01/08/2024 - 17:21
O dólar continuou o movimento mais recente de alta ante o real, fechando nesta quinta-feira, 1º, na maior cotação desde dezembro de 2021, acima dos R$ 5,70, em um dia de aversão a ativos de risco em todo o mundo e de reação do mercado doméstico a sinalizações dadas na véspera pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
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O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,7364 na venda, em alta de 1,43%. Esta é a maior cotação de fechamento desde 21 de dezembro de 2021, no terceiro ano do governo de Jair Bolsonaro, quando encerrou a R$ 5,7394. Em 2024, o dólar acumula valorização de 18,24%. Veja cotações
Já o Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, com a piora em Wall Street abrindo espaço para alguns movimentos de realização de lucros na bolsa paulista no primeiro pregão de agosto, enquanto WEG voltou a renovar máximas após sinalizar que as margens devem permanecer resilientes no curto prazo.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa fechou em queda de 0,2%, a 127.395,1 pontos, de acordo com dados preliminares, após tocar 128.761,54 pontos na máxima da sessão. Na mínima, chegou a 127.149,63 pontos.
O recuo ocorre após o Ibovespa acumular em julho uma alta de 3%. O volume financeiro na bolsa nesta quinta-feira somava R$ 23,8 bilhões.
O dólar no dia
A quinta-feira foi marcada pela aversão dos investidores a ativos de maior risco, como o real brasileiro, o peso chileno, o peso mexicano e ações listadas em bolsa, entre outros.
O dólar sustentou ganhos firmes ante a maior parte das demais divisas, em meio a receios de que a guerra entre Israel e Hamas se espalhe pelo Oriente Médio após o líder do Hamas Ismail Haniyeh ter sido assassinado na véspera em Teerã, capital do Irã.
Posteriormente, as Forças Armadas de Israel disseram que o chefe da ala militar do Hamas, Mohammed Deif, foi morto em um ataque aéreo em Gaza no mês passado.
No Brasil, o dólar chegou a ceder durante a manhã em alguns momentos, mas a pressão altista vinda do exterior acabou se sobrepondo. Depois das 11h o dólar iniciou uma escalada ante o real que colocou as cotações acima dos 5,70 reais durante a tarde.
“Depois do ataque no Irã, investidores passaram a buscar ativos de menor risco e mercados mais seguros que o nosso”, comentou Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. “Isso deu força ao dólar.”
Outro fator externo de sustentação do dólar, na visão do diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik, foram os dados decepcionantes do setor industrial chinês, um dos maiores compradores de commodities do Brasil.
“O PMI industrial da China veio com contração. Então há uma preocupação com a saúde da economia chinesa”, pontuou Rugik.
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Caixin/S&P Global para o setor industrial caiu para 49,8 em julho — abaixo da marca de 50 que separa crescimento de contração — ante 51,8 no mês anterior. Foi a leitura mais baixa desde outubro do ano passado e ficou abaixo da previsão de 51,5 de analistas.
Apesar de a aversão ao risco ser global, o real era a moeda que mais se desvalorizava ante o dólar em todo o mundo. Isso porque o dólar também reagia ao comunicado do Copom na noite de quarta-feira, quando a taxa básica de juros foi mantida em 10,50%.
O colegiado pediu cautela “ainda maior” na política monetária, avaliando também que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem impactado preços de ativos e expectativas de mercado, mas não deu sinalizações claras sobre seus próximos passos.
“O movimento do dólar no Brasil está alinhado com o externo, mas está um pouco mais forte aqui em função de vários fatores”, comentou durante a tarde o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.
Segundo ele, ainda que o Copom tenha indicado estar preocupado com os efeitos do câmbio e das expectativas sobre a inflação, o colegiado não demonstrou intenção de subir a taxa básica Selic nos próximos meses — ainda em 2024 ou no início de 2025 — como era esperado por parte do mercado. “Isso é negativo para o real no curto prazo”, avaliou Machado.
A curva de juros brasileira também refletiu esta percepção nesta quinta-feira, com a queda das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) de curto prazo.
Neste cenário, após marcar a mínima de 5,6330 reais (-0,40%) às 11h12, o dólar à vista atingiu a máxima de 5,7453 reais (+1,58%) às 15h59. A moeda fechou o dia muito próxima deste pico.
