montagem sobre foto de Samir Baptista/Ag .IstoE

Sede da GWI, em São Paulo: Mu Hak You, que não gosta de aparecer em público nem concede entrevistas, manteve 600 cotistas

Na mitologia asiática, a ave fênix possui vários significados: desde a convencional simbologia de renascimento até o posto de guardiã do território sul-coreano. Ela é também, desde 2008, a imagem oficial da República da Coreia. Mas, para os imigrantes e descendentes de coreanos no Brasil, esse pássaro tão presente nos folclores do mundo leva um nome e sobrenome: Mu Hak You. Para quem não se lembra, trata-se do controverso gestor do fundo GWI FIA, que, após acumular quatro anos consecutivos de rentabilidade, virou pó no segundo semestre de 2008.

Castigado pela crise, You foi obrigado a fechar temporariamente os fundos comercializados por sua empresa, a GWI Asset Management. Além disso, causou furor no mercado ao mostrarse muito mais ousado do que deveria na estrutura de alavancagem de seus fundos. Mas, como toda boa fênix, o gestor coreano parece rapidamente querer ressurgir das cinzas. Seu GWI FIA já acumula 122% de rentabilidade no ano e a gestora criou, em junho, um outro produto para ajudar na reconstrução do patrimônio líquido do fundo de ações. Apesar de terem acumulado 98% de prejuízo em 2008 e estarem longe da recuperação do dinheiro perdido, os investidores da GWI parecem animados com a retomada e já colocaram mais R$ 13 milhões em suas mãos.

Mu Hak You é conhecido por sua exímia persistência, foco e poder de persuasão. Enquanto, durante a crise, o gestor assistiu às cotas de seus fundos derreterem de R$ 250 mil para menos de R$ 5 mil, poucos investidores realizaram o prejuízo e tiraram os ativos de suas mãos. A GWI mantém uma média de 600 cotistas até hoje. Àquela época, You atribuiu suas perdas a uma espécie de conspiração do mercado. “Assets locais ‘shortearam’ nossos papéis e, com isso, eles caíram demais”, disse ele a seus cotistas em uma assembleia ocorrida no mês de outubro passado. “Shortear”, no jargão do mercado financeiro, significa vender ações a descoberto (ou seja, sem possuir tais ações), apostando sempre na baixa do papel.

A queda provocada pela crise teve um efeito tão bombástico na carteira do gestor devido à alavancagem que ele utilizava, que ultrapassava 150% do patrimônio líquido do fundo em outubro de 2008. Em dezembro, You foi obrigado a tirar toda a alavancagem e recomeçar do zero. Hoje, ela está em 51,4% do patrimônio líquido do fundo. “Ele é um grande gestor.

O único problema é que é viciado em alavancagem”, afirmou Pedro Luiz Cerize, sócio da Skopos Administradora de Recursos, que chegou a conversar com You em algumas ocasiões. Em 2008, You foi taxativo ao dizer que não iria se desfazer dos ativos que compunham a carteira do fundo, sobretudo Lojas Americanas e B2W.

Novo fundo com aplicações de R$ 5 mil em diante ajuda a GWI a recompor o antigo

“Lojas Americanas é a empresa brasileira que tem maior perspectiva para os próximos dez anos”, disse ele na assembleia aos cotistas. No entanto, em dezembro desse mesmo ano, liquidou a maior parte de sua posição em Lojas Americanas. A GWI era dona de 18,2% das ações ordinárias da varejista, mas transferiu 11,67% do total para a Gávea Investimentos, manteve 5% dos ativos e vendeu os 2% restantes no pregão.

Lojas Americanas representa hoje 5,9% da carteira do GWI FIA, enquanto B2W corresponde a 23,3% e a Eletropaulo, 32,5% (leia quadro à pág. 85). Agora, após ter se desfeito de uma parte considerável de sua riqueza pessoal para reerguer seus fundos, You não pensa em desistir. Afirmou a seus clientes que faz aportes periódicos para incrementar o patrimônio líquido do FIA, que em janeiro de 2008 era de R$ 266 milhões e hoje está em R$ 96,2 milhões. Fechado em novembro daquele ano, o fundo de ações reabriu em dezembro com um aporte de R$ 42 milhões da própria fortuna de You e de membros de sua equipe, e passou a ter carência de um ano para resgates.

Em junho, a gestora lançou o fundo de fundos GWI FIC fi, que investe em cotas do GWI FIA. O produto foi criado apenas para os já clientes e permite investimentos a partir de R$ 5 mil. Explica-se: a aplicação inicial para o fundo de ações continua R$ 250 mil e a movimentação mínima para reinvestir é de R$ 25 mil. Como o mar não está para peixe (e nem para fênix), a gestora optou pela criação desse novo fundo, com aportes mais democráticos, com o objetivo de engordar o PL do FIA. Quem investir, terá que esperar dois anos e meio para resgatar. A ave flamejante, ao que parece, ressurgiu. Resta saber se os milhões perdidos no ano passado ressurgirão também.