04/07/2024 - 17:59
A idosa de Caraguatatuba, litoral de São Paulo, que foi vítima de um golpe dado por um grupo de pessoas que se passou pelo ator Arnold Schwarzenegger, conseguiu um acordo na Justiça do Estado para ter de volta R$ 15 mil. Ao longo de dois anos, ela chegou a transferir um total de R$ 238,5 mil para os suspeitos. Os valores foram adquiridos com a venda do veículo, da única casa onde vivia e também por meio de empréstimos bancários.
Aposentada e morando de aluguel, a vítima busca ter todo o dinheiro ressarcido. Na Justiça, onde entrou com uma ação de reparação de danos materiais e morais na 2ª Vara Cível do Foro de Caraguatatuba, ela exige que os golpistas paguem o dobro dos valores transferidos e mais R$ 30 mil por danos morais.
Até o momento, ela conseguiu um acordo com um dos 12 suspeitos que são réus no processo que corre na esfera cível – o caso também está sendo julgado na esfera criminal. De acordo com a advogada da idosa, Ariele Maria dos Santos, a aposentada conseguiu um acordo com um dos envolvidos para ter R$ 15 mil ressarcidos, em 15 parcelas mensais de R$ 1 mil.
Ainda de acordo com a defensora, um dos suspeitos apresentou a defesa e outros 10 ainda não se apresentaram à Justiça. O réu que entrou em acordo com a vítima teve seu nome retirado do processo, segundo decisão do juiz do caso, Gilberto Alaby Soubihe Filho.
Estamos aguardando uma manifestação do juiz para saber quais serão os próximos passos, se devemos apresentar mais provas antes de uma sentença final”, disse Ariele. “O processo está em fase de citação. Como tem muitos réus, caminha devagar. Ainda tem outros envolvidos que podem apresentar a defesa.”
O caso que segue na esfera criminal está em segredo de Justiça. Por esse motivo, segundo a advogada da aposentada, não é possível saber se os réus no processo cível são os principais suspeitos de praticar o golpe nem qual a relação deles com a vítima.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o caso é investigado por meio de inquérito instaurado pela Delegacia de Caraguatatuba. “Diligências são realizadas visando à identificação dos autores e esclarecimento dos fatos”, informou a secretaria em nota.
Falso Schwarzenegger alegava divórcio e dificuldade para acessar dinheiro
Conforme a defesa da vítima relatou à reportagem, o perfil falso do Schwarzenegger teria entrado em contato com ela por meio de uma rede social demonstrando, primeiramente, interesse em uma amizade. Quando os suspeitos perceberam que a idosa acreditava estar falando, de fato, com o ator, os pedidos de ajuda financeira começaram ser feitos.
As conversas, segundo a advogada Ariele Maria dos Santos, teriam se iniciado em 2020 e as transferências bancárias se arrastaram por dois anos, até 2022.
A defensora conta ainda que a vítima era fã de Schwarzenegger e teria assistido a todos os filmes do ator. Esse deslumbramento com o artista pode ter contribuído para a vítima ficar mais suscetível à mentira. “Quando os golpistas a abordaram, ela ficou lisonjeada e acreditou que fosse ele”, disse Ariele.
O falso Schwarzenegger alegava estar passando por uma fase de separação da esposa e que não podia ter acesso ao seu dinheiro, razão pela qual pediu ajuda à aposentada, com a falsa promessa de que os valores seriam ressarcidos com juros e em dólares.
Comovida com a história do suposto ator, e acreditando no retorno de um valor acima do emprestado, a vítima chegou a vender a casa, o carro e fez alguns empréstimos bancários, que totalizaram uma perda de cerca de R$238 mil, segundo a Justiça – a polícia informa que o valor seria de R$ 258 mil.
O falso Schwarzenegger afirmava ainda que pagaria pelos empréstimos porque trabalhava em uma empresa de transporte de valores, e que o faria como forma de recompensar toda a ajuda que a idosa estava dando.
De acordo com Ariele, tanto parentes, como o próprio gerente do banco, tentaram alertar a vítima sobre a possibilidade do golpe, mas a expectativa de receber valores acima do emprestado mantinha a idosa acreditando na história.
Ela começou a desconfiar que se tratava de um golpe quando os suspeitos passaram a inventar desculpas para devolver o dinheiro, chegando a cobrar novos valores para o pagamento de taxas necessárias para o ressarcimento e até fazendo ameaças contra a vítima e a sua família, segundo a advogada.
“A ficha dela caiu mesmo quando ela foi à delegacia para prestar depoimento”, disse a Ariele.
Atualmente, a idosa vive da aposentadoria, junto com o marido, e em uma casa de aluguel. Ela aguarda a decisão da Justiça para saber se vai conseguir rever o dinheiro perdido.