30/06/2024 - 5:11
Dentro de poucas semanas, o breaking vai estrear nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 – uma ascensão meteórica para uma atividade que há cinco décadas mal existia.
O breaking da forma como vai ser disputado nas Olimpíadas tornou-se popular nos Estados Unidos na década de 1970. Essa forma de expressão nasceu nas animadas festas negras de rua no bairro do Bronx, em Nova York, quando os dançarinos improvisavam movimentos estilizados e giros ao som dos DJs.
O estilo acrobático da dança tornou-se rapidamente um dos quatro pilares da cultura hip hop, juntamente com o “DJing” (técnica de selecionar e mixar músicas), o “MCing” (rap ou uso da fala rítmica) e o grafite.
Os dançarinos eram conhecidos como ‘b-boys’ e ‘b-girls’, e a sua prática era mais do que um esporte; contribuía também para a construção de uma comunidade.
Das ruas para o palco principal
Embora a popularidade do breaking tenha crescido no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, a atividade não era necessariamente recomendada pelos especialistas.
De acordo com um artigo do New York Times de 1984, “vários médicos” alertavam que a “moda” era perigosa, porque podia “levar o corpo para além de sua resistência, provocando rupturas de ligamentos, ossos partidos e lesões ainda mais graves”.
“Se os bailarinos não estiverem em forma ou não tiverem a flexibilidade dos jovens breakers, segundo os médicos, podem acabar sofrendo lesões graves”, publicou o jornal norte-americano.
Mas tais argumentos não seriam um obstáculo à inclusão do breaking na lista de Jogos Olímpicos, uma vez que a competição internacional inclui uma série de esportes associados a elevados riscos de lesões, como o boxe e as corridas de ciclismo BMX.
Como o breaking se popularizou
No mesmo ano do artigo do NYT, os New York City Breakers (grupo formado no Bronx) apresentaram-se para o presidente dos EUA, Ronald Reagan, durante a premiação Kennedy Center Honors de 1984. Como o espetáculo foi transmitido a nível nacional, a performance de breaking chegou a milhões de pessoas em todos os Estados Unidos.
À medida que a popularidade do breaking aumentava, também crescia o seu elemento competitivo. As batalhas entre equipes rivais ou dançarinos individuais tornaram-se uma parte central da cultura, com os artistas competindo entre si para mostrarem suas habilidades.
As batalhas de dança também se tornaram uma ótima alternativa às outras tentações ou provocações nas ruas de Nova York. Espontaneamente, foi através da cultura popular e das paradas de sucessos musicais da Billboard que a dança brilhou.
Entre os hits mais notáveis, destaca-se o single de estreia dos Run-DMC de 1983, “It’s Like That”, que foi remixado em 1997 pelo DJ de house Jason Nevins e se tornou um sucesso internacional. O clipe, que mostrava equipes de breaking masculinas e femininas competindo entre si, também inspirou pessoas do mundo todo a aprenderem os movimentos.
As primeiras competições internacionais aconteceram na década de 1990, popularizando a dança à medida que cresciam os pedidos para incluí-la em eventos esportivos.
Nos anos 2000, começaram os argumentos para a inclusão do breaking nos Jogos Olímpicos. Em 2018, um grande avanço nesse sentido foi a inclusão da modalidade nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires, na Argentina.
Um ano depois, em 2019, o comitê organizador de Paris 2024 propôs incluir o breaking pela primeira vez no programa olímpico. No final de 2020, a modalidade foi confirmada nos Jogos de 2024 pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
Inclusão controversa
Os breakers pressionaram pela inclusão da dança de estilo competitivo, argumentando que o elevado valor de entretenimento do esporte faz dele um acréscimo atrativo para os Jogos Olímpicos.
“Vai ser ótimo para o breaking, porque nos dá mais reconhecimento como esporte”, disse o dançarino britânico Karam Singh à BBC após o anúncio do COI. “E para os Jogos Olímpicos, vai atrair jovens que talvez não acompanhem alguns dos esportes tradicionais”.
No entanto, o ceticismo quanto à justificativa para a sua inclusão manteve-se, com artigos de opinião que vão desde a perplexidade à indignação.
E apesar de a inclusão do breaking nos Jogos Olímpicos estar sendo amplamente comemorada pela comunidade, há também aqueles que estão preocupados com a possibilidade de a dança estar se tornando muito mainstream, comercial demais para o grande público.
Parte da comunidade teme que os Jogos Olímpicos levem à perda de autenticidade e à desvalorização dos aspectos mais subjetivos do breaking, como a originalidade e o entusiasmo.
“Tem tido um pouco de controvérsia dentro da cena”, disse a b-girl Logan “Logistx” Edra ao jornal americano USA Today. “Basicamente, é sobre garantir que preservemos a essência e a cultura [do breaking]”, acrescentou a atleta olímpica, “e que isso não se perca à medida que progredimos e damos passos em direção os Jogos Olímpicos”.