O Brasil tem registrado recordes seguidos no agronegócio, e o crescimento econômico do setor têm aquecido também o mercado imobiliário nas regiões produtoras do país.

No Centro-Oeste, hoje responsável por 50% da produção de grãos do país, assim como por quase metade da produção pecuária, o número de unidades residenciais lançadas saltou 31,8% entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). Nas vendas, houve aumento de 25,8% no mesmo período.

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O mercado imobiliário e o agronegócio somam juntos mais de 30% do PIB brasileiro e estão profundamente interligados em regiões do Centro-Oeste, explica Eder Henke Nörnberg, diretor de Land Services & Agribusiness da CBRE, consultoria de mercado imobiliário.

“Nessas áreas, o crescimento do agronegócio tem impulsionado a demanda por apartamentos de médio e alto padrão, assim como por condomínios residenciais. Outro fator, derivado do crescimento da renda dessa população, são os investimentos no setor varejista, seja no desenvolvimento de novos shopping centers ou na chegada de grandes redes de supermercados e lojas de rua”, diz o especialista. 

A valorizada Goiânia

Segundo dados da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-GO), a região de Goiânia se consolidou, em 2023, como o terceiro maior mercado imobiliário do país, chegando a R$ 6 bilhões em vendas. E segue crescendo em 2024. No primeiro trimestre deste ano, as vendas cresceram 15,8% relação ao mesmo período de 2023, o que corresponde a R$ 1,3 bilhão em vendas.

Foram lançadas 1.124 unidades nos primeiros três meses do ano e vendidas 1.923 no período. Incluindo os empreendimentos verticais, foram R$ 5,2 bilhões em vendas de imóveis novos em 2022, e R$ 6 bilhões em 2023, ambos recordes dos últimos dez anos.

A capital de Goiás registra treze trimestres consecutivos de valorização no preço dos imóveis na região. Segundo a associação, o boom imobiliário é resultado da combinação tanto da valorização imobiliária como da ampliação do número de unidades. Em 2022, a valorização foi de 23% em média, em 2023 foi de 18%. Para 2024, a expectativa é que se mantenha em torno de 20%.

“Gente de toda a região Centro-Oeste, até do Norte, estão se mudando para Goiânia. Aliado à economia do agro, isso fomenta a circulação de recursos, traz serviços de alto padrão, especialidades médicas, advogados”, diz Felipe Melazzo, presidente da Ademi-GO.

Nos bairros mais nobres, o valor médio do metro quadrado na capital já ultrapassa os R$ 10 mil nos bairros mais nobres, segundo a Associação, superando o preço médio de capitais como Rio de Janeiro e Brasília. E a expectativa do setor é que alcance os R$ 11 mil este ano. “Para empreendimentos em frente a parques e praças, o preço [do metro quadrado] provavelmente será acima de R$ 17 mil”, diz Melazzo.

Se considerados os edifícios comerciais, o aumento no preço médio do metro quadrado foi de 10,5% no primeiro trimestre, contra o mesmo período de 2023, e está próximo dos R$ 14 mil. “Porém, já tivemos lançamentos em 2024 que atingiram a marca de R$ 20 mil por metro quadrado”, diz o executivo.

Levantamento da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) referente à 2023 também aponta para o momento aquecido do setor em na capital de Goiás. No relatório da associação, Goiânia figura, ao lado de Recife (PE), como a capital brasileira com maior valorização no preço do metro quadrado de imóveis.

“A capital goiana tem experimentado nos últimos anos um grande processo de valorização no mercado imobiliário, refletindo o sólido crescimento econômico do estado e a consolidação da capital como um polo que oferece tanto oportunidades de emprego quanto qualidade de vida”, afirma a Abrainc.

Muitas desses imóveis são comprados não só com fins de moradia ou comércio, mas também para investimento. Na avaliação de Melazzo, além do impulso dado pelo agronegócio, a região da capital ainda oferece qualidade de vida, tranquilidade, com boa segurança pública e infraestrutura.

Fazendeiros ‘migram’ com famílias para casas de luxo

A Opus Incorporadora, que atua no nicho de luxo na região, projeta um crescimento de 10% em seu volume de vendas. No projeto mais recente, um espigão com imóveis com 355 metros quadrados, quatro suítes, com diferencial de vagas na garagem que comportam caminhonetes de grande porte.

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“O cliente do agronegócio hoje tem utilizado muito a tecnologia a seu favor, não tendo mais a necessidade da parte administrativa das fazendas ficarem junto do operacional. Então, os grandes fazendeiros ou pecuaristas têm procurado Goiânia como sede administrativa do seu negócio, e tem vindo juntamente com a família”, afirma Gabriel Santos, gerente comercial da Opus.

Na Brasal Incorporações, a metragem é menor, mas o conceito luxo mantém presença. Todas as 375 unidades do projeto Storya Casa Versátil, com plantas entre 34m² e 48m² em bairro nobre da cidade, foram comercializadas assim que lançadas.

