Após se aproximar dos R$ 5,80 pela manhã, o dólar perdeu força e fechou a sexta-feira, 2, em baixa no Brasil, próximo dos R$ 5,70, acompanhando o recuo da moeda norte-americana no exterior em meio à perspectiva de que o Federal Reserve poderá promover corte maior de juros em setembro.

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O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,7109 na venda, queda de 0,44%, após ter atingido na véspera a maior cotação desde dezembro de 2021. Na semana, porém, a moeda norte-americana acumula alta de 0,93%. Veja cotações.

Às 17h04, na B3, o dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,74%, a R$ 5,7290 na venda.

O Ibovespa também fechou em queda nesta sexta-feira, contaminado pelo viés negativo de Wall Street, após dados mais fracos da economia norte-americana, combinados com resultados e perspectivas de empresas de tecnologia, alimentarem preocupações de uma desaceleração mais forte do que o previsto nos Estados Unidos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,21%, a 125.854,09 pontos, após marcar 128.103,59 pontos na máxima, enquanto, na mínima, chegou a 125.730,94 pontos. Na semana, caiu 1,29%. O volume financeiro somava R$ 24 bilhões antes dos ajustes finais.

O dólar no dia

O principal ponto de atenção na agenda do dia era o relatório payroll do Departamento do Trabalho dos EUA, divulgado às 9h30. O documento mostrou que os EUA abriram 114.000 empregos fora do setor agrícola em julho, depois de 179.000 vagas em dado revisado para baixo em junho.

Economistas consultados pela Reuters projetavam abertura de 175.000 postos de trabalho em julho, depois de 206.000 em junho conforme o dado anterior. A taxa de desemprego nos EUA subiu de 4,1% para 4,3%.

Em um primeiro momento, os dados fracos deram força ao dólar ante o real e fizeram a cotação se aproximar dos 5,80 reais logo após a divulgação: às 9h35 o dólar à vista atingiu a máxima de 5,7948 reais (+1,02%).

Logo depois, porém, o dólar foi ladeira abaixo ante o real, em sintonia com a perda de força quase generalizada da moeda em todo o mundo. O movimento acompanhou a forte queda dos rendimentos dos títulos norte-americanos após o payroll, com o mercado passando a precificar chances majoritárias de corte de 50 pontos-base dos juros pelo Federal Reserve em setembro — e não apenas de 25 pontos-base, como os ativos vinham indicando nos últimos dias.

De acordo com o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, o Luciano Rostagno, a forte queda dos rendimentos dos Treasuries pressionou o dólar para baixo, favorecendo divisas como o real.

“Isso ocorre por conta do diferencial de juros (para o Brasil), que tende a aumentar considerando um Fed mais agressivo no corte de juros em setembro”, pontuou Rostagno.

Na prática, com a expectativa de juros mais baixos nos Estados Unidos a partir de setembro e uma taxa básica Selic estável em 10,50% ao ano — como indica a curva de juros brasileira –, o Brasil tende a se tornar ainda mais atrativo ao capital internacional. Isso se traduziu na queda do dólar.

A moeda norte-americana à vista marcou a cotação mínima de 5,6994 reais (-0,65%) às 14h18. A queda do dólar no Brasil estava em sintonia com o recuo da moeda norte-americana ante a maior parte das demais divisas no exterior — o que se mantinha no fim da tarde.

Às 17h32, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 1,08%, a 103,230.

Apesar da queda nesta sessão, o dólar ainda acumulou alta na semana, mantendo-se acima dos 5,70 reais. Profissionais do mercado avaliam que, mesmo com o alívio trazido pelo exterior nesta sexta-feira, outros fatores continuam a dar sustentação ao dólar, como preocupações em torno do equilíbrio fiscal do governo.

“Há componentes domésticos que inibem uma apreciação maior do real”, disse Rostagno.

Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024.

O dia do Ibovespa

O Departamento do Trabalho dos EUA divulgou mais cedo que foram criados 114 mil empregos fora do setor agrícola no mês passado, menos do que os 179 mil em junho (dado revisado para baixo) e as previsões de analistas de 175 mil postos. A taxa de desemprego aumentou de 4,1% para 4,3%.

