O dólar à vista voltou a subir nesta terça-feira, 3, ante o real, na esteira do movimento de alta da moeda norte-americana no exterior, após a divulgação de dados fracos sobre a indústria dos EUA e a queda firme do petróleo e do minério de ferro.

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O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre, bem acima do esperado, chegou a dar algum alento para o câmbio no início do dia, mas não o suficiente para o dólar se manter em baixa.

O dólar à vista fechou em alta de 0,48%, cotado a R$ 5,6439. No ano, a divisa acumula elevação de 16,33%. Veja cotações.

Às 17h05, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,50%, a R$ 5,6595 na venda.

Já o Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira, pressionado pelo tombo das ações da Vale na esteira da queda dos futuros do minério de ferro na China, enquanto Azul disparou, experimentando uma trégua na pressão vendedora dos últimos pregões por preocupações com seu endividamento.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,41%, a 134.353,48 pontos, tendo marcado 134.171,3 pontos na mínima e 135.010,55 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somava R$ 22,48 bilhões antes dos ajustes finais.

O dólar no dia

Antes da abertura dos negócios, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB cresceu 1,4% de abril a junho deste ano, na comparação com o primeiro trimestre. O resultado ficou bem acima da expectativa, conforme pesquisa da Reuters, de alta de 0,9%.

Foi o crescimento mais forte desde o quarto trimestre de 2020, período de recuperação da pandemia de Covid-19, quando o PIB avançou 3,7% na comparação trimestral.

Os números fortes do PIB fizeram as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) de curto prazo subir, em meio à leitura de que o Banco Central será de fato obrigado a elevar a taxa básica Selic este mês para segurar a inflação.

Como uma Selic mais alta em tese favorece o real, o dólar cedeu no Brasil no início do dia. Às 10h07, a moeda norte-americana à vista atingiu a cotação mínima de 5,5771 reais (-0,71%).

O movimento, no entanto, não se sustentou, com o dólar passando a subir ante o real na esteira do avanço da divisa dos EUA ante outras moedas de emergentes e exportadores de commodities no exterior.

“O PIB do Brasil veio forte, com tendência de aumento de juros aqui e possibilidade de corte de juros nos EUA. Isso fez preço no câmbio mais cedo”, comentou durante a tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “Agora o dólar acompanha o mercado internacional, que vive um dia de fuga de ativos de risco em função de números piores da economia norte-americana”, acrescentou.

O Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) informou pela manhã que seu Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) industrial subiu para 47,2 em agosto, de 46,8 em julho. Apesar da alta, a leitura abaixo de 50 seguiu indicando contração no setor industrial, que responde por 10,3% da economia dos EUA.

As fortes baixas do petróleo e do minério de ferro no mercado internacional eram outro fator de pressão sobre as moedas de países exportadores de commodities, como o Brasil.

Durante o dia o petróleo cedia perto de 5%, enquanto o contrato de janeiro de minério de ferro mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE), da China, encerrou as negociações do dia com perda de 4,74%, a 703,5 iuanes (98,87 dólares) a tonelada, com a maior queda desde 31 de outubro de 2022.

Neste cenário, o dólar à vista marcou a máxima de 5,6539 reais (+0,65%) às 11h52.

“O dólar acompanha o ambiente global de aversão a risco, com o ISM fraco nos EUA, em conjunto com a queda das commodities”, resumiu Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.

No fim da tarde, o dólar seguia em alta ante uma cesta de divisas fortes e ante boa parte das moedas de emergentes. Às 17h15, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,13%, a 101,790.

Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024. O BC não realizou nenhuma operação extra de swaps nesta sessão.

 O dia do Ibovespa

De acordo com o Vitor Hugo, sócio e advisor da Blue3, Vale ditou a performance do Ibovespa, fortemente influenciada pelo tombo neste começo de semana no minério de ferro em Dalian, na China, dada a perspectiva de falta de prosperidade econômica na segunda maior economia do mundo.

Os preços do petróleo no mercado externo, acrescentou, tampouco ajudaram, com o contrato Brent fechando em queda de quase 5% após sinais de um acordo para resolver uma disputa que interrompeu a produção e as exportações de petróleo da Líbia.

O pregão brasileiro também foi contaminado pelo viés negativo em Wall Street, com dados alimentando preocupações com o ritmo de desaceleração da economia norte-americana, enquanto agentes financeiros aguardam um corte no juro dos Estados Unidos neste mês. O S&P 500 fechou em baixa de 2,1%.

A sessão ainda refletiu a repercussão da expansão do PIB brasileiro acima do esperado no segundo trimestre. De acordo com o IBGE, a economia cresceu 1,4% no período de abril a junho na comparação com o primeiro trimestre, resultado mais forte desde o quarto trimestre de 2020 e acima do esperado (-0,9%).

Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o PIB teve avanço de 3,3%, contra expectativa de 2,7%.

“A economia brasileira cresceu em ritmo bastante acelerado na primeira metade do ano, puxada pela demanda doméstica”, destacaram economistas do Bradesco, acrescentando que o consumo seguiu firme na esteira do mercado de trabalho aquecido que vem garantindo ganhos reais de renda.

“O aumento da confiança tem sido importante para explicar o desempenho dos investimentos”, acrescentou a equipe chefiada por Fernando Honorato. “Nossa expectativa ainda é de desaceleração do PIB na segunda metade do ano, mas a surpresa com a divulgação de hoje sugere que esse movimento poderá ser gradual.”

Em meio aos dados, as taxas dos contratos de DI de curto prazo ficaram perto da estabilidade ou em leve alta, em razão de preocupações com pressão inflacionária, o que alimenta apostas de que o Banco Central pode elevar a taxa Selic neste mês.

DESTAQUES

– VALE ON caiu 3,73%, acompanhando o movimento dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com perda de 4,74%.

– PETROBRAS PN recuou 1,21%, na esteira dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent despencou 4,9%. No setor, PRIO ON cedeu 5,16%, 3R perdeu 5,28% e PETRORECONCAVO fechou em baixa de 2,1%. A ANP também divulgou que a produção de petróleo do Brasil recuou em julho.

– AZUL PN avançou 10,2%, experimentando uma trégua na pressão vendedora dos últimos pregões em razão de preocupações com o endividamento da companhia. Em três sessões até a véspera, o papel acumulou queda de 39%. Na segunda-feira, a S&P cortou a classificação de crédito de emissor em escala global da Azul para “CCC+” de “B-“, com perspectiva negativa.

– BRASKEM PNA subiu 2,38%, tendo como pano de fundo relatório do Bradesco BBI elevando a recomendação das ações para “compra” ante “neutra”, preço-alvo em 24 reais, com os analistas enxergando boa dinâmica de resultados no segundo semestre, risco limitado e proteção contra queda do petróleo.

– ITAÚ UNIBANCO PN valorizou-se 1,62%, enquanto BRADESCO PN fechou com elevação de 1,07%, BANCO DO BRASIL ON subiu 0,91% e SANTANDER BRASIL UNIT fechou com acréscimo de 0,19%.