Uma seca severa, que durou quase três anos, seguida de chuva de granizo em 2016, destruiu o manguezal do Piraquê-Açú-Mirim, em Aracruz, no Espírito Santo. O cenário impactou a biodiversidade local, a economia das famílias da região e o ambiente.

No início deste mês, porém, a região começou a ser reflorestada por um projeto da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em conjunto com a comunidade ribeirinha, pescadores artesanais, marisqueiros, catadores de caranguejo e o município. A ação é inédita e visa a recuperar pelo menos 200 hectares dos 500 que foram destruídos.

O manguezal, que envolve povos indígenas e comunidades tradicionais no entorno, passou por diversas situações críticas nos últimos anos, muitas delas por fatores biológicos e por conta das mudanças climáticas. Em 2005, por exemplo, a doença do caranguejo letárgico afetou a fauna local.

Quase 10 anos depois, a vazão dos Rios Piraquê Açú e Piraquê Mirim foi diminuída pela seca, o que elevou a salinidade do ambiente e fragilizou a vegetação, que, ao ser atingida por granizo, teve um grande trecho afetado, o que afastou caranguejos, guaiamuns e mariscos, que serviam de comida para peixes e mamíferos.

Mônica Tognella, criadora do projeto, diz que, com a morte da flora, o caranguejo-uçá migrou para outras florestas. “Nossos estudos nas demais áreas íntegras do manguezal no estuário não identificam aumento de densidade, significando que esta fauna foi eliminada destes bosques”, conta.

Segundo Aladim Fernando Cerqueira, secretário do Meio Ambiente de Aracruz, o manguezal perdido corresponde a 25% do que compõe a Reserva da Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Piraquê-Açú-Mirim, uma área total de 2.038 hectares. “Na reserva estão centenas de famílias que vivem da pesca e perderam boa parte da fonte do sustento.”

Joceli da Conceição, conselheiro da RDS, ainda lembra como foi a chuva de granizo. “Foi muito difícil, furou as casas todinhas, desabrigou muita gente. Morreu peixe no rio, morreu tudo.” A devastação foi ainda maior porque o caranguejo é um dos principais recursos econômicos da região. “Muita gente precisa viver do manguezal. Eu penso no futuro dos meus netos, dos sobrinhos”, enfatiza Joceli.

Mônica Tognella e outros 13 pesquisadores de programas de pós-graduação em Agricultura Tropical, Biologia Vegetal e Oceanografia Ambiental buscam, junto de outras universidades, atestar quais foram os tensores que levaram o manguezal ao estágio atual.

Pelo menos três espécies diferentes de mangue estão sendo utilizadas para o reflorestamento. Entre elas, o mangue branco, o preto e também o vermelho, que era a espécie dominante da área. “Com as mudanças ambientais que levaram ao aumento da salinidade no local do mangue morto, estamos implantando também as demais espécies que possuem maior plasticidade para salinidades mais elevadas”, comenta Tognella. O objetivo é deixar a floresta em pé novamente, para que a matéria orgânica que sustenta a cadeia alimentar do manguezal seja restabelecida. O prazo do projeto é de 24 meses para cobrir até 200 hectares de mangue. Para cada hectare, a estimativa inicial é utilizar cerca de 2,5 mil mudas, totalizando 500 mil. Mas a área morta é maior.

Por isso, o projeto quer capacitar e financiar a comunidade local para continuar a restauração. “Assumimos que o processo levará pelo menos uma década para poder ser considerado em desenvolvimento regenerativo”, afirma a pesquisadora.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.