Apesar de corroborarem apostas de que o Federal Reserve deve cortar os juros nos EUA em setembro, os dados aguçaram os receios com o risco de uma recessão na maior economia do mundo, de que a dosagem do remédio para controlar a inflação norte-amricano pode ter sido excessiva.

De acordo com gestor de renda variável César Mikail, da Western Asset, os números somaram-se aos resultados piores do que o esperado de algumas empresas de tecnologia, com Amazon e Intel ocupando os holofotes desta sessão.

Ele destacou ainda um aspecto técnico nesse movimento mais negativo, após forte valorização nos pregões norte-americanos, citando que o mercado está “overbought” (sobrecomprado). “É natural esse tipo de volatilidade quando vem algo que não agrada”, ponderou.

Em Nova York, o S&P 500 caiu 1,84%, enquanto o Nasdaq fechou em baixa de 2,43%. No mês passado, ambos renovaram suas máximas históricas. Apesar do ajuste de baixa nesta sessão, o S&P 500 ainda sobe mais de 14% no ano, enquanto o Nasdaq tem alta de quase 12%.

O rendimento do título de 10 anos do Tesouro norte-americano recuava a 3,8016%, de 3,978% na véspera.

DESTAQUES

– PETROBRAS PN caiu 3,01%, contaminada pelo forte recuo dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent cedeu 3,41%, a 76,81 dólares. PETROBRAS ON perdeu 3,04%, com outras petrolíferas acompanhando o movimento. 3R ON fechou negociada em baixa de 0,75%, PRIO ON apurou queda de 4,13% e PETRORECONCAVO ON cedeu 2,12%.

– WEG ON recuou 5,72%, em sessão de ajustes após renovar máximas históricas na véspera, repercutindo declarações de executivos sinalizando manutenção de margens elevadas no curto prazo, depois de apresentar um resultado acima das previsões para o segundo trimestre na quarta-feira. A queda ocorre após o papel acumular um salto de mais de 15% nos últimos dois pregões.

– VALE ON caiu 1,39%, em meio a movimento divergente dos futuros do minério de ferro na Ásia, onde o contrato mais negociado em Dalian, na China, fechou em alta de 2,16%, enquanto o vencimento de referência em Cingapura abandonou o sinal positivo e cedeu 0,9%, em meio a um ambiente de preocupações persistentes sobre o atividade econômica chinesa.

– EMBRAER ON perdeu 6,59%, sofrendo com o ajuste generalizado em papéis sensíveis ao mercado externo, principalmente dada a forte valorização no ano. Até a véspera, o papel acumulava uma alta de 87,67%.

– MAGAZINE LUIZA ON disparou 7,13%, beneficiada pela queda nas taxas dos DIs , o que apoiou o avanço de outros papéis sensíveis a juros, como PETZ ON e LOJAS RENNER ON, que avançaram 6,14% e 3,54%, respectivamente. O índice do setor de consumo terminou com elevação de 0,86%.

– EZTEC ON valorizou-se 6,51%, também favorecida pelo alívio na curva de juros, além da avaliação positiva do balanço da construtora, com alta de 17,7% no lucro líquido do segundo trimestre. Entre os papéis do segmento listados no Ibovespa, CYRELA ON subiu 1,78% e MRV&CO ON ganhou 2,13%. O índice do setor imobiliário avançou 0,98%

– BRADESCO PN avançou 0,61%, tendo no radar a divulgação do resultado do segundo trimestre na segunda-feira antes da abertura do mercado, enquanto ITAÚ UNIBANCO PN e BANCO DO BRASIL ON, que também reportam seus números na próxima semana, caíram 1,26% e 0,8%. SANTANDER BRASIL UNIT, que já mostrou seus números, perdeu 3,12%.

– MARCOPOLO PN disparou 10,78%, entre os melhores desempenhos do índice Small Caps, após a fabricante de carrocerias de ônibus divulgar na noite da véspera um salto de 142% no resultado operacional medido pelo Ebitda no segundo trimestre, para 382,3 milhões de reais, com a margem passando de 11,6% para 19,5%.

– MERCADO LIVRE saltou 10,59% em Nova York, onde as ações da gigante do comércio eletrônico são negociadas, após divulgar que seu lucro líquido mais do que dobrou no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, para 531 milhões de dólares, superando as estimativas de analistas.