O União Brasil e o PSD avaliam formar uma aliança na Câmara para fazer frente à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) como sucessor de Arthur Lira (PP-AL). A discussão representa um racha no Centrão e pode levar a disputa pela presidência da Casa para uma decisão no voto, sem consenso entre os partidos.

Essa possibilidade foi discutida na noite desta quarta-feira, 4, em uma reunião da qual participaram o líder do União, Elmar Nascimento (BA), o presidente do União, Antonio de Rueda, e o dirigente nacional do PSD, Gilberto Kassab. O líder do PSD, Antonio Brito (BA), participou de uma parte do encontro por meio de ligação telefônica.

A candidatura de Motta ganhou tração na terça-feira, 3, quando Marcos Pereira (Republicanos-SP) desistiu da disputa e decidiu endossá-lo, após não ter recebido apoio de Kassab. Lira havia dito que poderia lançar Pereira com seu candidato caso ele conseguisse unir MDB e PSD em torno de sua candidatura, e Pereira atribuiu ao presidente do PSD o fracasso dessa estratégia.

A expectativa de Lira, após o movimento de Pereira, era criar uma unidade rápida em torno de Motta, para evitar divisões na Câmara. No entanto, Elmar e Brito mantiveram suas candidaturas, e há uma possibilidade de se unirem mais para frente na disputa, contra o líder do Republicanos.

União e PSD buscam o apoio de PDT, PSB, PSDB/Cidadania e Avante, além do MDB, cujo líder, Isnaldo Bulhões (AL), também aparece com frequência entre os nomes citados para a presidência da Câmara.

Motta, contudo, também espera uma aliança com os emedebistas. O líder do Republicanos tem o aval de seu partido e também recebeu sinalizações de apoio do PL e do PP. Ele se reuniu nesta quarta-feira, 4, com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em encontro que contou com a presença do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PP-PI), seu aliado.

O líder do Republicanos também se reuniu nesta quarta-feira, 4, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em busca de apoio. Ele tem tentado explicar a relação próxima com Nogueira e com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Motta, assim como Elmar, votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Por isso, há uma avaliação de que o PT pode ficar dividido.

Brito é próximo do governo, mas também transita na oposição e é próximo de bolsonaristas, o que também pode levar a uma divisão no PL. Antes da desistência de Pereira, a expectativa era de que Lira anunciasse Elmar como candidato – aliados do líder do União dizem que o deputado alagoano havia se comprometido com ele.

Amigo pessoal do presidente da Câmara, Elmar sofre resistência de petistas por atritos com o PT na Bahia, além de já ter se referido ao partido como “organização criminosa” e de ter chamado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “ladrão”. Deputados dizem ainda que Elmar é inacessível e pouco afável. Diante desse cenário, Lira não tinha certeza da viabilidade da candidatura do líder do União.

Em julho, o Estadão/Broadcast mostrou que Lira já via Motta com mais chance de ganhar votos na Câmara, diante dos problemas enfrentados por Elmar. A candidatura do líder do Republicanos só não tinha sido lançada porque Pereira tinha a preferência no partido.

A eleição para a presidência da Câmara ocorrerá em fevereiro de 2025. Lira não pode se reeleger para mais um mandato no comando da Casa e tenta emplacar um aliado em seu lugar.