No mesmo bairro nobre do Storya, o Smart Parque Areião, também na categoria compactos da EBM Desenvolvimento Imobiliário, teve 100% das unidades vendidas no lançamento, isso após a incorporadora registrar a venda de todas as unidades de outro projeto, o Blend SmartStyle, em seis horas.

World Trade Center Goiânia

A marca internacional World Trade Center (WTC) também apostou na região. E ganhou. 40% das lajes comerciais da torre corporativa foram adquiridas por empresas do agronegócio, revela a Consciente Construtora e Incorporadora, responsável por um dos projetos no WTC.

“Nos nossos contratos, muitas das negociações envolvem pagamentos em períodos de safra e de safrinha, por exemplo”, diz Camila Inácio, diretora de Empreendimentos da Consciente. Camila conta ainda que foram oito pesquisas de mercado para o projeto no WTC.

Todas as mais de 500 unidades comerciais da construtora e incorporadora no local se esgotaram em três meses, sendo que 90% delas foram vendidas em 30 dias. “E já tem uma fila de espera, para casos de desistências, por exemplo”. E das cinco lajes corporativas, com aproximadamente 800m2, quatro foram compradas por empresas agropecuárias.

Rio Verde e Sinop

A quase 200 quilômetros de Goiânia, e a quarta maior cidade do estado, Rio Verde também vê seu urbanismo impactado pelas boas safras. Com a maior participação no PIB agropecuário de Goiás, a cidade lidera na produção de suínos, grãos de milho e soja no estado e, nacionalmente, está é a sexta maior produtora de suínos e frangos. A população da cidade cresceu quase 30% entre o Censo de 2010 e de 2022, hoje em 225 mil habitantes.

Por lá, o Parque do Interlagos é, não apenas um marco da cidade, mas um símbolo do avanço imobiliário. Além da recente inauguração de um residencial de alto padrão batizado com seu nome, a orla do lago que faz parte do parque tem sido disputada. São dois grandes prédios residenciais prontos, outros quatro em construção e a previsão de mais três lançamentos para este ano. “Tudo isso na orla do parque”.

Com pouco menos de 200 mil habitantes e 44 anos de emancipação, Sinop é conhecida como Portal do Agronegócio. A cidade está a cerca de 500 quilômetros da capital Cuiabá. Mas sua localização no norte do estado de Mato Grosso, na fronteira da Amazônia, fica estrategicamente na direção de Rondônia, Tocantins, Goiás e do sul do Pará, e a tem feito despontar como um polo agro da região, não só produtor, mas logístico.

Como está às margens da BR-163, principal via de escoamento de grãos da região, sendo o principal ponto de apoio para porto de Santarém, no Pará. A cidade conta ainda com um importante aeroporto regional, que serve de ligação para outras regiões no Norte e no Centro-Oeste do território brasileiro, por onde passaram 305,1 mil de passageiros em 2022.

Sinop registrou aumento de 48,4% em área construída entre o primeiro semestre de 2023 e de 2024, de acordo com registros da prefeitura, que mostram ainda 1.537 autorizações de obra até julho deste ano. Entre 2020 e 2024 a cidade ganhou 57 novos bairros.

Atualmente, são 14 empreendimentos verticais em andamento na cidade, com projeção de 1.600 novos apartamentos, e outros 31 projetos em análise de viabilidade pela Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação. Entre

Everton Medeiros, advogado especialista em Direito Imobiliário que atua em Sinop, explica que o agro tem sido “um acelerador do mercado imobiliário” na região, que, aliado a um novo plano diretor lançado na cidade, que permite agora prédios sem limite de andares na área central e de até 25 andares em avenidas, tem levado a um forte impulsionamento desse setor.

“Sinop cresce em média 10% ao ano e, pela distância da capital, a torna um polo regional, conhecida como ‘Capital do Nortão’. E esse boom do mercado imobiliário também é sentido em outras cidades lideradas pelo agro, como Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Primavera do Leste, Campo Novo do Parecis e Sapezal, que figuram no ranking do Ministério da Agricultura e Pecuária, entre os 100 mais prósperos no agronegócio brasileiro”, diz.

A cidade também vai ganhar um projeto da marca WTC. O prédio principal – são 10 no total – terá 106 metros de altura, com 180 salas comerciais de 72m2 a 98 m2, restaurantes e espaços para eventos distribuídos por 25 andares e quase 37 mil metros quadrados de área total. No topo, um restaurante com espaço de 900m2 com vista panorâmica.

O WTC é o destaque de uma série de outros empreendimentos da catarinense Haacke, que decidiu apostar nessa região. São condomínios residenciais e comerciais não só em Sinop, mas em Sorriso, vizinha a 100 quilômetros, e Primavera do Leste, e até mesmo cruzando a fronteira, em Luiz Eduardo Magalhães (BA).