Colocar o Brasil ou qualquer outro país no centro de um mapa é assumir um posicionamento, como de sua própria importância geopolítica. O Brasil não é o primeiro país que se coloca no atlas nacional como o centro do mundo. Nenhum país está no centro do mundo, até porque não existe centro do mundo, ele é só uma abstração”, comentou Pinheiro.
Na data de entrega do material didático, o presidente do Instituto, Márcio Pochmann, publicou na rede social X, antigo Twitter, informações a respeito do novo atlas. Ele participou da entrega do livro junto ao presidente Lula (PT) e outras autoridades. Na publicação, destacou que “o IBGE distribui um exemplar impresso para todas as escolas públicas do Brasil, usando seus próprios recursos”.
Também disse que, apesar do pouco recurso para distribuição do material, ele deveria ser fornecido, sendo uma unidade, para todos os alunos do ensino público no Brasil e ainda ressalta outros meios de propagação para o atlas.
“Além de um exemplar para cada estudante, o Atlas deveria ter mais exemplares nas bibliotecas, nas instituições públicas e em cada local coletivo deste país. O que inclui espaços públicos em que uma publicação de referência sempre pode ser lida. Dessa forma, entregar simbolicamente para o presidente Lula é buscar universalizar esse documento. Que essa distribuição possa contemplar a todos. E que o Atlas, assim como outros documentos do IBGE, possam ser fonte de informação, mas também de conhecimento da realidade”, disse Pochmann na oportunidade.