20/06/2024 - 17:26
Nem mesmo a decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na véspera, que fez o dólar chegar a cair 1% no início do dia, evitou que a moeda norte-americana fechasse novamente em alta nesta quinta-feira, 20, no maior patamar em quase dois anos, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar a criticar o BC e com o avanço firme das cotações também no exterior.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,4618 na venda, em alta de 0,39%. Esta é a maior cotação de fechamento desde 22 de julho de 2022 — ainda no governo Bolsonaro — quando encerrou a R$ 5,4976.
O Ibovespa também teve alta nesta quinta, sustentada pelo avanço de Petrobras, enquanto a reação positiva à decisão unânime do Banco Central de manter a Selic em 10,50% ao ano se mostrou frágil após novas críticas do presidente Lula à autoridade monetária.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com acréscimo de 0,15%, a 120.445,91 pontos, após chegar a 121.606,64 pontos na máxima pela manhã. No pior momento, chegou a 120.156,30 pontos. O volume financeiro somou R$ 21,1 bilhões.
O dólar ao longo do dia
No início da sessão, o dólar registrou uma queda firme ante o real, com o mercado aliviando parte das pressões recentes após a decisão unânime do Copom, de manter a taxa Selic em 10,50% ao ano, encerrando um ciclo de sete cortes consecutivos de juros.
Às 9h02, logo após a abertura, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de R$ 5,3879 (-0,97%).
“O mercado abriu bem positivo, refletindo a decisão do Copom de ontem (quarta-feira), que foi unânime, e tirando um pouco do risco de alta da Selic (à frente), que vinha sendo precificado”, comentou durante a tarde Felipe Garcia, chefe da mesa de operações do C6 Bank. “Tanto é que os juros (futuros) curtos fecham mais que os longos. O câmbio foi na mesma linha, abrindo com a queda do dólar”, acrescentou.
Ao longo da manhã, no entanto, ficou claro que o alívio nas cotações seria limitado. Profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que a alta da moeda norte-americana no exterior e as preocupações persistentes sobre o equilíbrio fiscal brasileiro seguravam a queda do dólar.
A moeda norte-americana virou para o positivo pouco depois das 12h, enquanto Lula dava entrevista a uma rádio do Ceará. Nela, ele voltou a questionar a autonomia do Banco Central e disse que a decisão de quarta-feira do Copom, interrompendo o ciclo de cortes da Selic, “foi uma pena” para o Brasil.
A virada do dólar para o positivo coincidiu com a desaceleração do Ibovespa, em especial entre as ações sensíveis à curva de juros brasileira, e com a redução da queda dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).
Às 13h31, o dólar à vista atingiu a cotação máxima de R$ 5,4698 (+0,53%). Depois, a moeda encerrou ainda na faixa dos R$ 5,46.
No exterior, o dólar também sustentava ganhos firmes ante uma cesta de moedas e em relação à maioria das demais divisas.
Às 17h22, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,41%, a 105,640.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de agosto.
Ibovespa
O desfecho da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC na quarta-feira trouxe algum alívio a receios no mercado sobre um componente político na decisão, que cresceram após ataques de Lula mais cedo na semana ao titular da autarquia, Roberto Campos Neto.
Novas declarações do presidente da República nesta quinta-feira, lamentando o resultado, porém, minaram o tom mais positivo, uma vez que permanecem preocupações entre agentes financeiros sobre como será a atuação do BC após o término do mandato de Campos Neto à frente da autoridade monetária.
Lula afirmou em entrevista a uma rádio que o presidente da República não se mete nas decisões do Copom, mas questionou a autonomia da autoridade monetária, acusando-a de servir aos interesses do mercado financeiro. “A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro… nos especuladores.”
Em nota divulgada após o anúncio da decisão, a equipe do C6 Bank afirmou que, considerando as projeções de inflação do BC, não haveria espaço para novos cortes de juros.
De acordo com o gestor Felipe Martins Passero, sócio da InvestSmartXP, o mercado reagiu mal às falas de Lula, atacando as decisões técnicas do BC e também defendendo a indexação do salário mínimo ao PIB, o que contribui para um aumento drástico dos gastos públicos.
Vale notar que, ainda na quarta-feira, o Ibovespa já tinha mostrado melhora na parte final do pregão, em uma sessão de liquidez bastante reduzida por feriado nos Estados Unidos.
Apesar do alívio, a visão do analista econômico Lucas Farina, da Genial Investimentos, é que a dúvida sobre a sucessão da presidência do BC continuará a alimentar incertezas do mercado acerca da condução futura da política monetária daqui em diante, conforme relatório a clientes.
No exterior, Wall Street fechou sem uma direção única, com o S&P 500 encerrando com uma variação negativa de 0,25% após renovar máxima histórica intradia. Os rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro norte-americano, por sua vez, marcavam 4,2575% no final da tarde, de 4,217% na véspera.
Destaques
– PETROBRAS PN avançou 1,59%, em dia de alta do petróleo no exterior e pagamento de dividendo pela estatal. Agentes financeiros também repercutiram declarações da nova CEO da companhia em sua posse na véspera, bem como do presidente Lula, que defendeu que a empresa amplie os investimentos para ser uma indutora do desenvolvimento nacional, mas que ninguém quer que os acionistas tenham prejuízo.
– USIMINAS PNA subiu 3,68%, com o setor siderúrgico como um todo entre os destaques positivos, com CSN ON terminando com acréscimo de 1,96% e GERDAU PN fechando em alta de 0,99%.
– MARFRIG ON valorizou-se 2,3%, mantendo o tom positivo recente, tendo como pano de fundo declaração do Ministério do Comércio chinês nesta quinta-feira de que o país pode impor medidas antidumping provisórias sobre as importações de carne suína da União Europeia como parte de uma investigação de um ano que começou em 17 de junho. BRF ON, que tem a Marfrig como sua principal acionista, subiu 1,45%.
– MRV&CO ON caiu 4,23%, revertendo os ganhos da abertura, conforme as taxas de DI saíram das mínimas, o que pesou em ações sensíveis a juros. o índice do setor imobiliário chegou a subir pela manhã, mas fechou em baixa de 0,84%. No mesmo contexto, o índice do setor de consumo da B3, que inclui os papéis de companhias aéreas e nomes de varejo, educação, alimentos, entre outros, cedeu 0,38%.
– VALE ON avançou 0,9%, descolada da fraqueza dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange encerrou as negociações diárias com queda de 0,36%, a 824,5 iuanes (113,56 dólares) a tonelada. A mineradora também estimou nesta quinta-feira aumento da produção de cobre e níquel em 2026 em relação ao estimado anteriormente após revisão de ativos.
– ITAÚ UNIBANCO PN perdeu 0,68% e BRADESCO PN encerrou em baixa de 0,24%, acompanhando o enfraquecimento de ações ligadas à economia doméstica na bolsa.