O sonho de comprar um imóvel é comum entre muitos brasileiros. No entanto, sair do aluguel e partir para um financiamento nem sempre é a melhor opção em termos financeiros. Como saber então quando vale a pena?

Especialistas consultados pelo site IstoÉ Dinheiro explicam que adquirir a casa própria pode não ser a melhor opção quando se olha apenas o lado financeiro.

“A melhor escolha depende da situação financeira e dos objetivos de cada pessoa”, resume Leandro Lopes, sócio fundador da Septem Capital. “A decisão deve levar em conta tanto os números quanto os aspectos pessoais e familiares, como a segurança financeira a longo prazo e o desejo de ter ou não um imóvel próprio.”

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Até em relação à matemática, o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-SP), Afonso Gomes, destaca que há variáveis a serem consideradas com atenção. “Não é uma conta certinha justinha, porque depende um pouco de como foram as condições da locação, quanto é o valor efetivo do imóvel e mais ainda se a pessoa precisa ou não daquele imóvel”, diz.

A decisão de permanecer no aluguel porém dependerá também da capacidade da pessoa para investir dinheiro em seu futuro todos os meses.

“Hoje, um financiamento imobiliário possui uma taxa de juros que varia entre 10% e 11% ao ano”, explica Lopes. “Se compararmos com o aluguel, que pode variar de 0,25% a 0,35% do valor do imóvel, pagar aluguel tende a ser mais barato, o que pode permitir que você invista a diferença entre o aluguel e a parcela do financiamento.”

Com reajustes anuais, preço do aluguel pode superar financiamento

Para quem já possui um dinheiro suficiente para dar uma boa entrada, um financiamento passa a ser uma opção a ser considerada com seriedade. A advogada especialista em financiamento Daniela Akamine explica que um pagamento inicial robusto ajuda a reduzir o valor total do financiamento.

“Escolher uma modalidade de financiamento com parcelas iniciais semelhantes ao valor do aluguel ajuda a manter o equilíbrio no orçamento”, esclarece a especialista. “Isso permite uma transição suave entre o pagamento do aluguel e o financiamento, sem sobrecarregar suas finanças.”

A especialista apresenta os cálculos dos custos de financiamento e de aluguel para um imóvel de R$ 500 mil. Veja abaixo o comparativo:

  • Financiamento de imóvel de R$ 500 mil
    Entrada necessária: R$ 100 mil
    Parcelas: Ao longo de 360 meses (30 anos), reduziriam mês a mês, começando em R$ 4.488,49 e terminando em R$ 1.144,96
    Valor total: R$ 1.088.915,56
  • Aluguel de um imóvel de R$ 500 mil
    Valor pago hoje: R$ 4.100
    Alta dos aluguéis no ano segundo Índice FipeZap: 8,02%
    Valor pago em 30 anos: R$ 1.476.000

E se eu ficar no aluguel e investir todo mês?

O educador financeiro Thiago Martello recomenda permanecer no aluguel e investir o dinheiro economizado com juros de um financiamento. Ele constrói a seguinte simulação:

  • Em um imóvel de R$ 1 milhão:
    Aluguel médio: R$ 5.000
    Parcela inicial de financiamento: R$ 10.730
    Diferença: R$ 5.730

O especialista recomenda que esta diferença seja investida em uma aplicação com rendimento equivalente ao CDI. Após 14 anos, o investidor acumulará R$ 1 milhão e poderá procurar um imóvel para comprar até mesmo à vista com desconto.

Caso queira continuar no aluguel, o rendimento mensal deste R$ 1 milhão acumulado passaria a ser de R$ 9 mil no CDI. Ao ser mantido o dinheiro em investimentos, em mais 30 anos, será possível juntar R$ 12 milhões.

O especialista destaca no entanto que estes cálculos não se aplicam às casas adquiridas pelo Minha Casa, Minha Vida, já que o programa utiliza subsídios do governo para oferecer parcelas de financiamento mais baratas do que o aluguel, eliminando a diferença que poderia ser investida.

Decisão não deve ser só financeira

“Se você não tiver o hábito de aplicar essa diferença regularmente, pode acabar sem um imóvel próprio, já que estará pagando aluguel indefinidamente”, aponta Leandro Lopes. “Além disso, ao financiar, você tem a vantagem de que o imóvel será quitado em caso de falecimento, graças ao seguro embutido no financiamento, e a sua família ficará com o bem.”

Para quem sonha com a casa própria e não abre mão de adquirir seu imóvel, Afonso Gomes aconselha fazer uma avaliação do seu próprio plano de vida. “A decisão é essa: o que eu preciso primeiro? Preciso de um imóvel? De que tamanho? Faça uma projeção dos próximos anos. É solteiro ou é casado? Não tem filhos? Pretende ter?” exemplifica.

Uma vantagem do imóvel próprio é poder fazer melhorias e reformas no imóvel sempre que desejar, podendo ficar no imóvel sem se preocupar com prazos de renovação de aluguel e risco de ter que desocupar o imóvel no curto prazo. Para esse público, a recomendação geral é ficar sempre de olho também em oportunidades do mercado, sobretudo na região que se deseja morar.

Já quem tem uma vida mais volúvel, ou tenha pretensão de mudar de cidade, bairro ou casa no futuro, um plano de aluguel e investimentos é o mais indicado.