Às 17h19, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,33%, a 104,390.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024.
O dia do Ibovespa
Nos Estados Unidos, as bolsas chegaram a abrir em alta, mas reverteram o tom, conforme preocupações sobre o ritmo da economia passaram a prevalecer na esteira de dados mais fracos daquela economia. O S&P 500 fechou em baixa de mais de 1%, enquanto o Nasdaq caiu mais de 2%.
Dados do Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) corroboraram o cenário de desaceleração da economia dos EUA descrito na véspera na entrevista do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, mas levantaran dúvidas se o arrefecimento em curso pode ser mais forte que o esperado.
Na visão do gestor de renda variável Tiago Cunha, da Ace Capital, tal performance também se deve a uma redução tática, realizando lucros em posições com boa performance, antes do dado do mercado de trabalho dos EUA na sexta-feira.
O relatório do Departamento do Trabalho, previsto para as 9h30 (horário de Brasília) da sexta-feira, inclui números de julho sobre a criação de vagas na maior economia do mundo, além do comportamento da taxa de desemprego e dos salários, entre outras informações.
Também no radar esteve a decisão do Banco Central no Brasil de manter a Selic em 10,50% na véspera, dizendo que o cenário global incerto e a resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas no Brasil “demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.
Apesar de deixar a porta aberta para aumentos de juros em caso de piora mais persistente do cenário inflacionário, o entendimento no mercado foi de que o BC sinalizou que taxas estáveis são suficientes por enquanto.
A B3 também divulgou nesta quinta-feira a primeira prévia para o Ibovespa que irá vigorar no último quadrimestre do ano, incluindo as ações de Auren, Santos Brasil e Caixa Seguridade, enquanto os papéis da Dexco ficaram de fora.
DESTAQUES
– VALE ON terminou em baixa de 2,24%, seguindo o movimento dos futuros do minério de ferro em Cingapura, onde o contrato de referência caiu 1,46%. Na China, o contrato mais negociado em Dalian, na China, fechou em alta de 2,35%.
– WEG ON avançou 4,3%, para um novo recorde de fechamento de 52,84 reais, mesmo após disparar mais de 10% na véspera, na esteira do resultado do segundo trimestre acima do esperado pelo mercado. Analistas destacaram comentários de executivos da companhia em videoconferência sobre o balanço nesta quinta como o de que esperam que as margens sigam altas no curto prazo. O BofA elevou o preço-alvo de 52 para 60 reais.
– PETROBRAS PN caiu 1,52%, acompanhando a piora das cotações do petróleo no exterior, onde o barril de Brent encerrou o dia em queda de 1,6%. A companhia também anunciou aumento no preço de querosene de aviação.
– AMBEV ON fechou em alta de 1,38%, após reportar Ebitda ajustado de 5,81 bilhões de reais de abril ao final de junho, 10,2% maior que o resultado do segundo trimestre de 2023, com alta de 6,1% na receita. Executivos da fabricante de bebidas também afirmaram que dados de junho e julho mostraram sinais de que a forte queda nos volumes vendidos pela empresa na Argentina no segundo trimestre pode estar ficando para trás.
– DEXCO ON recuou 4,38%, tendo como pano de fundo a primeira prévia do Ibovespa para os últimos quatro meses do ano que excluiu os papéis da sua composição. A queda ocorreu após o papel acumular no mês passado alta de mais de 11%. O balanço da companhia está previsto para a próxima semana, no dia 7, após o fechamento do mercado brasileiro.
– BRADESCO PN avançou 1,29%, em meio a dados do Banco Central sobre a performance de bancos brasileiros em maio corroborando perspectivas positivas para o resultado do banco no segundo trimestre. O balanço será conhecido na segunda-feira, antes da abertura. Ainda no setor, ITAÚ UNIBANCO PN e BANCO DO BRASIL ON, que também reportam na semana que vem, caíram 1,46% e 0,68%, respectivamente.
– AZZAS 2154 ON, ação da empresa resultado da combinação dos negócios Arezzo&Co e Grupo Soma, subiu 3,58% no primeiro dia de negociação com as empresas combinadas e sob o ticker AZZA3. A estreia foi marcada por evento na B3 com o famoso toque da campainha. As redes de varejo de moda anunciaram em fevereiro o acordo para combinação dos negócios.